A
Google comprou o YouTube em 2006, quando a histeria sobre violações de direitos
autorais estava em seu auge. Os novos
proprietários do YouTube imediatamente se ocuparam em tentar criar uma
plataforma condizente com os padrões legais para evitar bilhões de dólares em
processos pendentes. Os usuários do
YouTube estavam postando uma enorme quantidade de material protegido por
direitos autorais, e a Google seria responsabilizada judicialmente por
isso.
Durante
os três anos seguintes, as retiradas de materiais postados ocorreram
furiosamente. Usuários estavam tendo
seus materiais deletados. Filmes
caseiros que utilizavam músicas de fundo protegidas por direitos autorais
tiveram seu som apagado. Vídeos que faziam
homenagens a artistas populares utilizando suas músicas sumiram. Até mesmo vídeos que mostravam pessoas
dançando em seus carros enquanto ouviam alguma música foram abolidos.
Isso
não era divertido para ninguém. Os
artistas não gostaram dessas medidas.
Eles são os mais beneficiados quando um fã faz um vídeo em sua homenagem
e ficam contentes (e lisonjeados) em ver sua música sendo difundida. Os proprietários dos direitos autorais também
não ganharam nada com essa censura.
Eles não obtinham nenhuma receita com a retirada dos materiais.
Já
a Google não gostou nada de ter de fazer isso por causa de todos os gastos que
teve de incorrer para criar programas que vasculhassem continuamente o
site. Era também constrangedor quando
esses seus programas deletavam um vídeo caseiro de uma festa infantil só porque
as crianças estavam cantando "Parabéns pra Você". Para os consumidores e usuários, ter seu
vídeo removido é um insulto imperdoável.
Ou
seja, ninguém realmente se beneficiava desse sistema. E a situação estava se tornando cada vez mais
difícil de ser controlada, uma vez que os uploads de vídeos cresciam
exponencialmente (48 horas de vídeos novos surgem a cada minuto). Mas ainda assim a censura perdurou. A presunção de que músicas protegidas por
direitos autorais não podiam ser postadas no YouTube estava enraizada no
sistema.
Ninguém
realmente gostava da maneira como o sistema funcionava. Mas era difícil imaginar outra forma. Afinal, aquele era o sistema que a lei havia
construído. E certamente a lei deve
prevalecer independentemente de quão absurdo seja o resultado. Era como as cenas de As Bruxas de Salem, de Arthur Miller: ninguém em Salem realmente
acreditava na prática de matar bruxas, mas as pessoas prosseguiam com a
carnificina porque era assim que o sistema funcionava.
Era
evidente que a lei havia criado uma situação insustentável. Ela criou um sistema custoso demais para
todos. Não podia continuar assim. Mas o que iria mudá-lo? E como?
Foi exatamente aí que as forças da economia de mercado vieram ao resgate.
A
Google criou um novo sistema que exibe anúncios comerciais na parte inferior de
cada vídeo. E permitiu também a
veiculação de propagandas antes do início dos vídeos. Várias dessas propagandas são incrivelmente
interessantes, diga-se de passagem, e nada aborrecidas para os usuários, como
poderiam ser — mesmo porque há a opção de pulá-las após 5 segundos de
exibição. (Toda a instituição dos
anúncios comerciais no YouTube merece um artigo à parte).
Adicionalmente,
a Google costurou um acordo entre os usuários do YouTube e os proprietários de
direitos autorais. Se um determinado
vídeo infringisse direitos autorais, o proprietário destes direitos seria
notificado e teria então duas opções: ordenar a retirada do vídeo ou permitir
um anúncio comercial neste vídeo, o qual lhe garantiria receitas. Praticamente todos optaram pela solução
comercial, e simplesmente porque é mais vantajoso para o proprietário ganhar
dinheiro do que perseguir o criador do vídeo utilizando o sistema judicial.
Os
proprietários dos direitos autorais aprenderam nesse processo algo que já era
óbvio para muitos de nós havia muito tempo, mas que, por motivos estranhos,
ainda não havia sido captado pelos fiscais da lei. Eles aprenderam que aquilo que parece ser uma
violação da lei e uma transgressão dos direitos de propriedade pode ser
retrabalhado e transformado em uma forma pacífica e mutuamente benéfica de
publicidade. O maior inimigo de qualquer
empreendimento comercial é a obscuridade; e não há maior aliado do que pessoas
atentas que podem eventualmente vir a se tornar clientes.
Hoje,
o YouTube hospeda uma vasta quantidade de materiais que, dois anos atrás, eram
considerados piratas e ilegais. Está
tudo lá, atendendo às demandas de milhões de usuários que não pagam um centavo
para utilizar este serviço. Ele está
fazendo aquilo que o Napster fazia na virada do século, antes de ser destruído
pelo governo. A diferença é que o acesso
gratuito é financiado por meio de formas pacíficas de publicidade. Aquilo que a lei estatal havia transformado
em uma guerra de todos contra todos, o mercado converteu em um sistema de paz e
abundância para todo mundo.
Trata-se
de uma solução absolutamente brilhante, além de ser um fantástico exemplo de
como o mercado é capaz de fornecer soluções pacíficas para problemas que, caso
contrário, o estado iria abordar com coerção e brutalidade. A solução do mercado para este caso foi do
tipo "breaking bad"[1], no
sentido de que foi uma rejeição explícita a tudo que o estado estava tentando
impor. E como os custos impostos pela
agressiva abordagem estatal estavam crescendo enormemente, o mercado encontrou
outra saída. Guerra custa caro.
Já
a prosperidade requer paz. O estado
queria guerra, mas o mercado disse 'não'.
