quinta-feira, 30 abr 2015
Em seus debates quase que diários
sobre a economia e sobre a política monetária, políticos reclamam quando alguns
preços não aumentam (como o de algumas commodities exportáveis, como café e
minério) e também reclamam quando acreditam que outros preços — como os de serviços
de saúde, educação, alimentos e praticamente todos os outros — estão subindo demais.
Essa
situação nos leva à pergunta: os preços estão errados?
Não. A verdade é que preços são neutros, ao menos no
que diz respeito ao bem-estar social. Por
mais que seja chato dizer isso, o fato é que uma constante alteração nos preços
indica que uma economia
está funcionando para coordenar os desejos e necessidades de consumidores e
empreendedores.
Os
preços são mecanismos por meio dos quais compradores se comunicam com
vendedores e vice-versa.
Por
esse motivo, antes de entendermos a função dos preços, é importante fazer uma distinção
entre "preços" e "propostas", dois termos distintos que, em nosso uso diário,
tendemos a tratar como sinônimos.
Um
preço é apenas uma razão (no sentido matemático do termo, isto é, o resultado
de uma divisão) resultante da interação de duas mercadorias; é o quociente
resultante da interação entre a oferta de uma mercadoria e a demanda por ela;
preços surgem quando duas mercadorias são trocadas por dois indivíduos em uma
transação concreta. Entretanto, os "preços" que vemos no supermercado para cada
bem disponível não são preços, mas sim propostas — e se tornaram preços
somente se o bem for comprado.
Se
o "preço" de uma maçã está colocado em $100, mas ninguém compra a maçã, então é
errado dizer que o preço dela é $100. O
supermercado tentou vender a $100, mas tal valor foi recusado.
Tendo
isso em mente, fica a pergunta: o bem-estar das pessoas aumenta quando os
preços aumentam ou quando eles diminuem?
Se
o preço de um determinado bem aumenta, as pessoas que já o possuem ficam em
melhor situação. Igualmente, aquelas pessoas
que têm os meios de produzi-lo, seja por trabalho manual ou utilizando
maquinários, possivelmente também irão lucrar com esse aumento do preço.
Em contrapartida, pessoas que não têm esse bem ficarão em pior situação,
especialmente se estiverem planejando comprá-lo no curto prazo. O raciocínio contrário ocorrerá se os preços
caírem.
Sendo
assim, qual é o equilíbrio para a sociedade? Não há resposta. Na verdade, do
ponto de vista da "sociedade", o aumento e a redução de vários preços são
simplesmente o retrato do processo de mercado em ação. Para indivíduos
concretos que fazem transações concretas e específicas de cada um desses
bens, há custos e benefícios; mas em relação ao "bem-estar social" ou à
"economia", não é possível concluir nada.
A
função dos preços em uma sociedade
Entretanto,
isso não é o fim da história: preços possuem um papel fundamental no mercado. Eles são sinais que guiam os empreendedores;
eles informam aos empreendedores sobre para onde eles devem direcionar suas
decisões de investimento. Agindo assim, preços são indicadores da relativa
escassez de um bem em relação aos seus vários tipos de uso.
Se
o preço de um bem aumenta, isso significa que um bem se tornou mais valioso
para os indivíduos de uma sociedade, e isso envia um sinal aos empreendedores
de que mais recursos (mão-de-obra e capital) devem ser direcionados para a
produção de tal bem, pois é isso que a sociedade está atualmente demandando.
Inversamente,
se o preço de um bem diminui, isso significa que tal bem está se tornando menos
valorado pelos indivíduos, o que significa que recursos (mão-de-obra e capital)
devem ser retirados de sua produção e direcionado para outros usos mais
produtivos.
Esse
processo, como explicado, não é automático, mas sim conduzido por
empreendedores que tomam decisões utilizando o sistema de preços e os sinais
que eles emitem.
O
que acontece quando o governo intervém nos preços
O
que acontece se preços forem manipulados por meio de controles de preço ou de outras
medidas coercitivas inventadas pelo governo?
