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Economia

O fim da hegemonia do dólar está próximo

Quem tomará seu lugar?

08/08/2023

O fim da hegemonia do dólar está próximo

Quem tomará seu lugar?

Desde o fim da União Soviética, os Estados Unidos se tornaram a potência hegemônica e, como tal, sua moeda se tornou o meio mais viável de negociação em todo o mundo. O dólar se tornou sinônimo de poder, estabilidade e segurança. Todos os países começaram a utilizá-lo como reserva de valor, favorecendo os Estados Unidos ideológica, monetária e militarmente. Mas, agora em 2023, esse domínio global está sendo ameaçado. Seria esse o prelúdio do fim do império americano e a derrocada do dólar como moeda global?

A hegemonia do dólar começou a ser construída desde a criação do "petrodólar" em 1970, quando os produtores de petróleo passaram a negociar o ativo com a moeda americana. Como o petróleo é o bem mais "precioso" para o mundo atual, um poder imensurável de influência foi fornecido aos Estados Unidos. Os Yankees conseguiram firmar a confiança no dólar mesmo após o fim do padrão ouro, criando o "petrodólar" em conjunto com sua força militar. Caso algum país ameaçasse a soberania americana ou descumprisse os acordos, seria muito fácil impor sanções para que o rebelde exercesse seus deveres.

Entretanto, depois da crise de 2008, o país entrou em um problema sistêmico. O FED, o banco central americano, sempre manteve suas taxas de juros próximo a zero, fazendo a impressora americana criar dinheiro loucamente sem se preocupar com o aumento de sua base monetária. Por muito tempo, os países não questionaram a legitimidade do governo americano. Isso se manteve até a crise do COVID, que perdurou por dois anos, período em que o governo simplesmente criou 80% de todos os dólares existentes no mundo, de 4 trilhões de dólares em janeiro de 2020 para 20 trilhões em outubro de 2021. Mesmo assim, o FED continuou com sua taxa de juros próxima de zero, uma medida insustentável.

Além disso, todas as políticas adotadas para combater o problema sanitário criaram uma desaceleração econômica, aumentando mais ainda o impacto gerado pela inflação. Adicione a péssima gestão da administração Biden, as propostas para imprimir mais 3 trilhões de dólares e o plano Build Back Better, que jogaria mais alguns trilhões na economia americana. Mesmo que todos esses planos mirabolantes não tenham saído do papel, o simples fato dessas propostas existirem faz os investidores retirarem seu dinheiro do dólar, correndo para algo mais seguro e mais palpável. É por isso que temos alguns indícios de que a hegemonia americana pode estar em seu declínio.

 

Razões para o colapso

Primeira: com a guerra entre Ucrânia e Rússia, alguns países utilizaram a desculpa das sanções americanas em cima dos russos para trocarem suas reservas de valor para outras moedas, para não sofrerem com uma pressão ocidental futuramente. Vale ressaltar que, com essa movimentação, países isolados não têm como escapar da dependência de outro país, já que até empresas que negociarem com eles sofrerão sanções. Entretanto, isso beneficia muito a China, que, mesmo se encontrando em um momento de crise devido ao seu mercado imobiliário, pode respirar por reter dinheiro de países como Irã, Índia, Turquia e Rússia.

Segunda: as reservas de dólar em todos os países podem não ser reservas de verdade. Com as sanções impostas pelo governo americano sobre a Rússia, o governo dos EUA apreendeu as reservas em dólares americanos do banco central russo, ou seja, as economias acumuladas da nação. Agora, existem dois pontos que precisam de atenção. Se as próprias reservas criadas por outro país podem ser confiscadas pelos Estados Unidos, isso significa que o dinheiro nunca foi desta união e isso gera uma desconfiança ainda maior para pessoas e governos que usam essa moeda como reserva de valor, afinal, o que impede os Estados Unidos de fazer um cosplay de Fernando Collor e confiscar todo o dinheiro? O Wall Street Journal lançou um artigo intitulado “Se as reservas de moeda russa não são realmente dinheiro, o mundo entrará em choque”, alertando que:

“As sanções mostraram que as reservas monetárias acumuladas pelos bancos centrais podem ser retiradas. Com a China tomando nota, isso pode reformular a geopolítica, a gestão econômica e até o papel internacional do dólar americano”.

Terceira: o colapso do petrodólar pode estar acontecendo diante dos nossos olhos. O governo americano sempre teve na palma da mão todos os outros governos, com a simples ameaça de removê-los deste sistema criado no início dos anos 1970. Os Estados Unidos fizeram um acordo para proteger a Arábia Saudita em troca de garantir, entre outras coisas, que todos os produtores da OPEP só aceitassem dólares americanos por seu petróleo. Assim sendo, todo país que precisa de petróleo também precisa de dólares americanos. Porém, a China vem criando seu próprio sistema desde 2017, já que o governo americano conseguiria lançar uma bomba nuclear econômica em cima do governo chinês caso fizesse qualquer movimentação hostil, como invadir Taiwan.

Devido a isso, os chineses lançaram um contrato futuro de petróleo bruto comprado usando yuan chinês, em 2017. Desde então, qualquer produtor de petróleo pode vender seu produto por algo além de dólares americanos, neste caso, yuan chinês. Há um grande problema, no entanto. A maioria dos produtores de petróleo não quer acumular uma grande reserva de yuans, e a China sabe disso. É por isso que a China vinculou explicitamente o contrato futuro de petróleo à capacidade de converter yuan em ouro físico, sem tocar nas reservas oficiais da China, através das bolsas de ouro em Xangai, o maior mercado de ouro físico do mundo, e em Hong Kong.

 

Conclusão

Mas todos esses fatores apontam que a nova ordem monetária será com o yuan chinês? NÃO! A China é um país muito mais fechado que os Estados Unidos, e tem os mesmos problemas e tendências de erro que o FED cometeu, entretanto, com uma escala muito maior. Sendo um país ditatorial, a qualquer momento, o partido comunista chinês poderia ordenar que o banco central da China emitisse dinheiro loucamente. E mesmo que o país possua sua reserva em ouro, eles simplesmente poderiam dar um calote fiscal e não ter ouro ou outros ativos para sustentar sua impressão de dinheiro.

Visto que o yuan não tem capacidade para substituir o dólar como moeda global, quem iria? As pessoas estão buscando algo que seja seguro, que não tenha um controle central para ser manipulado de qualquer maneira sem uma responsabilidade fiscal. No final, não será um governo ou uma entidade que irá ditar qual será a nova moeda global, mas os indivíduos de forma espontânea. A minha aposta é que seja o Bitcoin, já que todos os pontos fracos das moedas fiduciárias e até mesmo das outras shitcoins não são observados nele. Com um crescente aumento de uso e de familiarização, o Bitcoin logo se tornará a moeda global e não há nada que os governos possam fazer para evitar isso.

Sobre o autor

Mateus Leite

Assessor parlamentar na ALESE – Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe, graduando em direito pela UNIT-SE.

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