É claro que seria muito melhor se as regulamentações e as proteções aos
monopólios intelectuais fossem revogadas e o próprio mercado fosse incumbido da
tarefa de criar modelos comerciais de distribuição em um ambiente livre de
intervenções. Porém, em vez de apenas
ficar inerte esperando por mudanças na lei, o setor privado encontrou uma forma
de contornar a lei.
E
esta solução está mudando completamente a maneira como se faz distribuição
musical. Quando o cantor/rapper
sul-coreano PSY surgiu com sua música "Gangnam Style", ainda em julho deste ano,
seu vídeo se tornou um viral muito além das expectativas de qualquer ser
humano. Ele está fadado a ser o primeiro
vídeo do YouTube a receber 1 bilhão de visualizações, e tudo isso em um
extremamente curto período de tempo.
PSY
(Park Jae-Sang) é um artista que padecia no anonimato havia uma década. Ele sabia o valor da exposição. Quando sua música começou a ser pirateada,
quando restaurantes com o nome de Gangnam Style começaram a surgir, quando
camisetas e produtos com sua marca começaram a pipocar por todos os lados, ele veementemente
se recusou a impingir sua propriedade intelectual. Ele muito sabiamente percebeu que qualquer
tipo de compartilhamento de sua imagem poderia ser positivo para ele. E, sem nenhuma surpresa, estima-se que ele
irá faturar US$8,1 milhões este ano apenas com downloads de sua música no
iTunes, ingressos para suas apresentações e publicidade. Graças à sua recusa em participar do sistema
estatal de proteção ao monopólio intelectual, ele se tornou um dos músicos mais
famosos do mundo, e rapidamente será um dos mais ricos também.
Vale
a pena pararmos para refletir um pouco sobre as lições deste exemplo. Em nossa época, o aparato de regulação
estatal — não apenas para a propriedade intelectual, mas também, e
principalmente, para todas as áreas da economia — criou uma situação
intolerável e insustentável para todos os cidadãos. Até mesmo aqueles que imaginavam que iriam se
beneficiar das regulamentações protecionistas não estão colhendo as promessas
— pelo menos não no grau em que imaginaram.
E é assim porque a marcha da história não pode ser interrompida nem mesmo
pelas maiores e mais violentas tentativas de coerção estatal. O mercado sempre irá prevalecer — o que é
apenas outra forma de dizer que a ação humana irá preponderar sobre a coerciva
maquinaria do estado — no longo prazo.
Estamos
testemunhando isso em todas as áreas da vida.
As leis estatais antidrogas estão sob séria pressão de pessoas
revoltadas com as horrendas ondas de encarceramento por causa de ações que a
maioria das pessoas não considera serem crimes sérios (como fumar
maconha). A educação pública, por mais
poderosos que sejam os sindicatos de seus funcionários, está desacreditada, e
sua decadência está levando os pais a optarem pelo ensino doméstico autônomo,
pela educação via internet ou por alternativas criativas oferecidas pelo mercado
(como a Khan Academy). Em poucos anos, a educação pública — e sua
usina de doutrinação marxista — deixará de ter qualquer importância.
Até
mesmo o até então poderoso e intocável setor bancário está passando por
turbulências, não obstante todas as tentativas dos bancos centrais e dos
governos de monopolizarem o sistema. A
nova moeda Bitcoin
está crescendo e prosperando, não obstante todas as tentativas de dizer que o
arranjo é uma farsa e uma fraude. Novos
sistemas de pagamento estão surgindo diariamente na forma de cartões-presentes
[também chamado de Gift Card, é um
cartão pré-pago que tem como objetivo ser usado para presentear pessoas para
quem você não sabe qual presente específico dar] e de cartões que podem ser
instantaneamente carregados com dinheiro.
Aplicações digitais estão permitindo novas formas de empréstimos que
contornam completamente o sistema oficial chancelado pelo estado.
Pessoal,
se vocês quiserem entender como o estado entrará em colapso no futuro, é para
essa direção que vocês têm de olhar. O
colapso do estado não ocorrerá pela via política. Não ocorrerá por meio de reformas
implementadas de cima para baixo.
Ocorrerá, isso sim, por meio do sistema empreendedorial de tentativa e
erro, pois o mercado não ficará inerte.
Tendo de lidar com os pavorosos custos impostos pelo anacrônico sistema
estatal, o mercado continuará encontrando maneiras criativas e surpreendentes
de burlar o aparato coercivo, inventando com eficácia novas esferas de
liberdade que permitirão que o progresso ocorra.
Todo
e qualquer ato de empreendedorismo é, por definição, revolucionário. Há um espírito anarquista em sua raiz. Um ato empreendedorial é um ataque ao cerne
do status quo. Empreender significa
estar insatisfeito com a atual situação.
Empreender significa imaginar algo novo e melhor. Empreender é um ato que produz mudanças graduais,
inesperadas e não consentidas, pois acrescenta uma nova dimensão de experiência
a como nos vemos, a como nos entendemos e a como interagimos com os outros.
Sem
empreendedorismo, a história não registraria nenhum momento de progresso, a
nossa compreensão do quão singular e especial é essa nossa época neste mundo
seria para sempre indefinida, e toda a sociedade iria atrofiar até
finalmente morrer. Com o
empreendedorismo, toda e qualquer tentativa de controlar e paralisar o mundo
encontra resistência e, no longo prazo, sempre fracassa.
A
história nos ensina que aqueles que ousam tentar bloquear o progresso humano
sempre acabam sendo atropelados. Sim, haverá
muito atrito e vários poderosos serão vitimados à medida que tentamos nos mover do
atraso para o progresso. Mas chegaremos
lá, um ato de desobediência criativa de cada vez.
[1] Trocadilho
com um seriado americano homônimo. O
termo "breaking bad" é uma gíria do sul dos EUA que significa que alguém se
desviou do caminho correto e passou a fazer coisas erradas.