As três categorias de proponentes da MMT

Muitos me pediram para comentar a minha experiência na discussão de assuntos de importância econômica com os proponentes da MMT (eles, não as suas ideias). Hesitei, em parte porque não é uma imagem bonita e pode parecer chorosa, mas tornou-se novamente relevante. Assim, compartilharei minhas impressões gerais.

Na minha experiência, existem três categorias de proponentes da MMT mais ou menos ativos online. Existem, é claro, os acadêmicos e professores de elite que escrevem livros, artigos etc. Existem também os frequentadores, fãs e crentes “normais”, dos quais experimentei duas subcategorias.

A primeira categoria é a elite da MMT, que tem muito a dizer, mas mantém-se reservada e evita envolver-se (ou rejeita abertamente) outros acadêmicos. Muito parecido com a tentativa de Kelton de neutralizar minha dissidência, solicitando que eu lesse e fornecesse uma crítica “com citações” de um artigo de Randy Wray.

Cumpri e elaborei a crítica em um artigo publicado e revisado por pares, que compartilhei com Kelton. A resposta dela? Silêncio. Aparentemente, ela não pode ser incomodada com as críticas que solicitou. Cito o pedido dela no artigo.

E então ela me bloqueou covardemente no X na semana passada. Por quê? Ela tuitou outra pessoa para divulgar seu livro best-seller, ao qual comentei (uma vez, respeitosamente) que minha cartilha poderia servir como uma boa leitura complementar. Aqui está meu tweet de resposta ao dela.

A segunda categoria é composta pelos “normais”, que são de dois tipos. A grande maioria parece nunca ter lido uma palavra de economia, porque obviamente não sabe nada sobre o assunto e não pode ser incomodada com isso. E, com base nisso, rejeitam-no e recusam-se a produzir qualquer coisa que não seja um disparate circular e frases de uma linha da MMT.

Esta multidão parece sofrer de um efeito Dunning-Kruger bastante grave, culminando com a síndrome de Tourette e problemas de compreensão de leitura. A “análise” feita por essa multidão normalmente consiste em escanear ou pesquisar rapidamente um texto em busca de frases ou sentenças que, tiradas do contexto, possam ser desmascaradas.

Um pequeno subconjunto de “normais” (a terceira categoria de proponentes da MMT) é muito mais respeitoso e leu bastante. O problema deles é que muitas vezes estudaram demais a MMT e o pós-keynesianismo, mas estudaram pouco todo o resto. E normalmente não conseguem ficar de fora da politização – ou rejeitam todas as críticas como normativas.

No entanto, esse grupo tem sido, em geral, uma experiência positiva e, como resultado, aprendi mais sobre a MMT (e minha própria posição) e espero ter retribuído o favor. Embora discordemos, o discurso construtivo entre adultos é sempre uma boa experiência.

Pode haver um fã ocasional de MMT que não se encaixe perfeitamente em um desses grupos, mas acho que usar esses grupos ajuda a explicar o cenário. Infelizmente, apenas um grupo está aberto à discussão. Problematicamente, este grupo não é composto pelos supostos líderes ou pela elite do movimento.

Finalmente, não é incomum que os proponentes da MMT afirmem que injustamente não são levados a sério pelos economistas. Pela minha experiência, porém, isso é culpa deles: ao não se envolverem no debate, e não o fazerem seriamente, eles, na verdade, desvinculam-se do discurso acadêmico.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

0 comentário em “As três categorias de proponentes da MMT”

  1. Muito facil refutar as proposiçoes da mmt.
    Por isso que ele precisam muito investir na narrativa falsa que ela funciona. Ganham no grito.
    No inicio, dao muitas coisas gratis.
    Depois os rombos a derrubam e eles tem que investir em controle ditarorial.

  2. Interessante seu apontamento.
    Ele deixa claro que para exercer a MMT é necessário o fim da emissão secundária de moeda.
    Eu vou mais adiante. Para a execução plena da MMT é fundamental a eliminação do banco central.

