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Economia

Estudar o clima não faz de você um especialista em economia e política

A grande arrogância do “Acordo Climático de Paris”

04/06/2017

Estudar o clima não faz de você um especialista em economia e política

A grande arrogância do “Acordo Climático de Paris”

Em resposta ao anúncio do governo Trump de que estava os retirando os EUA do Acordo Climático de Paris, alguns de seus críticos declararam que qualquer pessoa que goste de "ciência" teria apoiado o acordo.

Não surpreendentemente, o cientista-celebridade Neil deGrasse Tyson não perdeu tempo em declarar que Trump defendeu a retirada porque sua administração "nunca aprendeu o que é Ciência nem como e por que ela funciona".

Mas o que exatamente a "Ciência" (Tyson escreve com maiúscula por algum motivo insondável) tem a ver com acordos políticos?

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"Se eu e meus conselheiros jamais tivéssemos aprendido o que é a Ciência ou como e por que ela funciona, eu também sairia do Acordo Climático de Paris."

Sabemos que Tyson é da opinião de que há aquecimento global. Também sabemos que vários outros cientistas concordam com ele.

Porém, concordar com Tyson na questão das mudanças climáticas não significa que alguém deve, lógica e necessariamente, defender o Acordo Climático de Paris. Afinal, o Acordo Climático de Paris não é um estudo científico. Trata-se meramente de um documento político que estipula uma agenda específica de políticas públicas a serem adotadas por vários governos ao redor do mundo.

Você concordar ou discordar com os termos do Acordo pode até ser um indicador do que você pensa sobre a ciência climática. Mas pode também não ser indicador nenhum. É perfeitamente possível aceitar que há mudanças climáticas e que os seres humanos têm um grande papel neste fenômeno; entretanto, concordar com isso não significa que você tem necessariamente de aceitar se submeter às políticas públicas compulsórias impostas pelo documento de Paris.

Ambos são fenômenos totalmente independentes.

Ciência e política não são a mesma coisa

Uma analogia pode ajudar a ilustrar essa dicotomia.

Pesquisas científicas mostram que a obesidade faz mal para a saúde. Imaginemos, então, que, em resposta a crescentes taxas de obesidade, vários políticos decidem se reunir e assinar um acordo para dizer 'não' à obesidade -- chamemos esse acordo de Força Orquestrada pelo Fim da Obesidade (FOFO). Os políticos que defendem tal acordo alegam que o tratado irá reduzir a obesidade, e afirmam peremptoriamente que o país que não aderir aos seus ditames estará condenando a humanidade a uma grave crise de saúde.

Pergunta: algum político que eventualmente não assinar este acordo é automaticamente um "negacionista da obesidade"[1]? Uma recusa em não fazer parte de tal acordo prova que os dissidentes acreditam que a obesidade não é uma coisa real?

Obviamente que não.

Aqueles que se recusam a assinar o acordo podem ser da opinião de que o FOFO nada faz para efetivamente reduzir a obesidade. Ou então acreditam que o acordo não faz uma ponderação adequada entre os custos e os benefícios de impor suas diretivas. Em suma, os oponentes podem simplesmente acreditar que "a cura é pior que a doença".

Em qualquer caso, discordar do acordo nada tem a ver com negar a existência da obesidade ou a ciência por trás dos estudos da questão.

O problema com Paris

O mesmo é válido para o acordo de Paris. Aqueles que discordam do documento podem perfeitamente estar -- e provavelmente estão -- se opondo a algumas cláusulas específicas do acordo, as quais podem, com efeito, acabar sendo muito mais custosas para as pessoas do que o suposto aquecimento global propriamente dito.

Porém, para cientistas como Tyson -- isto é, pessoas que nada sabem sobre economia ou instituições políticas --, políticas públicas funcionam como truques de mágica: um grupo de políticos se reúne, declara que irá solucionar o problema X, e então, voilà!, o problema X é magicamente solucionado -- desde que, é claro, todos apóiem irrestritamente a "solução".

Mas e se as soluções políticas propostas pelos políticos reunidos em Paris forem erradas? Ou, e se a cura for pior que a doença?