Obviamente,
o primeiro efeito será que alguns indivíduos serão prejudicados e outros serão
beneficiados. Por exemplo, se o governo
decretar que é proibido elevar o preço de um determinado produto, os indivíduos
proprietários de tal bem — ou dos meios de produção desse bem — perderão
riqueza. Já os indivíduos que desejam
comprar esse produto aumentarão sua riqueza (desde que consigam comprar esse
produto, é claro).
Políticos
normalmente acham que tal política é boa para "o povo", pois — na cabeça de
muitos populistas — empresas são "ricas" e essa ação equivale a redistribuir
riqueza "das elites" para "o nosso povo".
Isso
pode ser bom para um consumidor individual em uma transação específica; mas
indivíduos são muito mais do que apenas consumidores: eles podem também ser
acionistas da empresa que produz o bem cujo preço foi congelado, ou podem ter
um plano de pensão que está investido nessa empresa, ou podem trabalhar para a
empresa afetada ou para qualquer um de seus fornecedores na cadeia produtiva.
Sendo
assim, ao fim, nem sequer é possível determinar se um indivíduo concreto, muito
menos a sociedade, estará melhor ou pior em decorrência de um controle de
preços.
Entretanto,
esse nem é o efeito mais danoso da manipulação de preços. O maior problema é
que interferir no sistema de preços é uma medida que distorce sua função mais
precípua, que é a de emitir sinais para o mercado. Com esses sinais distorcidos, as decisões de
investimento e de direcionamento de recursos (mão-de-obra e capital) se tornam
totalmente incertas. O cálculo de
custos, de lucros e de prejuízos é completamente afetado. Não é mais possível saber se mais ou menos
recursos devem ser direcionados para um determinado empreendimento.
O
processo empreendedorial continuará, mas os recursos serão direcionados aos
lugares errados. E, como recursos são,
por definição, escassos, outros setores mais necessitados poderão deixar de
recebê-los. No final, a sociedade estará
relativamente mais pobre em decorrência de investimentos que não puderam ser
realizados.
[Nota
do IMB: o que está acontecendo no setor elétrico brasileiro, no qual um
controle de preços
estipulado em 2012 gerou uma escassez de energia e um subsequente e explosivo
aumento tarifário em 2015 é um bom exemplo.
Só não houve escassez total de energia porque o Tesouro
continuou dando dinheiro nosso para as distribuidoras. No final, todos nós
empobrecemos.
Já
o que está acontecendo atualmente
na Venezuela, assim como o que ocorreu no Brasil na década de 1980,
com escassez generalizada, é apenas a teoria acima sendo levada ao seu extremo
prático].
Outro
fator que deve ser considerada é que empreendedores, sendo humanos, podem
cometer erros. Um empreendedor pode oferecer um bem por um "preço" (proposta) alto
demais e então descobrir que ele não conseguiu vender unidades suficientes para
fazer o investimento valer, sendo então forçado a diminuir o preço para
aumentar as vendas.
Isso
não significa que o preço inicial estava errado e que o novo preço está certo:
significa apenas que o empreendedor está reagindo à nova informação adquirida
após sua primeira tentativa. Se mais informações chegarem, o preço será novamente
ajustado, para cima ou para baixo.
Essa
é a essência do processo empreendedorial: reagir às mudanças que ocorrem no
mercado, tentando sempre se adaptar às novas preferências demonstradas ou antecipadas
pelos consumidores.
Para
maximizar essa essencial interação entre consumidores e produtores — que é
justamente o que regula
um mercado da maneira mais eficiente possível —, o objetivo tem de ser a
total liberdade dos preços, e não a estipulação política sobre se os preços
estão "altos" ou "baixos". Manipular preços é uma medida que os impede de fazer
justamente aquilo que eles fazer, servindo apenas para tornar o processo de
alocação de recursos mais difícil e mais ineficiente. E isso definitivamente é danoso
para todos.
[Nota final do IMB: Os preços no Brasil estão altos? Estão.
Eles estão errados? Difícil
dizer. Os preços dos bens e serviços
estão simplesmente se adaptando às condições vigentes na economia (inflação da oferta
monetária, desvalorização
do câmbio, protecionismo,
gastos do governo). Se você acredita que os preços estão muito
altos, culpe a instituição que gerou as atuais condições da economia. Os preços apenas se adaptaram a elas].