  3. Faculdade de economia deveria estudar o brasil pra aprender sobre a tmm.
    O pais passou por surtos de hiperinflacao por causa exatamente dessas ideias colocadas em prática.
    E praticamente a prova de que a mmt nao funciona. Mas eles querem os paises deles entrando nessa.

  4. Não diria que o arranjo ficaria insustentável!

    Na emissão direta os impostos deixam de financiar o governo central e passam a ter como principais funções a fiscalização, o enxugamento de liquidez e principalmente o curso forçado da moeda.

    Não seria necessário pegar emprestado a menos que por questão estratégica, como financiar a poupança da população. No caso da dívida externa o motivo poderia ser um projeto que necessitaria ser financiado em moeda externa, pois o país não possui tecnologia para executá-lo. Isso já demonstra um limite da MMT.

    O embrião da hiperinflação começou a ser cultivado ainda nos anos 60. Bob Fields (avô do atual presidente do bc) resolveu aplicar a famosa correção monetária, sua criação deu origem a uma série de indexadores que viriam se tornar uma ferramenta para os parasitas do setor bancário ganharem mais dinheiro explorando a inflação gerada.

    Um erro gravíssimo dos governos militares foi permitir que os bancos privados nacionais tornassem sua relação com bancos internacionais (principalmente dos estados unidos) cada vez mais estreitas sem nenhuma intervenção. Daí foi pouco tempo para aqueles bancos começarem a capitalizar bancos nacionais para a criação de produtos financeiros indexados à inflação, ou seja, começaram a ganhar muito dinheiro especulando contra a moeda nacional. Quanto mais inflação, mais eles ganhavam. O governo não intervia e eles aproveitavam para elevar ainda mais as capitalizações e acelerar ainda mais a inflação inercial.

    Entrando na esfera estrutural, outro erro dos militares. Durante o 1° Plano Nacional de Desenvolvimento (PND 1) o modelo de substituição de importações apresentou uma falha em que o setor de bens de consumo recebeu investimentos bem maiores que os de bens intermediários e principalmente os de bens de capital. Isso gerou uma série de gargalos na cadeia produtiva que fazia com que as pressões inflacionárias nos níveis inferiores fossem transferidas para níveis acima da cadeia de consumo, contaminando a economia em geral.

    Entrando nos anos 80, verificou-se o que você apresentou, a emissão descontrolada de moeda que ajudou a intensificar os problemas com a inflação vindos dos anos 60 e 70. Com destaque para a “conta movimento” que membros dos poderes de Estado tinham acesso.

    Tem razão que a MMT não é nada nova. Foi utilizada durante o New Deal nos Eua.
    Mas o destaque fica com a sua aplicação naquele país durante o século 19, quando os bancos centrais anteriores foram eliminados algumas vezes, porém não houve descontrole, muito pelo contrário, avanços na industrialização norte-americana. Lá os limites da MMT foram observados e respeitados.

  5. Leandro Roque resumiu muito bem:

    “A TMM não só é uma receita para uma inflação maciça, como também é garantia de depressão econômica e consumo de capital.

    No modelo atual, o dinheiro entra na economia via mercado de crédito (empréstimos bancários). Como empréstimos são demandados por investidores e empreendedores, isso gera uma expansão econômica inicial, a qual anos depois vira recessão.

    Já na TMM, o dinheiro não entra na economia via empréstimos, mas sim via gastos do Tesouro. Consequentemente, não ocorre esse boom econômico inicial, típico dos ciclos econômicos. No entanto, a TMM permite que o governo imediatamente aumente seus gastos com funcionalismo, com suas empresas favoritas, com todo o tipo de assistencialismo (de pobres a artistas e grandes empresários), com subsídios, e também com “investimentos em infraestrutura”.

