segunda-feira, 7 mar 2016
Nota do EditorEm sua
mais recente inserção de TV,
o Partido dos Trabalhadores disse que a maneira de superar a atual crise econômica
e fazer a economia voltar a crescer é trabalhando duro e "tendo vontade de
vencer". E então o programa mostra cenas
de um cabeleireiro, de um atendente de bar, e de uma vendedora de sanduíche.
A ideia
é que se todos simplesmente trabalharem mais, como essas pessoas, a economia dará um salto.
Tal ideia demonstra uma completa falta de compreensão
sobre como uma economia moderna realmente cresce, prospera e se torna mais
produtiva. Não é de se estranhar que tal
simplismo primitivo esteja sendo propagandeado exatamente pelo partido que
causou toda essa baderna na economia.
—————————————————
Em certo sentido, trabalhar mais horas pode produzir
mais riqueza. Teoricamente, se tudo o
que você tiver for uma machado e troncos de árvore, então se você trabalhar
oito horas cortando madeira terá mais madeira do que em apenas quatro horas. Portanto, neste caso hipotético, trabalhar
mais significa mais produção.
A questão é que dificilmente você conseguirá manter
essa rotina extenuante por muito tempo e durante vários meses. Aliás, tentar manter essa rotina não será
muito inteligente. Chegará um momento em
que suas condições físicas estarão debilitadas e sua produtividade
inevitavelmente cairá.
Sendo assim, se você conseguir obter uma máquina que
lhe permita cortar madeira de uma maneira mais rápida, você terá a mesma
quantidade de madeira em apenas uma fração do tempo original.
Uma serra elétrica, por exemplo, tornará o seu
trabalho muito mais produtivo do que um machado. Uma serra elétrica permite que, com menos
horas de trabalho, você consiga a mesma quantidade de madeira que conseguiria
com um machado e várias horas a mais de trabalho.
A serra elétrica é um bem de capital que aumentou
sua produtividade, permitindo que você trabalhe menos e produza mais. Ao aumentar a quantidade de energia
disponível, a serra elétrica permite que você, simultaneamente, reduza sua
carga de trabalho muscular e obtenha mais cortes de madeira. A serra elétrica aumentou seu padrão de vida.
Por isso, o problema com a ideia de que "você tem de
trabalhar mais para enriquecer" está exatamente no fato de que ela pressupõe um
mundo estático: não há inovações técnicas, não há empreendedorismo que gere inovações
técnicas, e é impossível produzir mais riqueza sem que necessariamente você tenha
de trabalhar mais.
Por outro lado, quando você entende que é possível ter
inovações que nos poupam do trabalho extenuante, você descobre que a ideia do "trabalhe
mais para enriquecer" é, em si mesma, insensata.
Como
é possível criar os meios que no tornam mais produtivos
A mesma esquerda que pede mais trabalho como forma
de superar a crise econômica criada por ela própria também gosta de brandir
estudos — corretos — que dizem que, tão logo as pessoas passam a trabalhar
mais de 50 horas por semana, elas se tornam consideravelmente menos produtivas,
mais exaustas e, como consequência, criam um ambiente mais arriscado para elas próprias
e para seus colegas de trabalho.
Com efeito, há um limite físico real à capacidade de se
trabalhar mais para produzir mais. E a maneira
de superar essa limitação física é utilizando tecnologias e técnicas mecânicas que
permitam muito mais produção em menor espaço de tempo.
Como se faz isso?
O primeiro passo, obviamente, é pensar em métodos
poupadores de trabalho e em novas idéias para se implantar estes métodos. Porém, em última instância, implantar essas idéias
requer o uso de uma riqueza previamente criada e poupada. Em outras palavras, e dado que vivemos em uma
economia baseada no dinheiro, é necessário ter dinheiro para se construir
máquinas que poupam a quantidade de trabalho.
E como conseguimos esse dinheiro? Não há mágica: ele
tem de ser poupado. E poupar significa
se abster do consumo. Portanto, ao fim e
ao cabo, os componentes-chave para se ter trabalhadores mais produtivos é
poupar e, consequentemente, utilizar essa poupança na construção de máquinas,
ferramentas, instalações industriais e bens de capital em geral que poupem o
trabalho físico.
Ludwig von Mises explicou a necessidade de todos
esses componentes em seu livro A Mentalidade Anticapitalista:
Nem
o capital nem os bens de capital têm, por si sós, o poder de elevar a
produtividade dos recursos naturais e do trabalho humano. Somente se os frutos
da poupança forem adequadamente empregados ou investidos é que poderão aumentar
a quantidade produzida por unidade de insumo. Se isso não acontece, eles são
dissipados ou perdidos.
E prossegue:
Com
o auxílio de melhores ferramentas e máquinas, a quantidade dos produtos aumenta
e sua qualidade melhora. Assim, o empregador consequentemente estará em
posição de obter dos consumidores um valor maior do que aquele que seu
empregado consumiu em uma hora de trabalho. Somente assim o empregador
poderá — e, devido à concorrência com outros empregadores, será forçado a —
pagar maiores salários pelo trabalho do seu empregado.
