Há
três livros que ocupam um lugar honroso em minha biblioteca austríaca:
Socialism,
de Ludwig von Mises;
Austrian
Perspective on the History of Economic Thought, de Murray N. Rothbard;
e
Democracia - o
deus que falhou, de Hans-Hermann Hoppe.
Em minha concepção, estes livros brilham de forma incandescente sempre
que olho para eles em minha estante.
E
você certamente está se perguntando: onde fica o Ação Humana,
de Mises? E o Man, Economy, and State, de
Rothbard? E o Moeda, Crédito
Bancário e Ciclos Econômicos, de Jesús Huerta de Soto? É claro que estes livros também estão lá, mas
o fato é que os Três Grandes flutuam
em uma bolha gravitacional própria, pois formam o núcleo solar do meu processo
definitivo de cura em relação ao insidioso vírus socialista. É claro que, nesta tarefa, fui ajudado por
vários satélites menores que giram ao redor dos Três Grandes, dentre eles 1984,
A
Revolta de Atlas e An
American in the Gulag.
Quando
tinha nove anos de idade, tornei-me um stalinista fanático imediatamente após
ter lido O Capital na biblioteca de
minha cidade. Aos trinta anos, já havia
suavizado um pouco: agora eu era um marxista linha-dura, militante fervoroso do
Partido Trabalhista britânico. Tão
arraigada em minha mente estava essa ideologia negra, que estou convencido de que,
olhando em retrospecto, eu tinha olhos de serpente, uma cauda bifurcada e
chifres diabólicos.
Felizmente,
consegui me curar deste horror ao finalmente perceber que o socialismo é uma
completa idiotice criada por uma gente inescrupulosa, sedenta por poder e ávida
por escravizar a humanidade em causa própria, além de ser também a mais
maléfica, estúpida e destrutiva religião que a humanidade já inventou. Além dos vários outros desastres que esta
ideologia que odeia o ser humano já causou, em sua ânsia por manter as pessoas estúpidas, doentes e pobres — e,
consequentemente, mais servis e dóceis para serem exploradas —, o socialismo dizimou centenas de milhões
de pessoas, particularmente no século XX, período este que hoje deve ser
visto como a sua saudosa era dourada.
Infelizmente,
levei vários anos para me curar desta virulenta infecção mental, processo esse
que envolveu uma década de estudos autônomos, de percepção tardia e,
principalmente, de várias perguntas duras feitas a mim mesmo, bem como vários
relacionamentos despedaçados, memoráveis e amargas acusações de deslealdade, e
a dolorosa degradação gerada por hábitos mentais já inoculados em minha mente
— afinal, foram anos em que fui treinado a nutrir ódio exasperado e inveja
maliciosa de pessoas mais bem sucedidas do que eu.
Os
três livros que finalmente destruíram o normalmente imune vírus do socialismo
que havia infectado a minha mente foram os supracitados, especialmente o Socialism, de Ludwig von Mises, um livro
que até hoje se mostra vigoroso e inspirador a cada releitura, uma espécie de
equivalente não-fictício de O Senhor dos
Anéis.
Mas
eu sentia que havia espaço para um quarto livro, pois ainda não me sentia
completamente curado. Ainda faltavam
algumas respostas. Ainda faltavam alguns
argumentos que me tornassem completamente imune aos resistentes tentáculos do
marxismo, como, por exemplo, o ambientalismo. Você tem de fazer com que seu sistema
imunológico esteja sempre em prontidão para matar toda e qualquer tentativa de
reentrada de antigas e familiares viroses.
Havia a necessidade de um quarto livro que fosse capaz de fornecer esta
reinoculação ao meu espírito guerreiro contra as aparentemente infindáveis e
insidiosas formas de manifestação socialista.
Felizmente,
encontrei este quarto livro.
Embora
minha educação autônoma tenha chutado o socialismo de volta para o berçário da
inveja, que é o seu lugar original, todos os livros que eu havia lido nunca
esclareceram uma última questão, a qual vinha me incomodando há anos: por que,
afinal, o socialismo demora tanto tempo
para fracassar? A União Soviética durou
70 anos e o padrão monetário fiduciário vigente no Ocidente desde
1971 já está durando mais de 40 anos.
Sim, o sistema atual permite o cálculo econômico, há a crença míope dos
tolos, e há o sistema de 'mentiras criminosas organizadas' ao qual chamamos de
governo. Mas qual é o mecanismo
essencial que separa o livre mercado da tirania do socialismo? Como algo tipicamente repugnante e podre como
o socialismo sobrevive por décadas, sendo que em minhas leituras anteriores
aprendi que tal excrescência deveria fracassar em poucos anos, tão logo sua
horrenda natureza baseada no ódio e na inveja vingativa é revelada?