    Isso irá retirar mão-de-obra e outros recursos setor privado, afetando investimentos produtivos na estrutura de produção. A poupança e os investimentos de longo prazo serão desestimulados e o consumismo será impulsionado. Além de reduzir a poupança genuína, o processo de acumulação de capital será afetado.

    Mas piora.

    Quando a inflação de preços começar a incomodar (uma inevitabilidade gerada tanto pela maior quantidade de dinheiro na economia quanto pela redução da oferta de bens e serviços), o governo irá aumentar impostos para “retirar liquidez e poder de compra” do setor privado (a MMT é explícita quanto a isso, assim como a André Lara Resende em seu artigo).

    Tal medida, obviamente, irá reduzir ainda mais o estímulo à poupança privada e incentivar ainda mais o consumismo. Não haverá acumulação de capital, mas sim consumo de capital.

    Na melhor e mais benevolente das hipóteses, teremos um cenário em que todos terão algum emprego ligado ao governo (em especial, haverá muito lucro para empreiteiras ligadas ao governo), e a economia não aparentará (ao menos em termos de PIB) estar em depressão econômica. Mas o padrão de vida irá cair progressivamente.

    O setor privado tambem irá encolher progressivamente em relação ao setor estatal, pois tanto a inflação monetária quanto o subsequente aumento de impostos para contrabalançar o aumento de preços causado pela inflação monetária irão retirar recursos do setor privado e direcioná-los para o estado.

    E, obviamente, recorrer a aumento de impostos não irá resolver a inflação de preços, pois o governo continuará incorrendo em déficits orçamentários para bancar seus gastos crescentes. E estes déficits, obviamente, serão financiados com impressão de dinheiro.

    E aí chegaríamos ao pior dos mundos: maciça inflação de preços junto com uma depressão econômica.”

  6. Simultaneamente, Imperion e Pedro Lopes.
    Não ficou claro para mim (me corrijam se necessário), me parece que vossos raciocínios partem do pressuposto de que a MMT não possui limites. Apontei em comentário anterior que sim, possui.

    O limite fundamental para a emissão monetária é a capacidade produtiva instalada.
    Não adianta emitir moeda sem monitorar o estoque de capital em atividade, se houver capacidade ociosa, há espaço para elevar a oferta e responder ao aumento da demanda.
    Ainda que haja espaço para o financiamento do custeio do governo, a principal razão para a expansão é o investimento. Elevar o estoque de capital aumenta a capacidade de produzir mais, e aí mais um limite para a MMT: o raio de ação diminui à medida em que for necessário importar máquinas e equipamentos. O que envolve moeda estrangeira, que não pode ser emitida pelo Tesouro Nacional. Quanto maior o domínio da tecnologia e em consequência mais desenvolvida for a indústria de bens de capital de um país, maior a eficácia da MMT em sua economia.

    A movimentação de entrada (via investimento) e saída do meio circulante da economia (via impostos e depósitos compulsórios) “sempre deve observar” o crescimento da atividade econômica. Em geral, a quantidade de moeda em circulação aumenta com o tempo, pois a demanda e produção de bens e serviços se eleva. Se a economia está crescendo, a demanda por moeda se eleva.

    Repetindo, a MMT não é novidade e foi exitosa nos Eua principalmente no sec. 19 quando da eliminação do banco central devido à instabilidade que esse órgão causou naquele país.

  7. “A MMT é apresentada exatamente desta maneira; não há limites para injeção de moeda exatamente por defender que ‘déficits não importam’ e, através de canalhice contábil, é dito que a poupança privada é beneficiada através desse mecanismo, quando, evidentemente, os déficits monetizados estão exaurindo o setor privado”.

    Caro Pedro, se alguém apresenta a MMT como algo plenamente livre, sem limites, está equivocado, isso sequer faz sentido. Como dito, ñ há como expandir o meio circulante sem considerar o estoque de capital em uso e se este estoque já está em seu limite produtivo. Acima desse nível a tendência é a inflação de demanda. O estoque de capital deve ser expandido. A observação desse limite é o que beneficia a poupança privada.