Trabalhar menos e produzir mais é o resultado direto
dessa acumulação de capital. Assim como a serra elétrica aumenta a produção em relação
a um serrote ou a um machado, e um trator multiplica enormemente a produção
agrícola em relação a uma enxada, o uso de máquinas e equipamentos modernos
multiplica enormemente a produtividade dos trabalhadores — e,
consequentemente, seus salários e sua qualidade de vida.
Em um país rico, a quantidade e a qualidade das
máquinas e das ferramentas disponíveis são muito maiores do que nos países
pobres. A acumulação de capital, o empreendedorismo e a inventividade
tecnológica são os pilares da economia. Como consequência, a
produtividade, a riqueza e o padrão de vida nestes países são muito mais
altos.
Obstáculos
à maior produtividade
Infelizmente, temos uma economia e um governo orientados
exatamente contra todos os ingredientes necessário para o crescimento da
produtividade, da poupança e da inovação.
Em primeiro lugar, há um aparato regulatório que
favorece os grandes empresários
politicamente bem relacionados em detrimento de novos produtos, novas
empresas e novas criações. Empresas recém-criadas
que possam trazer algum risco à fatia de mercado das grandes empresas serão ou
proibidas de entrar no mercado (por obra e graça das
agências reguladoras) ou penalizadas de modo a se tornarem menos
competitivas (por obra e
graça da burocracia, da carga tributária e do complexo código tributário, que
joga a favor das grandes empresas já estabelecidas).
Tarifas de importação e uma moeda em contínua desvalorização
também impedem que empresas adquiram do exterior bens de capital bons e baratos
que aumentariam sua produtividade.
Em qualquer um desses casos, avanços na
produtividade serão perdidos.
E há também, é claro, as próprias políticas fiscais
e monetárias do governo, as quais, ao incentivarem o consumismo, o imediatismo
e o endividamento da população para fins consumistas, fazem de tudo para
desestimular a poupança. O resultado é
uma economia voltada para o consumo e para o prazer imediato, e não para a poupança
e para o investimento de longo prazo. E isso,
por sua vez, afeta toda a estrutura produtiva da economia: em vez de se ter uma
economia voltada para a produção de longo prazo, há uma economia voltada para o
consumismo de curto prazo.
E há, por fim, o problema da inflação e da consequente
destruição do poder de compra da moeda. Uma
moeda que continuamente perde poder de compra afeta os investimentos de longo
prazo (e é impossível fazer investimentos de longo prazo se você não tem a mínima
ideia do poder de compra futuro da moeda) e reduz os salários reais. E, ao reduzir os salários reais, desestimula
a poupança.
Com a renda disponível cada vez mais afetada, não há
como poupar. Consequentemente, a pouca poupança disponível não é direcionada
para investimentos produtivos, mas sim para o consumo imediato.
O
objetivo é trabalhar menos e produzir mais
A ideia de que devemos trabalhar mais para
enriquecer seria verdadeira apenas se vivêssemos em um mundo completamente destituído
de melhorias na produtividade. Aí, realmente, não haveria alternativa senão trabalhar
mais.
Felizmente, não vivemos nesse mundo. E, no mundo em que de fato vivemos, nosso
objetivo deveria ser o de alcançar um contínuo aumento no padrão de vida ao
mesmo tempo em que diminuímos nossas horas de trabalho.
Afinal, foi justamente a Revolução Industrial
que permitiu que grande parte da humanidade se livrasse, pela primeira vez na
história do mundo, do fardo diário de ter de trabalhar longas horas sem nenhuma
perspectiva de alívio, tendo pouquíssimo tempo livre para a educação, o lazer e
atividades caritativas.
Desde então, graças à limitada porém significativa
vitória da ideologia laissez-faire, a
produtividade do trabalhador só fez aumentar nos séculos seguintes. Hoje, não precisamos de trabalhar mais do que
dois dias por semana para alcançar um padrão de vida maior do que aquele usufruído
por nossos ancestrais que viveram no século XVIII. Não temos de trabalhar mais do que nossos
tataravôs. Certamente trabalhamos menos
horas do que eles — e por livre e espontânea vontade.
Obviamente, qualquer um que queira trabalhar mais
deve ser perfeitamente livre para fazê-lo.
Mas é necessário enfatizar que apenas mais horas de trabalho, por si
sós, não bastam. Se o objetivo é o
crescimento econômico e o enriquecimento, então nada pode ser feito sem a
produtividade. O verdadeiro crescimento econômico
vem da poupança, do investimento, da moeda forte e de uma economia genuinamente
empreendedorial — a qual, por obra e graça dos governos, está se tornando cada
vez menos factível no mundo atual.
_____________________________________
Leia
também:
Agradeçamos ao capitalismo
pelo fim de semana e pela redução da jornada de trabalho
O mercado, e não os
sindicatos, nos propiciou o lazer e o descanso