Pergunta rápida: você seria capaz de fabricar,
sozinho, o computador (ou o tablet ou o smartphone) no qual você está lendo
este artigo? Você seria capaz de inventar
e fabricar os milhares de componentes necessários para fabricar estes aparelhos? Se sim, então você é um ser sobre-humano,
dotado de invejáveis habilidades intelectuais, mecânicas e engenheiras.
Ainda assim, vale dizer que o ato de, literalmente,
construir um computador (ou tablet ou smartphone) absolutamente do nada, sem
utilizar um único componente "importado" — seja de outro país, seja do outro
lado da rua —, seria um trágico desperdício de tempo. Tal ato, muito provavelmente, exigiria de você
vários anos de sua vida (se não todos), e, ao final, você teria construído algo
tão tosco, desajeitado e de baixíssimo desempenho, que seria uma piada em relação
a esta rápida, bonita e infinitamente mais capaz máquina que você está
utilizando agora.
Você teria se esforçado imensamente, teria perdido
anos da sua vida, e, ao final, não teria criado nada de útil. Não teria criado valor para ninguém.
[N. do E.: Uma ilustração prática desta
profundamente importante constatação é a deste homem que resolveu
fabricar, do zero, um simples sanduíche. Ele plantou
o trigo para fazer o pão, retirou o sal da água do mar, ordenhou uma
vaca para fazer o queijo e a manteiga, matou uma galinha para retirar
o filé de frango, fez o próprio picles e teve até de extrair o mel do favo.
Além de demorado, o processo custou cerca de US$ 1.500 dólares. (E, a julgar
pela reação dele próprio, a qualidade do produto final foi medíocre).]
O fato de você estar utilizando este computador (ou tablet
ou smartphone) significa, muito claramente, que você é um ardoroso defensor do livre comércio, ainda que você vocalmente
não se manifeste desta maneira. Sua vida
sem o livre comércio seria horrivelmente desoladora. Porém, graças à divisão do trabalho, que
agora ocorre em escala global, você têm à sua disposição toda a abundância do
mundo a preços continuamente em queda (a menos, é claro, que seu governo
atrapalhe esse processo desvalorizando continuamente sua moeda e impondo
tarifas de importação crescentes).
Há não mais do que 10 anos, o computador (ou tablet
ou smartphone) no qual você está lendo este artigo seria classificado como um
supercomputador (muito provavelmente seu modelo de tablet ou smartphone nem
existia ainda), e seu preço certamente estaria na casa dos milhões de dólares. Mas graças ao livre comércio, à divisão global
do trabalho, e à interação de mercado entre os produtores especializados, é bem
provável que o preço da sua atual máquina não ultrapasse os 200 dólares.
O
único propósito
Pouco importa se o produto foi fabricado na cidade vizinha
ou do outro lado do mundo: as importações são o único propósito de acordarmos
cedo para ir trabalhar, produzir e ganhar dinheiro. Você produz para poder consumir produtos bons
e baratos. E aquele produtor que
fornecer o bem pode morar tanto na cidade vizinha ou no Vietnã.
Ao comprar produtos dele, você está importando.
Importações também são um sinal claro de
riqueza. Na prática, trocamos produtos
ou serviços por outros produtos ou serviços (o dinheiro sendo apenas um meio de
troca), de modo que, quanto mais produzimos, mais podemos importar.
Por tudo isso, políticos que agem como se importações
fossem deletérias para a economia e tentam restringi-las com tarifas de importação,
cotas, ou desvalorizações cambiais estão, na prática, dizendo que devemos
trabalhar e produzir, mas não podemos consumir.
Com efeito, eles querem que consumamos apenas os bens produzidos por
aqueles que moram dentro das mesmas linhas imaginárias que nós, algo que,
economicamente, não faz o mais mínimo sentido.
(Isso, é claro, na teoria; na prática, eles simplesmente recebem
dinheiro do lobby da indústria nacional, que quer manter uma reserva de
mercado, blindada da concorrência dos produtos estrangeiros).
Importações são um
claro indicador da riqueza e pujança de uma nação. Países ricos possuem altos volumes de importação;
é exatamente nas economias pobres que as importações são baixas ou
inexistentes.
E a explicação é
lógica: quanto mais aberta é a economia de um país, quanto mais livres são seus
cidadãos para adquirir bens importados, maior é o poder de compra de seus salários. Por quê?
Porque os indivíduos que formam a economia de um país recebem um salário
em troca de sua mão-de-obra; sendo assim, se as fronteiras do país são abertas
para os bens e serviços produzidos em todos os pontos do globo — ou seja, o
governo não proíbe, restringe ou tributa importações —, então, por definição,
o poder de compra dos salários desses indivíduos alcança sua máxima capacidade.
Se as fronteiras do
território dentro do qual você vive estão completamente abertas para todos os
bens e serviços produzidos mundialmente, então você está na privilegiada
situação de ter os indivíduos mais talentosos do mundo trabalhando e produzindo
para atender às suas demandas. Mais ainda: esses indivíduos talentosos
estão concorrendo acirradamente entre eles para fornecer a você as melhores
ofertas.
Nesse cenário, qualquer
empresa nacional que eventualmente seja dominante em um determinado setor do
mercado irá gradualmente perder seus lucros monopolistas graças à chegada de
novos entrantes. Não há como haver monopólio
ou oligopólio se a concorrência é livre para vir de qualquer ponto do planeta.