    “Escassez de investimento? Armadilha de liquidez? As pessoas não entesouram por motivos aleatórios e, este ato obviamente legítimo, acelera a deflação e, subsequentemente, a correção”.

    Entesouramento acelera a deflação se for generalizado, mas isso por si só denota uma situação desconfortável em que a confiança na economia está muito baixa e pode retroalimentar uma recessão em curso.

    “Foi quando da criação do FED em 1913 que os índices de inflação de preços tornaram-se permanentemente positivos e a primeira severa crise surgiu menos de uma década depois – esta rapidamente sanada através de redução de gastos e impostos, além de não ter havido perturbação da oferta monetária”.

    A crise a qual vc se refere sim, mas a que veio logo depois, foi bem mais severa, complexa, demorada e não foi com redução de gastos que foi superada.

    “Crises habituais, explosão dos gastos públicos, redução do crescimento econômico e afins passam a ser a infeliz realidade dos últimos 50 anos de experiência com moeda FIAT”.

    Verdade, mas a desregulamentação financeira e o livre trânsito de capitais especulativos deu um grande empurrão nisso tudo. Crises cíclicas são inerentes ao capitalismo, infelizmente!

    Meu nome?! Menos que eu próprio!
    Agradeço as recomendações.

  8. “Não nexiste isso de capacidade ociosa, recursos ociosos. As pessoas e as empresas fazem poupança pois deixam de usar seus recursos (nao os recursos do estado) hoje para usalos amanha em outras coisas , que lhes forem mais vantajosas”.

    Prezado Imperion, não?! Ou seja, se uma empresa está com um conjunto de máquinas paradas que poderiam estar em operação, produzindo bens e gerando empregos, além de contribuir para gerar empregos acima na cadeia de produção e isso tudo não ocorre pois o nível de atividade macroeconômica é insuficiente, a capacidade não se classifica como ociosa?! Mas agora vc me deixou muito curioso!!!! Vejam só: o conceito não existe!!!!

    “O gov imprime para tomar esses recursos com essa desculpa de recursos e capacidade ociosa, dizendo que se imprimir se gera receitas que fazem o cosnumidor e produção deslanchar. O que ocorre nas impressões (aumento da oferta monetaria) é um crescimento artificial que gerara uma recessao quando for insustentavel continuar imprimindo. Nessa recessao, investimentos nao demandados pelo mercado serao liquidados. Riqueza e valor foram desteuidos. Não existe problema nenhum em fazer poupança e enxugar a quantidade de dinheiro em circulação. Isso é balela keynianista pros politicos tomar dinheiro da população”.

    Repetindo: não é o simples ato de emitir moeda que gera crescimento natural, se assim for feito, tende a ocorrer o que vc já explicou. A base da expansão é o aumento da capacidade produtiva, da oferta, porém se não houver uma expectativa de que aquela capacidade instalada será demandada os empresários não darão um passo a frente.
    Concordo, não há problema na formação de poupança, muito pelo contrário!

    “Eua no século 19 era um bastiao de libertade e empreendendorismo. Ele seguia a teoria classica, o padrao ouro , os impostos eram baixos , nao havia o pressao monetaria( de ouro). O dinheiro era entao estavel . Tudo ao contrario do seculo vinte , quando ele adotou o keynianismo, abandonou o padrao ouro, passou a imprimir dolar , aumentou cada vez mais impostos e estagnou. Agora vai ser ultrapassado pela china”.

