A guerra contra a recessão
Todos nós queremos viver bem e ninguém quer ter seu padrão de vida diminuído. Isso faz sentido, certo? Simplesmente é assim que fomos feitos.
Mas o que não faz qualquer sentido é a estranha profissão de fé que invadiu Washington, DC, dizendo que não se deve permitir jamais que qualquer preço diminua devido a pressões recessivas. Todos os recursos do Tesouro nacional, toda e qualquer manipulação monetária imaginável, todos os esforços de cada corpo regulador devem ser dispostos para se atingir o grande objetivo nacional: estimular a economia, a qual não deve jamais ser permitida que encolha um mínimo sequer.
Seja bem-vindo à Guerra contra a Recessão, que vem sendo executada com a mesma veemência e insensatez que a Guerra contra o Terror, e que vai se mostrar tão espetacularmente destrutiva para as suas próprias metas como para a liberdade
Vamos pensar no conjunto maior. A economia foi super-inflacionada devido a uma imprudente política monetária e a agências governamentais que trataram setores críticos da economia - como o setor imobiliário - como se eles fossem um direito natural e democrático; portanto, muito grandes para se permitir que falhassem. Essa tendência vem ocorrendo há décadas, mas a bolha só se tornou insanamente grande nos últimos 5, 10 anos. Alguma coisa tinha de acontecer. E ocorre que isso é só o começo. Todos os setores foram inchados e inflacionados.
Podemos concordar que havia um problema, que tudo não estava bem, apesar das aparências? Acho que sim, podemos. Então, o que fazer neste caso? Entender que tem de haver uma correção descendente, recessiva, mas que também não há razão para pânico. Uma boa correção é algo absolutamente necessário para que haja uma recuperação sólida. Tal é a natureza dos ciclos econômicos criados pelo Fed (o banco central americano).
Portanto, qual seria o significado de se alegar que jamais se deve deixar que a economia entre em recessão? Estou pensando em asserções similares:
- "O bêbado está ficando sóbrio. Rápido, dêem a ele uma dose de tequila!"
- "O drogado está acordando de sua alucinação. Tragam a seringa!"
- "Não olhem agora, mas o insone está indo dormir. Alguém o acorde!"
Agora, é justo dizer que a pessoa que está gritando a solução de cada um dos cenários acima descritos não entende verdadeiramente a natureza do problema.
O mesmo ocorre com o Fed. Ele vê as ações caindo, o mercado de crédito sob pressão, o desemprego subindo, os investimentos diminuindo. Mas ao invés de concluir que todos esses fatores representam o estouro da bolha, ele apresenta a resposta inversa: manter a bolha inflada a todo o custo!
Já é hora de questionarmos os motivos reais dessa guerra contra a recessão. A recessão é uma conseqüência lamentável, porém inevitável, de uma expansão econômica que não foi baseada em fundamentos sólidos.
Essa última frase é o ponto principal. Não estou dizendo que a recessão é o preço a se pagar pelo crescimento econômico. Os momentos de expansão econômica são fabulosos, desde que a expansão seja arraigada em fundamentos sólidos. E quais são esses fundamentos? Essencialmente um: o período de tempo do investimento deve se equiparar ao da sociedade
Esse é um exemplo de investimento não justificado pelos fundamentos. O que fazer nesse caso? Tem de haver uma correção. Não há nada que o Fed e os políticos possam fazer a respeito. Eles certamente não devem tentar impedi-la. Tentar impedir essa correção é como inverter um deslizador de esqui: só piora as coisas.
Toda essa tolice sobre sair rapidamente de uma recessão através de uma intervenção governamental começou com o New Deal. Antes dele, o governo não fazia muito para tentar evitar o aspecto negativo do ciclo econômico. E adivinhe só? As recessões eram curtas e pouco devastadoras para a saúde econômica. De fato, elas eram o alicerce essencial para a recuperação futura. Mas tudo isso mudou com Franklin D. Roosevelt, que utilizou o declínio econômico como a grande desculpa para fazer de si próprio o führer econômico da América.
Mas aqui vai o surpreendente fato: nem uma única vez essa estratégia funcionou.
Nem no New Deal, nem na década de 1970, nem na de 80 e nem na de 90. Em nenhuma vez o governo fez algo capaz de restaurar a prosperidade durante uma depressão econômica. O que sempre acontece é que o governo gasta, o Fed inflaciona, os reguladores punem, há lamúrias e ranger de dentes, e então, em um dado momento, atinge-se o fundo do poço - e aí a normalidade começa a retornar novamente. A única coisa que o governo pode fazer eficientemente é prolongar o período em que a economia fica em seu ponto mais baixo. Fora isso, ele está apenas desperdiçando recursos.
Dê uma olhada no livro de Murray Rothbard, The Panic of 1819. Este livro relata o primeiro grande pânico financeiro da América. O público estava ficando louco, exigindo respostas. O Congresso propôs todo tipo de coisa. Os debates nos jornais eram intensos. Mas o governo, no final, não tomou qualquer atitude. Como esperado, o pânico se esvaiu por conta própria. E também foi assim em 1920-1921. O governo não interveio e, voilà!, a normalidade retornou rapidamente.
Aqui vai mais uma coisa estranha sobre essa mania anti-recessão: por anos temos ouvido dos ambientalistas que precisamos viver de maneira mais simples, sem muitas posses, suprimindo o consumo e guiando bicicletas ao invés de carros. Ou seja: temos de diminuir largamente nosso padrão de vida e cuidar do bem-estar de plantas, lagartos e outras coisas. Acontece que os americanos não se dão muito com essa mensagem. Uma ligeira queda nos preços das casas já causa histeria.
Portanto, enquanto aguardamos ansiosamente a recessão, ao menos ainda temos esse consolo: os ambientalistas não irão muito longe com sua mensagem de que devemos abraçar a pobreza e chamá-la de nossa.
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