quinta-feira, 19 abr 2012
Em
uma palestra proferida na Universidade George Washington no dia 20 de março, o
presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, disse que, sob um padrão-ouro, a
capacidade das autoridades monetárias de abordar e resolver efetivamente
quaisquer condições econômicas se torna significativamente restringida. O presidente do Fed afirma que o padrão-ouro
impede um banco central de incorrer em políticas voltadas para a estabilização
da economia após choques inesperados e repentinos. Isto, por conseguinte — sustenta Bernanke
—, pode levar a severas turbulências econômicas.
De
acordo com Bernanke,
Dado que o padrão-ouro determina a oferta monetária, não há
muito espaço para o banco central utilizar políticas monetárias para
estabilizar a economia.... Se há um padrão-ouro amarrando a oferta monetária ao
ouro, não há flexibilidade para o banco central reduzir as taxas de juros em
uma recessão ou aumentá-las em uma inflação.
É
exatamente por isso que o padrão-ouro é tão bom: ele impede as autoridades de
incorrerem em uma temerária inflação monetária, exatamente como Bernanke vem
fazendo desde o final de 2007, jogando mais de US$ 2 trilhões de dinheiro novo
no sistema bancário.
A
base monetária americana, que era de US$ 889 bilhões em dezembro de 2007, pulou
para US$ 1,7 trilhão em dezembro de 2008.
A taxa de crescimento anual da base monetária, que estava em 2,6% em
dezembro de 2007, pulou para 152,8% em dezembro de 2008. Adicionalmente, o Fed agressivamente reduziu
a taxa básica de juros da economia de 5,25% em agosto de 2007 para quase zero
já em dezembro de 2008.
Contrariamente
ao que imaginam Bernanke e a maioria dos economistas convencionais, tamanha
injeção monetária gerou severos danos ao processo de criação de riqueza
real. Tal medida empobreceu severamente
os geradores de riqueza e criou as bases para novos e sérios problemas
econômicos mais à frente.
Por
outro lado, permitir que a oferta monetária seja determinada pela produção de
ouro gera estabilidade, e não o caos que Bernanke sugere. Em um ambiente onde o dinheiro é o ouro e
ninguém tem a capacidade de sair imprimindo dinheiro de papel sem nenhum
lastro, não há como haver oscilações econômicas — isto é, períodos de
crescimento econômico seguidos de recessão.
(Vale notar que o ato de imprimir dinheiro desencadeia uma troca de nada
— papel pintado criado por uma impressora — por alguma coisa, o que nada mais
é do que um ato de fraude ou peculato).
Ao contrário do que diz Bernanke, são exatamente as políticas voltadas
para a estabilização da economia que resultam em instabilidade e caos
econômico.
Bernanke
afirma que outro grande aspecto negativo de um padrão-ouro é que ele cria um
sistema de taxas de câmbio fixas entre as moedas dos países que estiverem em um
padrão-ouro. Não há a variabilidade e a
versatilidade que temos hoje, ele argumenta:
Se houver choques ou variações na oferta monetária em um
país, e talvez até mesmo a adoção de políticas ruins, os outros países que
estiverem presos à moeda daquele país irão também vivenciar alguns destes
efeitos.
Aqui
parece que o presidente do Fed está argumentando em favor de um sistema
monetário de câmbio flutuante. Mas
Bernanke ignora o fato de que, em um livre mercado, o dinheiro é uma mercadoria,
de modo que a moeda — seja ela o dólar ou qualquer outra — não é uma entidade
independente.
Antes
de 1933, por exemplo, o nome dólar
era utilizado para se referir a unidade de ouro cujo peso era de 1,505
gramas. Dado que há 31,103 gramas em uma
onça, isto significa que o nome dólar era sinônimo de 0,0483876 onças de
ouro. Isto, por sua vez, significa que
uma onça de ouro equivalia a US$ 20,67.
Observe
que $20,67 não era o preço de uma onça de ouro em termos de dólar, como
Bernanke e outros "especialistas" dizem.
O termo "dólar" era apenas um nome para designar 0,0483876 onças de
ouro, assim como o termo "metro" é um nome para designar 100 cm. É algo imutável.
Como
disse
Rothbard,
Ninguém imprime dólares (ou qualquer outra moeda) em um
mercado puramente livre, pois não há, com efeito, algo manipulável chamado
"dólar". Há apenas mercadorias, como
carros, trigo e ouro.
Da
mesma forma, os nomes de todas as outras moedas eram simplesmente uma
designação para um determinado peso de ouro.
A libra esterlina, por exemplo, era uma referência a 0,25 (mais
exatamente a 0,2435) onça de ouro. O
atual hábito de se considerar estes nomes como sendo entidades totalmente
separadas do ouro surgiu apenas com a imposição do padrão-papel. Ao longo do tempo, à medida que o dinheiro de
papel adquiriu vida própria, tornou-se aceitável determinar o preço do ouro em
termos de dólares, libras, francos etc., uma total falta de lógica. É como se, repentinamente, um metro passasse
a ter centímetros variáveis — por isso, dizemos que a absurdidade atingiu
novos ápices com a introdução do sistema de câmbio flutuante.