    Sim, Eua era “um bastiao de libertade e empreendendorismo” embora bastante protecionista quanto à sua indústria. Até o início dos anos 1870 tinha um Estado bastante atuante. O valor do dinheiro era estável, pois o Tesouro mesmo naquela época de recursos limitados monitorava a atividade. Mas a quantidade de dinheiro em circulação aumentava e diminuía de acordo com o nível de atividade. Os impostos eram baixos, pois como a emissão monetária era realizada diretamente pelo Tesouro, sem formação de dívida, não havia a pressão orçamentária no sentido de arrecadar para pagar juros.
    Ser ultrapassado pela China é natural. De um lado um país com um governo extremamente incompetente e uma mentalidade rentista que vai deixando sua indústria definhar. De outro, um país com uma mentalidade produtivista e um Estado forte, técnico e intervencionista.

    “Quem aumenta a capacidade instalada sao os emprendedores, com o proprio dinheiro poupado, num regime de livre concorrencia”.

    O dinheiro utilizado pelos empresários entra no circuito econômico via Estado, e somente via Estado. Eles usam o dinheiro (meio de troca) do governo para gerar valor.

    “A maior produtividade tambem tem o poder de fazer baixar os preços dos bens e serviços , pois ha mais bens e servicos sendo produzidos para a mesma quantidade de moeda”.

    Isso ocorrendo, em algum momento a quantidade de moeda em circulação terá que ser elevada, pois a queda dos preços possui um limite sensível e a velocidade de circulação da moeda devido ao aumento das transações em relação ao tempo começa a não dar conta.

    “Esses beneficios deflacionarios sao anulados quando o gov imprime mais dinheiro pra comprar caviar para os politicos. O dinheiro que iria para a produção , é desviado para os politicos. Esses enriquecem. Quem produz nao. O consumidor tambem sai perdendo. Na inflação provocada, ele tem que trabalhar cada vez mais para poder gastar no futuro , com o que ele ganha, devido ao poder de compra da moeda. Produtores e consumidores perdem com a inflação . Ja o gov que imprime dinheiro , ganha”.

    Minha resposta ao Pedro responde esse ponto.

  9. “Caro Pedro, se alguém apresenta a MMT como algo plenamente livre, sem limites, está equivocado, isso sequer faz sentido. Como dito, ñ há como expandir o meio circulante sem considerar o estoque de capital em uso e se este estoque já está em seu limite produtivo. Acima desse nível a tendência é a inflação de demanda. O estoque de capital deve ser expandido. A observação desse limite é o que beneficia a poupança privada.”

    Nada disto faz sentido, em qualquer nível. Mas sim, é assim que a brilhante teoria é apresentada. Não me culpe; critique seus congêneres. O estoque de capital será adulterado em proporção à inflação provocada pela meia dúzia de burocratas estatais que acreditam – ou simulam acreditar – no controle da moeda e da produção por parte do estado.

    Empreendedores estão constantemente atentos às oportunidades de lucro não descobertas; atentos às demandas não atendidas; aos desejos mais urgentes dos consumidores. Precisam vislumbrar o que será desejado e a que preços para, então, averiguarem se é possível produzir a custos suficientemente baixos. Esse processo é atrapalhado de maneira proporcional aos ditames e controles governamentais que prejudicam a solidez da moeda.

    “Entesouramento acelera a deflação se for generalizado, mas isso por si só denota uma situação desconfortável em que a confiança na economia está muito baixa e pode retroalimentar uma recessão em curso.”

    Crises geradas por tumultos na economia via estado. Empreendedores e indivíduos em geral se resguardam e, para não perder a oportunidade, alega-se a necessidade de “socializar os investimentos”, “estimular a demanda agregada” e “garantir o pleno emprego”. O processo de liquidacao (recessão) é imprescindível. O reajuste dos preços é inevitável. A redução do consumo aumenta o valor da unidade monetária entesourada, reduzindo o preço dos ativos que foram aditivados durante a fase expansionista. As dívidas são reduzidas e a poupança restaurada. Inicia-se uma nova prospecção por parte de produtores e, posteriormente, por parte dos consumidores.
    Roteiro das últimas decadas: o estado incendia sua residência e propõe utilizar querosene como regulamentação.

