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Quem, afinal, é o grande golpista?

28/04/2016

Quem, afinal, é o grande golpista?

A história da república presidencialista brasileira é uma sucessão de golpes e do desenvolvimento de uma tradição política autoritária.

A república nasceu maculada com o golpe militar que derrubou a monarquia. A república começou com duas ditaduras (Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto).

A República Velha terminou em estado de sítio seguido de um golpe militar.

A Era Vargas começou com um golpe eufemisticamente chamado de "Revolução de 1930" e sediou um golpe dentro do golpe em 1937, eufemisticamente batizado de "Estado Novo".

Um golpe afastou Getúlio Vargas do poder em 1945 e novas eleições foram convocadas.

Em 1964, um contragolpe impediu o golpe orquestrado pelas forças ideológicas e políticas que sustentavam o governo de João Goulart.

Golpe, portanto, não é novidade no Brasil. Novidade é acusar de golpe aquilo que, definitivamente, não é.

Na semana passada, a futura ex-presidente Dilma Rousseff cometeu um discurso no qual se dizia estarrecida porque o vice-presidente conspirava abertamente contra ela. A presidente, que desenvolve a sua própria conspiração, domina tanto a história brasileira quanto o idioma pátrio.

Porque não é novidade o vice tornar-se opositor do presidente. Floriano era vice de Deodoro e seu ferrenho adversário; João Goulart era vice de Jânio Quadros e estava longe de ser aliado; Itamar Franco foi vice de Collor e afastou-se do presidente quando percebeu que a vaca ia para o brejo.

Em todos esses casos, os vices substituíram os titulares e assumiram o poder.

Esse tipo de sucessão nem é tampouco original na nossa história. De 1889 até agora foram dez os vices ou os que estavam na linha sucessória que sucederam os ocupantes do cargo (exemplos: Floriano sucedeu Deodoro; Itamar Franco substituiu Collor).

Um aspecto que, no passado, facilitava o antagonismo entre presidente e vice era a eleição separada. Até 1988, os candidatos eram eleitos separadamente. A atual Constituição unificou o voto numa mesma chapa. Unificou, mas não resolveu o problema, que foi aprofundado pelo presidencialismo de coalizão.

Assim, a escolha do vice atende a um critério de pacto pragmático em vez de um vínculo ideológico ou programático. Só isso explica o PSDB ter se aliado ao antigo PFL para eleger Fernando Henrique Cardoso; e o PT, ao PMDB para eleger Lula e Dilma.

No mesmo discurso em que acusou Temer de conspiração, Dilma disse que um governo liderado pelo vice não seria legítimo porque lhe faltaria o voto popular. A ex-futura presidente omitiu, porém, que ela própria ajudou a escolher o vice, que, por sua vez, ajudou a elegê-la em duas eleições. A legitimidade política do vice é, desse modo, equivalente à da presidente, razão pela qual desde 1891 tal função é prevista na Constituição para garantir a sucessão em caso de vacância definitiva.

Golpe não é a sucessão; golpe é querer nova eleição.

Portanto, quem votou em Dilma votou em Temer. Quem votou no PT votou no PMDB. Quem votou no PT e votou no PMDB legitimou os representantes de ambos os partidos. E quem votou em Dilma também endossou Eduardo Cunha, Renan Calheiros et caterva.

Nessa ópera bufa política, eis a pergunta que fica: quem, afinal, é o grande golpista?

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O impeachment não salvará o Brasil de sua classe política, não salvará a sociedade brasileira de si mesma e nem a absolverá de suas escolhas erradas. A república presidencialista brasileira é uma sucessão de erros, de golpes, de intervenções e do desenvolvimento de uma peculiar tradição política autoritária.

O impeachment, porém, vai tirar do poder um partido fundamentado numa ideologia que tenta controlar não só o governo e o estado, mas que também esforça-se para nos comandar e violar as nossas liberdades de uma forma tão malandra que alguns até apoiam e agradecem o fato de serem controlados em nome de uma causa.

O impeachment deve ser visto apenas como um primeiro passo para o saneamento da nossa cultura política.

No mais, furtando uma frase do Nelson Rodrigues em relação ao teatro, creio que a política "exerce um estranho poder de cretinização, mesmo sobre as melhores inteligências".

E assino embaixo quando o nosso maior dramaturgo afirma: "nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem".

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Complemento de Adriano Gianturco:

Golpe é esta carga tributária
Golpe é ter o sistema fiscal mais complexo do mundo
Golpe é ser o país mais fechado do mundo
Golpe é este direito trabalhista fascista que prende os trabalhadores
Golpe é o judiciário mais caro do ocidente
Golpe é ser um dos países mais violentos do mundo
Golpe é esta saúde estatal africana
Golpe é este sistema de ensino estatal monopolista, ideológico e péssimo
Golpe é a ideologia de gênero colocada na cabeça de nossos filhos
Golpe é este aparelhamento do estado
Golpe é o BNDES que rouba dos pobres e da aos ricos
Golpe é proibir os ambulantes
Golpe é a Copa do Mundo e as Olimpíadas
Golpe é a Petrobras ser estatal
Golpe é o que Brasília nos dá todos os dias
Golpe é a propaganda estatal na mídia
Golpe é ensinar que a política visa o bem comum
Golpe é legislar sobre cada detalhe da minha vida
Golpe é a política

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Comentários de Natan Cerqueira:

Depois de 

- quase 13 décadas de instabilidade 

- praticamente 4 das quais vividas debaixo de ditaduras variadas (sendo quase 1 década de "governos provisórios" sem constituição)

- as restantes 9 recheadas de presidentes que sequer conseguiram terminar seus mandatos

- bem como uma dezena de moedas, 

- várias épocas de hiper ou alta inflação (aliás, a república foi inaugurada com esse efeito até então estranho para nós - ver Encilhamento)

- 7 constituições,

podemos convir que já deu de república?


Sobre o autor

Bruno Garschagen

É autor do best seller 'Pare de Acreditar no Governo - Por que os Brasileiros não Confiam nos Políticos e Amam o Estado' (Editora Record). É doutorando e Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos...

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