quarta-feira, 31 ago 2011
É
algo que já deveria ser óbvio para todos. Menos, talvez, para o mais empedernido adepto do keynesianismo: os vários e volumosos pacotes de estímulo econômico
implementados pelo governo americano fracassaram. A combinação de aumento dos gastos e do
déficit orçamentário, as desesperadas tentativas de reestimular o mercado
imobiliário, os vários esquemas inventados para socorrer empresas falidas
dando-lhes dinheiro retirado à força de terceiros, e a criação direta de
trilhões de dólares pelo Banco Central não fizeram absolutamente nada para revigorar
a economia americana.
Na
verdade, ocorreu exatamente o oposto.
Todos esses esforços lograram apenas impedir que a economia se
reajustasse — e a realidade após uma década de expansões monetárias e
manipulações dos juros orquestrados pelo Banco Central não é nada bonita. Todos os recursos que os pacotes de
estímulo consumiram foram extraídos do setor privado. Afinal, como nunca é demais lembrar, o
governo não possui recursos próprios; ele nada produz. Tudo o que ele faz ou tudo o que ele utiliza
teve necessariamente de ser extraído de produtores privados e dos cidadãos em
geral — se não imediatamente, certamente no futuro.
É
algo totalmente enfadonho termos de aprender essa lição mais uma vez, pois foi
somente há 38 anos que o mundo vivenciou outro colapso completo do paradigma
keynesiano. O matiz da teoria era um
pouco diferente naquela época. O governo
fazia "ajustes finos" na economia com a intenção de fazê-la funcionar de acordo
com um modelo rígido que dizia haver um equilíbrio compensatório entre inflação
e desemprego. Se o desemprego ficasse
muito alto em decorrência de um crescimento econômico lento, a solução
preconizada era simples: aumentar os gastos e a inflação monetária. Se o desemprego, por outro lado, ficasse
muito baixo durante a recuperação econômica — levando a um "sobreaquecimento"
da economia, como dizia o linguajar da época —, a solução era reduzir os
gastos e a inflação monetária.
O
objetivo desse simples equilíbrio era reunir todas as obscuras ideias
defendidas por Lord Keynes e condensá-las à sua essência, a saber: o planejamento centralizado da economia. Com essa nova roupagem científica, seria possível fazer um planejamento
centralizado ao mesmo tempo em que se evitava todos os emaranhados legislativos
que aporrinharam o New Deal. Os keynesianos afirmavam que as tentativas de Franklin
Roosevelt de adotar políticas contracíclicas não funcionaram bem porque não
foram bem planejadas e tampouco cientificamente ministradas. Mas graças à clareza desse novo e simples
modelo criado no pós-guerra, os keynesianos desta vez acertariam.
E
eles certamente fizeram tudo à sua maneira em termos de políticas. Em 1971, Richard Nixon aboliu os últimos
vestígios do padrão-ouro, finalmente desvencilhando o dólar de qualquer relação
com o ouro físico, permitindo que a moeda americana flutuasse como uma pipa
presa a uma linha — ou talvez sem a linha.
Esse supostamente era o ideal keynesiano. Nada de restrições à moeda. Nada de apegos à relíquia bárbara. Nada de limitações àquilo que os planejadores
científicos do governo poderiam fazer.
Agora eles poderiam fazer o que fosse necessário para promover a
combinação socialmente ótima de inflação e desemprego. Nirvana!
É
importante ter em mente que tudo isso era uma proposição testável. Se de fato houvesse esse equilíbrio entre
inflação e desemprego, e se de fato o governo pudesse controlá-lo, então seria
impossível vivenciarmos, por exemplo, o desemprego e a inflação de preços
aumentando ao mesmo tempo. É verdade
que, durante a maior parte da história, isso não realmente não ocorreu. Durante a Grande Depressão, os preços caíram
— e ainda bem, pois esse fato foi a única ocorrência positiva de
todo aquele período. Pior do que
desemprego em massa, apenas desemprego e inflação de preços. Já na década de 1950, houve um pequeno
aumento da inflação, mas não em um nível suficiente para soar os alarmes.
E
então vieram os anos 1973—1974. O
desemprego nos EUA estava alto e subindo, chegando a 6% — sim, naquela época,
isso era considerado alto. Ao mesmo
tempo, a inflação de preços havia subido vertiginosamente para os dois dígitos,
algo que não ocorria desde 1947, quando os controles de preços da época da
guerra foram abolidos. E assim surgiu a
recessão inflacionária, também chamada de estagflação — uma besta que
supostamente não deveria existir, pelo menos de acordo com o modelo econômico
seguido à época.
Escrevendo
sobre isso, Murray Rothbard explicou:
Esse curioso fenômeno de inflação em alta ocorrendo
simultaneamente a uma aguda recessão simplesmente não poderia ocorrer, de
acordo com a visão keynesiana do mundo.