    “A crise a qual vc se refere sim, mas a que veio logo depois, foi bem mais severa, complexa, demorada e não foi com redução de gastos que foi superada.”

    Corte de 50% dos gastos federais, reducão de impostos para todas as faixas de renda e redução da dívida pública em mais de 30%. Pouco mais de um ano até ser sanada, como dito, a crise gestada pelo governo.
    Apesar de não ser ensinada nos cursos tradicionais de economia, no mínimo foi tão impactante quanto à crise de 29. E ainda que não fosse o caso, isto é irrelevante para constatarmos que este é o caminho correto. Uma crise de porte maior apenas ensejaria um dispensa ainda maior da participação das inerentemente maléficas intervenções da máfia que você deve apelidar de estado.

    A crise seguinte durou 15 anos, tendo como resposta inicial uma prévia do New Deal de Hoover, com aumento dos gastos em 87% em termos reais, elevação da alíquota máxima do imposto de renda para 63% e implementação da Tarifa Smoot-Hawley. As políticas ainda mais dementes e prolongadas de Roosevelt apenas levaram o país a um caos ainda mais consternante. 13 milhões de desempregados em seu auge, em linha com suas intervenções. Aqui está a sua “capacidade ociosa”.

    “Verdade, mas a desregulamentação financeira e o livre trânsito de capitais especulativos deu um grande empurrão nisso tudo. Crises cíclicas são inerentes ao capitalismo, infelizmente!”

    Não, são intrínsecas às perturbações causadas ao mercado pelos governos.
    “Crises habituais, explosão dos gastos públicos, redução do crescimento econômico e afins passam a ser a infeliz realidade dos últimos 50 anos de experiência com moeda FIAT”.
    Isto, por si só, aponta uma gigantesca regulamentação, não o oposto. Em conjunto com esses eventos, surge mais uma miríade de regimentos. “A ideia de que os bancos e as finanças são desregulamentados é simplesmente ridícula. Existem várias agências reguladoras em nível estadual, federal e internacional. Thomas Woods relata que existem mais de 12.000 burocratas dedicados à regulamentação financeira somente em Washington DC e que os gastos ajustados pela inflação triplicaram desde o início da “desregulamentação” em 1980. Existem pelo menos 115 agências que regulam o setor financeiro apenas nos níveis estadual e federal”, aponta Mark Thornton.

    “Prezado Imperion, não?! Ou seja, se uma empresa está com um conjunto de máquinas paradas que poderiam estar em operação, produzindo bens e gerando empregos, além de contribuir para gerar empregos acima na cadeia de produção e isso tudo não ocorre pois o nível de atividade macroeconômica é insuficiente, a capacidade não se classifica como ociosa?! Mas agora vc me deixou muito curioso!!!! Vejam só: o conceito não existe!!!!”

    Se ocorreu uma má alocação de recursos generalizada guiada pela falsificação do sistema de preços através de expansão artificial creditícia e monetária, não deve ser exatamente a entidade que provocou o descalabro a tentar corrigi-lo.

    Recursos foram imobilizados durante a fase expansionista; estes utilizados em investimentos que se apresentaram insustentáveis no longo prazo. A economia está mais desabastecida, com menos capital, pois houve consumo de recursos através de falsos sinais provocados pela interferência estatal. O processo de correção ocorrerá tão logo o governo retire suas patas.

    Por outro lado, existem más alocações pontuais decorrentes de uma má visualização do empreendedor acerca do uso produtivo de um bem; uma má antecipação da demanda futura. Caso haja intervenção, essa realocação para estruturas de produção que atendam às expectativas e demandas dos consumidores é prejudicada pelos mesmos exatos motivos.

    “De outro, um país com uma mentalidade produtivista e um Estado forte, técnico e intervencionista.”