Presumivelmente, o acordo deveria melhorar as vidas de todos os seres humanos do planeta em decorrência de políticas que irão aprimorar seu padrão de vida. Se isso for verdade, então, por definição, o acordo de Paris tem necessariamente de realizar várias coisas:

1. Ele deve se basear em uma ciência sólida e irrefutável sobre o clima.

2. Ele deve prever, com perfeição e acurácia, os efeitos das mudanças climáticas nos padrões de vida.

3. Ele deve endossar políticas públicas que irão mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas nos padrões de vida de todos.

4. Ele deve demonstrar que essas políticas públicas irão realmente mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

5. Ele deve demonstrar que os custos das políticas públicas propostas são menores que os eventuais custos das mudanças climáticas.

Se o acordo de Paris for incapaz de efetuar qualquer um destes itens, então ele deve ser sumariamente rejeitado. Se o resultado líquido do acordo for o de deixar as pessoas economicamente mais pobres, então o acordo não possui valor nenhum.

Agora, sem fazer qualquer juízo quanto à ciência climática em si, podemos constatar ao simplesmente lermos o acordo de Paris que ele pode facilmente ser rejeitado com base nos itens dois, três, quatro e cinco da lista acima.

Afinal, o acordo é baseado em previsões políticas que são totalmente especulativas. O acordo tenta fazer previsões sobre como será a economia global daqui a décadas (um comportamento notoriamente falível e nada confiável) e é incapaz de honestamente levar em conta as verdadeiras consequências de se impor, coercivamente, custos energéticos extremamente mais caros para as pessoas mais pobres e trabalhadoras do mundo -- que é o que o acordo quer fazer na prática.

Com efeito, o acordo nem sequer menciona os custos para as famílias -- as quais, caso o acordo entre em vigor, teriam de lidar com essa energia muito mais cara.

Os únicos custos mencionados são os custos de adaptar às mudanças climáticas. Em outras palavras, o acordo assume que não haverá absolutamente nenhum efeito negativo para as famílias. Difícil haver indício mais claro do que este de que se trata de uma farsa.

Também ignorado é o custo de oportunidade de se adotar as cláusulas do acordo. Na vida real, a adoção das prescrições políticas do acordo irá reduzir o crescimento econômico, pois haverá uma redução no acesso a recursos energéticos básicos.

E há também contradições insanáveis. Ironicamente, uma das consequências de se reduzir a riqueza das famílias será uma redução na arrecadação tributária dos governos. Dinheiro que será gasto -- por pessoas e governos -- com energia mais cara é dinheiro que não poderá ser gasto em outras áreas, como saúde, educação e pesquisa sobre melhores práticas agrícolas. Ao mesmo tempo, o acordo também requer uma volumosa política de redistribuição de renda e sugere amplos gastos governamentais em vários programas, como "preparações emergenciais" e "seguros" governamentais para bancar os efeitos dos desastres naturais.

Assim, o acordo clama por mais gastos públicos ao mesmo tempo em que reduz a capacidade tanto do setor público quanto do setor privado em incorrer em tais gastos.

Trata-se de um comportamento totalmente contraditório e, ao mesmo tempo, autodestrutivo.

Menos energia significa menos água limpa

Outro fator de extrema importância, e também ignorado pelo acordo, é a necessidade de energia para a produção e distribuição de água limpa. A água potável é um recurso escasso, mesmo que o governo goste de tratá-la como se não fosse.  

Mesmo com a crescente demanda originada por populações cada vez maiores, água limpa e potável pode ser produzida por meio do uso de energia intensiva, como dessalinização e aquedutos com bombeamento.

Hoje, esses métodos ainda não são economicamente viáveis porque o problema da escassez de água pode ser resolvido por meios mais baratos, como transposição de rios e o uso de aquedutos que trabalham com a força da gravidade.

No futuro, no entanto, à medida que a população for crescendo e a água for se tornando cada vez mais escassa, a resposta mais prática para o problema terá inevitavelmente de passar por soluções que requerem um uso mais intenso da energia.