Ao
contrário do que diz Bernanke, em um livre mercado, moedas não flutuam uma em
relação às outras. Elas são cambiáveis
de acordo com uma definição fixa. Se a
libra esterlina se refere a 0,25 onças de ouro e o dólar se refere a 0,05 onças
de ouro, então uma libra esterlina tem de valer 5 dólares. (Esta taxa de câmbio resulta do fato que 0,25
onça é cinco vezes maior que 0,05 onça).
E assim tem de ser imutavelmente.
Um
sistema de moedas flutuantes é tão absurdo quando a ideia de um dólar ter seu preço
flutuante em termos de centavos. Quantos
centavos equivalem a um dólar é algo que não está sujeito a flutuações. É algo que está fixo para sempre.
Uma
vez que se compreende que, em um livre mercado, o dinheiro é uma mercadoria,
torna-se óbvio que, similarmente a outros bens e serviços, seu valor de troca
não pode ser imóvel, mas sim irá variar de acordo com a oferta e a demanda.
Agora,
Bernanke argumenta que a variabilidade na oferta de ouro pode gerar
instabilidades. Mas por que seria
assim? Por acaso uma alteração nas
condições de oferta e demanda de vários bens e serviços produz instabilidade? Tudo o que teremos será uma alteração nos
preços. Obviamente, se a oferta de ouro
aumentasse vigorosamente, isto levaria a um aumento nos preços em termos de
ouro. Este aumento nos preços, no
entanto, nada tem a ver com inflação.
(Inflação, um aumento na quantidade de dinheiro "criado do nada", leva a
uma troca de nada por alguma coisa — um ato de fraude ou peculato). Se o aumento na oferta de ouro persistisse,
as pessoas provavelmente abandonariam o ouro como meio de troca e adotariam outra
mercadoria como dinheiro.
De
acordo com o presidente do Fed, um outro problema com o padrão-ouro é que ele
pode desencadear ataques especulativos:
Normalmente, um banco central administrando um padrão-ouro
mantém em seus cofres apenas uma fração do ouro necessária para lastrear toda a
oferta monetária.... O Banco Central britânico mantinha somente uma pequena
quantidade de ouro, e para manter o sistema funcionando eles se apoiavam na
credibilidade que tinham junto aos mercados, credibilidade esta que julgavam
ser robusta o bastante para dar a entender que permaneceriam no padrão-ouro sob
todas as circunstâncias — de modo que ninguém jamais os desafiou quanto a
isso. Porém, se, por qualquer razão, os
mercados perderem a confiança em sua disposição e em seu comprometimento a
manter uma relação com o padrão-ouro, você pode se tornar alvo de um ataque
especulativo.
Um
possível ataque especulativo não é resultado de um padrão-ouro, mas sim de um
banco central que desrespeitou os princípios básicos do padrão-ouro e emitiu
dinheiro de papel não lastreado por uma equivalente quantia de ouro. Este aumento da quantidade de dinheiro não
lastreado por ouro fará com que os investidores, temerosos de não conseguirem
no futuro trocar seu dinheiro de papel ouro, corram para fazer esta restituição
imediatamente. Esta corrida ao ouro, na
qual se troca uma quantidade de papel maior do que a quantidade de ouro
existente, pode exaurir completamente as reservas de ouro de um país, dependendo
de quão grande foi a inflação do dinheiro de papel.
Em
suma, o que destrói um padrão-ouro e gera ataques especulativos é exatamente a
intervenção da autoridade monetária, que emite papel-moeda sem que haja uma
equivalente quantia de ouro lastreando estes papeis.
Também
em sua palestra, Bernanke afirma, de forma queixosa, que uma escassez de ouro
— isto é, uma baixa taxa de crescimento na oferta de ouro — pode levar a
redução generalizada nos preços, o que poderia prejudicar seriamente a
economia. Para o presidente do Fed, o
fato de a oferta de dinheiro não crescer a uma taxa que ele julga ser
apropriada é um desastre.
Mas
o que importa não é a quantidade de dinheiro, mas sim seu poder de compra. Logo, havendo expansão na riqueza real,
havendo um aumento na produção e um consequente aumento na oferta de bens e
serviços — algo que depende exclusivamente da divisão do trabalho e da
acumulação de capital, e que nada tem a ver com a quantidade de dinheiro na
economia —, o poder de compra da unidade monetária irá aumentar e todos os indivíduos
terão acesso a mais riqueza. Uma redução
generalizada nos preços, algo que é erroneamente chamado de deflação ("deflação", por definição, é
uma redução na quantidade de dinheiro na economia), faz com que mais indivíduos
tenham acesso a um crescente conjunto de riqueza.
Resumo e conclusão
Contrariamente
ao que afirma Bernanke, um padrão-ouro cujos princípios básicos não sejam
violados por um banco central não tem como produzir instabilidades. Ao contrário, a estabilidade é contínua.
Ciclos
econômicos e ataques especulativos são resultados de políticas monetárias que,
paradoxalmente, têm o suposto objetivo de estabilizar a economia. A suposta instabilidade das economias durante
o período em que elas adotaram uma forma adulterada de padrão-ouro adveio
justamente do fato de as autoridades monetárias terem emitido papel-moeda não
lastreado por uma equivalente quantidade de ouro, o que fez com que o princípio
básico do padrão-ouro fosse violado e, consequentemente, todo o sistema fosse
solapado.
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