    A liberdade nos EUA vem sendo atacada fortemente principalmente nos últimos 50 anos, e eu diria que o processo foi ainda exacerbado nos últimos 20 anos. Não há dúvida. Mas o comentário sobre a China passou do nível da piada.

    (Espero que o texto vá com a formatação correta. Eu disponho de uma maneira, mas por vezes é postado todo destrambelhado)

  10. Talvez Keynes possa ser resumido em duas rápidas observações. De acordo com ele:

    1) Se o governo colocasse dinheiro dentro de garrafas e escondesse essas garrafas por todo o país, isso traria efeitos econômicos benéficos, pois as pessoas teriam um incentivo para sair aleatoriamente cavando buracos à procura dessas jarras cheias de dinheiro. E isso iria estimular a economia.

    2) A teoria da produção se adapta muito mais facilmente às condições de um estado totalitário, e não às condições de livre concorrência. (Keynes era um admirador declarado do programa econômico nazista e escreveu o prefácio da edição alemã da Teoria Geral.

  11. “Se houver ambiente de oportunidades, ok, se ñ houver e essa percepção for generalizada, crise. A redução do consumo aumenta o valor da unidade monetária entesourada?! Sempre?! Consulte o tal “roteiro das últimas décadas” e veja como nos períodos de elevação dos preços básicos e queda do consumo a inflação contaminou toda cadeia de formação de preços fazendo inclusive a unidade monetária entesourada derreter.”

    De fato, a inflação contamina toda a formação de preços. Certíssimo! Acertou, apesar de imputar ao termo outro significado, provavelmente. Claro que derrete! Este é o ponto. É evidente que Pesos Argentinos entesourados, suponhamos, iriam continuar sendo diluídos; é obvio ululante que a economia argentina não poderia passar por um processo de correção com um governo cada vez mais avassalador e que seguiu deliciosamente a MMT. Questionar o aumento do intervencionismo estadunidense também enseja preguiça.
    Investimentos de longo prazo que foram realizados mostram-se ociosos porque os empreendedores foram guiados por um sistema de preços contaminado pela expansão monetária. Os juros de longo prazo – preço importantíssimo de ser salientado – sofreram alteração. Sempre há demanda a ser satisfeita e agentes ávidos por lucros. Entesouramento não ocorre de maneira aleatória; as pessoas estão se protegendo de algo, buscando preservar suas riquezas.

    A expansão monetária perverte a produção, causando a errônea percepção de que setores até então não lucrativos agora são rentáveis. Recursos escassos são retirados de outros setores e direcionados para estes. Quando os juros sobem, a expansão do crédito é interrompida(ou severamente reduzida), a expansão monetária é enfraquecida e a renda nominal e a demanda param de crescer. Neste ponto empreendedores descobrem que seus investimentos não tinham a demanda imaginada. Mas veja, ora, a culpa não é da política monetária, e sim do “espírito animal”!
    O aumento do consumo resulta do aumento da quantidade de dinheiro na economia, causando aumento de gastos e da renda nominal. Não houve uma mudança na preferência dos consumidores permitida por um genuíno aumento da poupança – de onde advém o capital. É a poupança que permite o investimento, portanto; não o oposto, como defendem keynesianos.

    Quanto menos o governo interferir, como ocorreu na primeira grande crise supramencionada, mais rápida essa liquidação e realocação de recursos e bens de capital ocorrem de maneira a efetivamente atender as mais urgentes demandas dos consumidores.

    A resposta do keynesianismo, claro, diz respeito à socialização dos investimentos, “estímulo à demanda agregada” e “garantia de retorno ao pleno emprego”. Inclusive, isso pode ser feito enterrando garrafas com dinheiro, como diria Keynes. E os ciclos se perpetuam.

    Ora, por qual motivo tão enigmático os manuais de economia tradicionais e os governos empregam uma visão que permite enorme interferência estatal? É realmente curioso.