Sim,
podemos falar sobre os subsídios ocidentais concedidos aos soviéticos e sobre a
fé inapropriada que as pessoas ainda depositam nos bancos centrais, mas isso
não responde à pergunta: por que o socialismo sobrevive por décadas,
principalmente em suas variações e formatos mais brandos, como a
social-democracia? Se é verdade que o
socialismo é algo imbecil e autodestrutivo, como então essa gonorréia conseguiu
se apossar da mente de grande parte da humanidade e por que ela continua
sobrevivendo e vicejando por tanto tempo em suas várias formas e
encarnações? Se é verdade que o próspero
mercado de ideias, como explicado por Hayek, e o exuberante mercado da
destruição criativa, como explicado por Schumpeter, realmente funcionam em
parceria para expurgar as invenções fracassadas e promover inspirações de
sucesso, por que ainda existem tantos keynesianos e tão poucos austríacos? Por que existe tanto governo e tão pouca
liberdade?
Jesús
Huerta de Soto descobre e revela o misterioso sistema operacional escondido
atrás destas perguntas, e o faz de uma forma simples e majestosamente conectiva
em seu livro Socialismo,
cálculo econômico e função empresarial. Nesta obra, o economista espanhol fornece a
resposta a esta pergunta por meio de um enlace entre a ação humana, o
empreendedorismo e o cálculo econômico, tudo recheado com uma perspectiva
salamanquense da história econômica e uma aspereza tipicamente andaluz para a
análise política. O resultado é uma das
mais perspicazes e finas monografias austríacas que já tive o deleite de ler, o
que fez com que a obra facilmente quebrasse a hegemonia do meu triunvirato de
livros heróicos, criando um novo quadrumvirato.
Como
Huerta de Soto explica de maneira cristalina, chegando inclusive a utilizar
ilustrações para enfatizar melhor sua cadeia de raciocínio, a mente humana está
sempre trabalhando de maneira empreendedorial para fazer com que novas ideias
se transmutem em ações cujo resultado final será a melhoria do bem-estar
humano. Segundo o economista espanhol, a
divisão do conhecimento prático empreendedorial se aprofunda
"verticalmente" e se expande "horizontalmente", processo
esse que permite (e ao mesmo tempo requer) um aumento da população, que
estimula a prosperidade e o bem-estar geral, e que ocasiona o progresso da
civilização.
Ao
mesmo tempo, há uma elite socialista que está constantemente tentando destruir
este processo evolutivo, cortando todos os seus elos com o intuito de fazer com
que este arranjo produza aquilo que ela quer e faça aquilo que melhor sirva aos
interesses pessoais e imorais desta elite, ignorando completamente os desejos
independentes e temporais do restante dos indivíduos deste sistema. No entanto, não obstante esta constante e
indesejada interferência — e não importando em que ponto do sistema a
violência estatal irá se manifestar ou como suas regulações irão afetar as
cadeias de informações geradas por empreendedores e consumidores —, o mercado
sempre tenta sobreviver, como um ninho de formigas perturbado por uma enxada.
O
socialismo, portanto, sobrevive por causa
do livre mercado, o qual constantemente tenta reparar os estragos que o socialismo provoca por meio de suas tributações,
regulamentações e inflações. O livre
mercado tem a capacidade de se auto-corrigir, de se auto-conectar e de se
auto-reorganizar, tudo espontaneamente, como um rio que flui não obstante todos
os entulhos que despejam nele. Desta
forma, o triunfo final do socialismo ocorreria quando houvesse a completa
obstrução da fluência do rio, o que representaria a obliteração da humanidade;
já o triunfo final do livre mercado será quando este maléfico entulho for
finalmente retirado, destruído e erradicado, e o rio puder novamente voltar a
fluir sem obstruções.
Sendo
assim, quanto mais socialismo houver no sistema, mais rápida será a sua própria
morte, pois ele destruirá aquilo do qual se alimenta parasiticamente. Foi assim com o nacional-socialismo e com o
comunismo soviético. Já as versões mais
anêmicas do socialismo, cujo monstro é menos sedento por sangue, conseguem
sobreviver por mais tempo, como ocorre com as sociais-democracias ocidentais.
No
entanto, o socialismo sempre será uma besta em contínua expansão, que se
alimenta dos sete pecados capitais (ira, avareza, preguiça, vaidade, luxúria,
inveja e gula) por meio de mecanismos como assistencialismo, protecionismo,
favoritismo e privilégios. Embora a
interminável batalha entre socialismo e livre mercado possa algumas vezes se
mostrar equilibrada durante um período de tempo, o fato é que socialismo está
constantemente tentando — aliás, este é o seu objetivo final — esmagar o
livre mercado. Por isso, é de extrema
importância eliminar esta aberração por completo, se o nosso objetivo é
alcançar um mundo seguro, livre e próspero.
Tudo
isso, e muito mais, se torna cristalino quando você lê o livro do professor
Huerta de Soto. Esta pequena resenha de
modo algum faz justiça ao brilhantismo do livro, o qual você deve ler com
atenção para formar suas próprias conclusões.
Tudo o que posso dizer é que o livro é altamente recomendado para todas
as pessoas interessadas no tema, e ainda mais especificamente para aquelas que
querem entender o cerne da insidiosa, maléfica e hipócrita natureza do
socialismo, e entender como aniquilar os impulsos suicidas e destruidores desta
ideologia que odeia o ser humano, antes que estes impulsos auto-sacrificantes
nos destruam.