Fronteiras abertas ao comércio naturalmente aceleram o processo por meio do
qual o maior número possível de produtores globalmente talentosos se esforça
vigorosamente para nos servir aos preços mais baixos possíveis.
Já se as fronteiras são
fechadas, você vive em um estado de autarquia, podendo consumir apenas aquilo
que você produz. Suas opções são drasticamente
reduzidas. Os preços são maiores. A indústria é ineficiente, pois não precisa
se preocupar com a concorrência de estrangeiros. A população nacional se torna refém do
baronato industrial nacional, que tem seus lucros garantidos sem a
contrapartida de uma prestação decente de serviços. Por isso o padrão de vida em países de
economia fechada é tão baixo.
Mas
o principal argumento é outro
Veja, por exemplo, a pujança
da Suíça, dos EUA, da Alemanha e dos países asiáticos que se abriram ao
comércio (como Hong Kong, Cingapura, Taiwan etc.): a população desses países
usufrui o privilégio de ter as pessoas mais talentosas ao redor do mundo concorrendo
entre si para produzir e ofertar a ela produtos a preços baixos. Países que são abertos ao comércio
internacional têm todos os produtores mundiais ávidos para lhes fornecer bens e
serviços de qualidade e a preços baixos.
Qual a melhor maneira de se aumentar o padrão de vida senão por meio da
oferta abundante de bens e serviços a preços baixos?
Mas mesmo esta ampla
variedade de bens e serviços que aumentam o poder de compra dos salários destas
populações ainda não diz tudo sobre a real maravilha do livre comércio. O que faz com que o livre comércio seja uma inquestionável
maravilha é o fato de que ele maximiza a possibilidade de que nós, como indivíduos
atuantes na economia, possamos nos dedicar exatamente ao tipo de trabalho que mais
estimula nossos talentos individuais.
Óbvio: se nós podemos
simplesmente importar aquilo que não somos bons em produzir, então somos livres
para concentrar nossos esforços justamente naquelas áreas em que somos
realmente bons.
Nos países que restringem o livre comércio, as
pessoas são praticamente proibidas de utilizar os frutos do seu trabalho para
adquirir aqueles bens e serviços que são mais bem produzidos por estrangeiros. Sendo assim, tais pessoas acabam sendo
obrigadas a desempenhar várias atividades nas quais não têm nenhuma
habilidade. Uma pessoa boa em informática, por exemplo, acaba tendo de
trabalhar como operário em uma siderurgia, pois seu governo restringe a
importação de aço, que poderia ser adquirido mais barato de estrangeiros. Engenheiros acabam virando operários de
fábricas
Estando isoladas da divisão mundial do trabalho,
tais pessoas trabalham apenas para sobreviver, e não para desenvolver seus
talentos. Elas não podem trabalhar naquilo em que realmente são boas,
pois a restrição ao livre comércio obriga os cidadãos a fazerem de tudo,
inclusive aquilo de que não entendem. Elas
passam suas vidas sendo obrigadas a desempenhar várias atividades que não são
do seu domínio.
Já em países que usufruem o livre comércio, as
pessoas, justamente por poderem adquirir bens e serviços fornecidos por
estrangeiros que são melhores no suprimento destes, podem se concentrar naquilo
em que realmente são boas. Seus cidadãos possuem uma miríade de opções de
trabalho: eles podem ser financistas, instrutores de ioga, artistas, cineastas,
chefs, contadores e empreendedores do ramo de tecnologia. Tão rica e com
tamanha liberdade de comércio é a economia, que todos têm opções.
Em países de economia aberta, o lazer é um dado da
realidade. As pessoas, ao não terem de perder tempo trabalhando naquilo
em que não são boas, podem dedicar boa mais tempo a passatempos de luxo.
Quantas pessoas podem se dar ao luxo de se divertir luxuosamente em países como
Myanmar, Zimbábue e Venezuela?
Isso nos leva à conclusão de que uma economia aberta
é o caminho mais fácil para o aumento do padrão de vida. Qual o sentido de laborar arduamente para
fabricar algo em que você não é bom, se você pode simplesmente adquiri-lo, a preços
baixos, de quem realmente é bom em fabricá-lo?
Ao contrário do que afirmam os protecionistas, os americanos,
os suíços, os alemães, os cingapurianos, os honcongueses não são ricos apesar
de serem abertos ao comércio estrangeiro; ao contrário, sua abertura ao
comércio estrangeiro é a fonte essencial de sua espantosa riqueza. Como as tarifas de importação destes países são,
em geral, muito baixas, seus cidadãos são cada vez mais capazes de se dedicar
àquelas profissões que dão vazão ao seu real talento.
Conclusão
Importações são a bênção que nos liberta de termos
de trabalhar naquilo que odiamos. Imagine,
de novo, ser forçado a construir o computador (ou o tablet ou o smartphone) no
qual você está lendo este artigo. O simples
ato de ter de fazer isso já empobreceria você.
Uma economia é simplesmente uma coleção de indivíduos,
e cada indivíduo está em melhor situação econômica quando pode se especializar
naquilo que faz melhor e, em decorrência disso, pode importar, ao menor preço possível,
os bens de que necessita.
É a isso que se resume o livre comércio. Sem ele, sua vida seria uma tragédia.
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