    Como disse Thomas Woods em um outro contexto, mas que pode aqui ser aplicado:
    “Espere aí, você está me perguntando por que motivo todas aquelas pessoas que estão em uma posição de poder absoluto e que podem dar ordens e espoliar a população impunemente não abrem mão deste poder e voluntariamente renunciam? Ótima pergunta!”

    Não existe “cosmologia” alguma. Existe apenas uma esfera exercendo poder coercitivo sobre os indivíduos e pregando a eficiência de um “Politburo”.

    Keynes não entendia – ou fingia não entender – como indivíduos investiam recursos em empreendimentos com seus variados graus de risco de modo a permitir a economia crescer a pleno emprego. Daí o termo “espírito animal”. Não é mera busca por lucro, e sim ingenuidade por parte de empreendedores que ignoram riscos, explica o Lord.

    E assim, ele chega a brilhante e conveniente conclusão de que o estado deve controlar os dois lados do mercado de capitais: determinando a oferta de capital através de um banco central que tem o poder de inflacionar a oferta monetária por meio da expansão do crédito, e socializando esse capital por meio de política regulatória e fiscal. Tudo isto justificado por intermédio da noção intrepitosa dos “otimismos” e “pessimismos” por parte dos empreendedores que promovem gastos estimuladores e entesouramentos depressivos.

    Ora, vejam só! De novo: por qual motivo obscuro essa noção é venerada por governos e ensinada em universidades que cheiram a mofo socialista? Apenas um gênio descobrirá essa soberba charada!

    No mais, estou me repetindo em grande parte da resposta. Estamos todos aqui em cansativos circuitos.

  12. Dinheiro é útil pelo seu valor de troca. Ele não é injetado e “utilizado pelos agentes para produzir valor”. O aumento da oferta de OUTROS bens possibilita satisfazer a necessidade de mais consumidores.

    Essa manipulação monetária irá corroer o sistema de preços por meio do qual os agentes efetivamente geram valor. O desestímulo à poupança está em paralelo, o que impacta frontalmente a formação de capital.

    A produção(oferta) possibilita a demanda. Não se consome o que não existe. Como explicou Böhm-Bawerk, quando seu funcionamento é permitido livremente, o mercado garante que as demandas tendem a igualar a oferta. Os horizontes temporais dos investimentos se tornam compatíveis com a poupança disponível necessária para manter e ampliar a estrutura do capital no longo prazo.

    Os seus “economistas” da Unicamp favoritos não têm a menor ideia do nível de oferta monetária “ideal” – por mais que acreditem ser iluminados econometristas que podem compreender toda a virtualmente infinita complexidade das trocas econômicas. Isso é de uma prepotência abismal.

  13. Não dedicarei meu tempo e paciência, portanto, a alguém que nega o socialismo e todos os seus tons. Não irei amiudar argumentos que são simplesmente desconsiderados para sua própria conveniência. E foram diversos. Agora restou a China.

    Patentemente, “o capitalismo é o que nos resta”. Este dislate me faz ter mais complacência para debater com quem defende que a Terra é um hexágono suportado por uma tartaruga.

    Sobre a China, você sequer entendeu meu semblante; apenas o observei perfazendo sua defesa intervencionista citando aquele país da maneira mais vulgar que poderia haver.

    O Brasil tem a indecência salutar para acometer a propriedade privada a níveis superiores aos encontrados na China, vale começar ressaltando. Há neste país um salseiro composto por determinado grau de respeito ao empreendedorismo e à propriedade privada, mercantilismo e superlativos programas de subsídios a investimentos guiados pelo Banco Central.

    O fato do país asiático ter consumido mais cimento em dois anos em comparação aos EUA durante todo o século XX é um despautério cristalino. As abominações do mercado de construção civil despertam a atenção de qualquer incauto.

    Todavia, como dito, esse debate perdeu qualquer valia. Deleite-se – ou não – com os artigos e livros indicados deste instituto.

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