Os economistas afirmavam que ou economia deveria apresentar uma
expansão, sendo que nesse caso os preços estariam subindo, ou a economia deveria
apresentar uma recessão com grande desemprego, sendo que nesse caso os preços
estariam caindo. Durante o período da
expansão econômica, o governo keynesiano deveria "enxugar o excessivo poder de
compra", elevando impostos — de acordo com a teoria keynesiana, isso reduziria
os gastos da economia. Por outro lado,
durante uma recessão, o governo deveria aumentar seus gastos e seu déficit
orçamentário, com o intuito de estimular o nível de gastos da economia. Mas e se a economia apresentasse ao mesmo
tempo inflação e recessão com alto desemprego, o que o governo deveria
fazer? Como poderia ele pisar no
acelerador e no freio da economia ao mesmo tempo?
A
resposta, obviamente, é que o governo e suas autoridades políticas e econômicas
não poderiam fazer tal coisa. Ao
constatarem isso, o pânico se alastrou entre os economistas. E foi aí que as mais insensatas e ridículas
teorias já concebidas pelo homem foram implementadas para tentar reduzir o
desemprego e a inflação de uma só vez.
Mas havia um problema.
Autoridades econômicas, sempre e em todo lugar, são completamente
avessas a admitir culpa por qualquer coisa.
Certamente a culpa pelo descalabro não era da política monetária e nem
da política fiscal, diziam eles. É claro
que a culpa era da ganância dos empresários, da voracidade da classe
consumidora e do pânico que havia tomado conta da população geral — tudo era
culpa dos outros, menos do próprio governo.
Assim,
embora o paradigma keynesiano houvesse fracassado fragorosamente, quem no
governo estaria disposto a assumir a responsabilidade por esse fracasso? Ninguém.
Consequentemente, as coisas só pioraram e a recessão inflacionária
tornou-se um estilo de vida dos americanos, até culminar na indignação e na
revolta do final da década de 70, o que levou Ronald Reagan à presidência.
Reagan
havia conduzido sua campanha em uma plataforma antikeynesiana. Ele até chegou a cogitar a reinstituição do
padrão-ouro. Ele disse que iria cortar
impostos e permitir que a economia funcionasse livremente. Suas promessas não se concretizaram, mas ao
menos naquela época parecia haver alguma consciência de que o governo não era
capaz de se posicionar eternamente contra o mercado. As coisas boas do governo Reagan devem ser
creditadas, obviamente, a Paul Volcker, presidente do Fed nomeado por Jimmy
Carter em agosto de 1979. Como
presidente do Fed, ao invés de apenas reduzir o ritmo da expansão da oferta
monetária, ele chegou a implantar, em 1980—1982, uma genuína redução da oferta
monetária total, algo inédito na história do Fed. Com isso, ele quebrou a espinha dorsal da inflação
de preços e da crise econômica que afligia os EUA. Pense nele como uma espécie de anti-Greenspan
ou anti-Bernanke.
Hoje,
no entanto, reinam as doutrinas de Greenspan e Bernanke, e essa é a real
tragédia de nossa época. O Fed, o
Tesouro, o presidente, os reguladores e o Congresso americano fizeram todo o
possível para tentar estimular, reflacionar, estabilizar e contra-atacar as
forças de mercado. Como esperado,
perderam a batalha. O desemprego nos EUA
continua escandalosamente alto e a inflação de preços já começa a ficar
explícita — algo que keynesianamente não poderia ocorrer em uma economia com
alto desemprego e em recessão.
Mas
há um problema ainda mais sério. Em suas
tentativas de estimular a economia, o Fed criou um volume inacreditável de
dinheiro, o qual está guardado como "reservas em excesso" nos cofres de seus
protegidos no sistema bancário. Quando
esse dinheiro represado vazar para a economia, será inevitável uma horrenda
onda de inflação de preços.
Aqueles
que culpam Obama pela atual situação da economia deveriam ser mais honestos e
considerar se algum republicano (exceto Ron Paul) não teria feito exatamente a
mesma coisa. A receita de Obama para a
recuperação econômica começou na realidade ainda sob George W. Bush —
exatamente assim como foi Hoover
quem começou o New Deal. É claro que
o sujeito que está na Casa Branca é um problema, mas ele não é o único
problema. O cerne da questão é que (1)
nós temos um sistema monetário e bancário que é socialista por natureza, e que,
portanto, é utilizado pela elite que está nos círculos do poder para
enriquecer-se a si própria às nossas custas, e (2) a elite política se agarra à
pretensão keynesiana de que o governo é capaz de empreender uma guerra contra
as forças de mercado. Isso, e o fato de
que o keynesianismo delega todo o poder à elite que controla o estado, explicam
por que essa patética e perigosa história vive se repetindo à (nossa)
exaustão.
Em
uma economia de mercado, há uma tendência de que, no longo prazo, os erros
sejam corrigidos e substituídos por práticas diferentes, as quais trazem
melhorias às vidas das pessoas. Já no
governo, as coisas funcionam às avessas.
A tendência é que, no longo prazo, ele continue tentando as mesmas
ideias, incorrendo seguidas vezes nos mesmos erros, não importa o quão
frequentemente as coisas fracassem e nem o quão ruim seja quando isto
acontece. Afinal, como disse Joseph
Salerno, o keynesianismo foi inventado para dar poder ao estado. E esse é realmente o problema fundamental: a
entidade monopolista que controla e devasta a sociedade para benefício próprio.
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Leia também: O keynesianismo é uma constante