"Será
que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados
para desobedecer às leis contra o homicídio irão obedecer às leis de
desarmamento?" — Thomas Sowell
Sempre
observo com grande interesse todos os debates sobre desarmamento e controle de
armas, e venho fazendo isso há praticamente 50 anos. Já ouvi os oponentes do desarmamento
invocarem este argumento de Sowell. Não
me lembro de ter ouvido nenhuma resposta a ele.
Nenhum desarmamentista jamais forneceu uma resposta. Eles simplesmente ignoram o desafio. Eles fingem que ninguém fez uma pergunta.
Curiosamente,
eleitores contrários ao desarmamento seguem votando em políticos
desarmamentistas, políticos que não respondem ao desafio de Sowell. Os eleitores nem sequer questionam essa
postura fugidia dos políticos. É verdade
que, no geral, os eleitores defendem algum tipo de controle de armas. A maioria não defende o desarmamento
completo, mas eles defendem severas restrições à venda de armas e aos modelos
que podem ser comercializados. E, com
isso, políticos desarmamentistas seguem sendo reeleitos, e sem jamais serem
questionados acerca de sua postura racionalmente contraditória.
A
lei do desarmamento é tão eficaz quanto as leis anti-drogas: ninguém realmente espera
que leis anti-drogas irão eliminar o uso de drogas ilegais. Porém, como os eleitores não querem admitir
que a intervenção estatal no mercado de drogas é uma ilusão mais delirante do
que a provocada pelo LSD, o ataque estatal a este mercado segue impávido, com a
mesma eficiência de um gelo sendo enxugado.
E o mesmo raciocínio é válido para o desarmamento.
Os
eleitores não querem admitir que a intervenção estatal em ambos estes mercados só
faz destruir ainda mais a liberdade dos indivíduos, a qual é diariamente
sacrificada em nome do aumento do poder e do controle do estado. A crença é a de que o estado é paradoxalmente
capaz de deter o poder de controlar atividades que, em privado, as pessoas
aceitam, mas que, em público, são obrigadas a condenar.
Sendo
assim, reformulo a pergunta de Sowell:
Será
que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados
para desobedecer às leis contra o consumo de maconha irão obedecer às leis que os proíbem de utilizar um papel para enrolarem por conta própria um baseado?
Defensores
das leis anti-drogas — pessoas que normalmente são contra o desarmamento — respondem
a esta pergunta da mesma maneira que os defensores do desarmamento respondem à
pergunta de Sowell: com silêncio.
Resultados:
mais leis, mais intrusão estatal, mais gastos governamentais, orçamentos mais
polpudos para os burocratas, menos liberdade, e mais discussões vápidas.
No
final, tudo se reduz a isso: traficantes de drogas não irão obedecer às leis
que supostamente restringem o uso de armas.
Se
você quiser que traficantes de drogas parem de comprar armas, então é melhor
você acabar com os traficantes, defendendo a descriminação das drogas. Porém, os progressistas querem criminalizar
as armas e os conservadores querem criminalizar as drogas.
E,
se você pensa que este argumento não faz sentido, então não espere que os
progressistas respondam ao argumento de que "indivíduos que estão preparados
para desobedecer às leis contra o homicídio não irão obedecer às leis de
desarmamento".
Você
por acaso já parou para pensar na cronologia das leis anti-drogas? Ela se assemelha à criação de licenças
para médicos, uma regulamentação que criou um cartel extremamente rentável. O cartel dos médicos é justificado com este
argumento: "Não queremos que o público em geral saia comprando remédios (que
são drogas). Portanto, é necessário que
o estado imponha leis e regulamentações para que apenas médicos diplomados
possam prescrever receitas".
Tudo
se resume a cartéis. Se você quer criar
um cartel extremamente rentável, é fácil.
Eleja um político influente, faça lobby, consiga que o estado torne
ilegal um bem ou serviço que a maioria das pessoas quer, e então estipule que
apenas um determinado grupo de especialistas tenha a licença para vender este
bem ou serviço. Pronto.
O problema é que tal
medida levará à criação de um cartel paralelo, não-autorizado e ilegal, o qual também
venderá o bem ou serviço em
questão. E isso gerará
um inevitável conflito: o primeiro cartel, ávido para defender sua reserva de
mercado, irá enviar funcionários públicos com distintivos e armas para atacar
este segundo cartel, o qual, por conseguinte, irá comprar armas para defender
seu terreno e se proteger dos ataques do primeiro cartel.
Cartéis
querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de restrições colocadas sobre o livre
mercado. Cartéis querem uma renda
artificialmente elevada em decorrência de uma reserva de mercado protegida pelo
estado. O verdadeiro debate gira em torno de quem
irá portar armas legalmente e quem irá portá-las ilegalmente.