Só que, ao defender o planejamento centralizado e ao limitar artificialmente o uso de energia, o que o lobby do aquecimento global quer fazer é elevar o custo do processamento de água e, ao mesmo tempo, inibir o progresso tecnológico que resultaria da experiência prática na produção e processamento de água potável.

Os defensores do Acordo Climático de Paris irão, sem dúvida, responder dizendo que as cláusulas do acordo irão, de alguma maneira, surpreendentemente evitar a necessidade de mais gastos com água pura no futuro, pois as temperaturas globais serão reduzidas. Mas com que evidência afirmam isso? Baseando-se em modelos computacionais extremamente especulativos que estimam o que irá acontecer daqui a décadas?

Com evidências tão frágeis, é fácil ver por que é mais sensato manter as políticas que existem hoje (e que ao menos farão aparecer um pássaro na mão) a adotar as políticas públicas impostas pelo acordo de Paris (e suas promessas de dois pássaros voando).

Nem os próprios acreditam

Sabemos que podemos ajudar os pobres hoje com energia barata, maior capacidade produtiva, e uma economia robusta. Já o Acordo de Paris apenas promete ajudar pessoas hipotéticas no futuro baseando-se em um regime de políticas públicas teóricas e nunca tentadas.

Várias pessoas prudentes escolheriam a primeira opção.

Ademais, várias pessoas do próprio lobby do aquecimento global reconhecem que o Acordo do Paris nada fará para reduzir as temperaturas no futuro. Assim, a prudência sugere que investimentos em tecnologia e em medidas já conhecidas de alívio à pobreza (como aquelas que estimulam maior comércio e maior investimento em capacidade produtiva) irão ajudar os pobres agora mesmo. Já adotar políticas que afetam nossa capacidade de investir nestas medidas -- como faz o Acordo de Paris -- irá apenas piorar a situação.

Conclusão

Deixar a ciência econômica e a economia política nas mãos de cientistas climáticos e de políticos, os quais tendem a ser irrecuperavelmente obtusos no que tange ao conhecimento de como economias funcionam e de como os bens escassos podem ser preservados, obtidos ou manufaturados, é uma péssima ideia.

No mundo real, onde cabeças mais racionais tendem (ocasionalmente) a prevalecer, os custos de qualquer ação governamental devem ser comparados aos custos das alternativas.  Mais ainda: o ônus da prova recai sobre aqueles que querem a intervenção estatal, já que seus planos dependem do uso da violência do estado para impingir o cumprimento das ordens propostas.

Mesmo as pesquisas convencionais (pró-regulação) reconhecem que os cortes de emissões propostos, como cortar "emissões de CO2 para 80% dos seus níveis de 1990", são puramente arbitrários.  Com efeito, eles têm de ser arbitrários, pois as próprias pessoas que defendem tais medidas não fazem a mais mínima idéia de em quanto as emissões de gás carbônico devem ser cortadas para atingir suas metas, ou mesmo se existe um nível de cortes que seja suficiente para atingi-las.

Dessa maneira, um mundo com controle de emissões de gás carbônico e outros planejamentos centralizados com o objetivo de evitar o aquecimento global é um mundo de preços mais altos para todos quando se trata de comida, água e qualquer necessidade básica que envolva o uso de energia. Ou seja, quase tudo.

Naturalmente, as pessoas nos países mais pobres e menos industrializados sofrerão mais. O lobby do aquecimento global gosta de alegar que as suas políticas são voltadas principalmente para os países ricos. Mas, se eles acreditam que isso irá poupar o mundo subdesenvolvido, isso só comprova que eles não entendem o funcionamento de uma economia globalizada. Esmagar a atividade econômica e o consumo no mundo desenvolvido fará apenas com que os salários e o crescimento econômico nos países em desenvolvimento sejam reduzidos.

Ainda assim, no mundo imaginário dos cientistas climáticos que ignoram as complicadas realidades da economia e das políticas públicas, simplesmente desejar que algo aconteça é o que basta para que esse algo realmente aconteça. Se apenas desejarmos, com muito ardor, que todos os nossos problemas sejam resolvidos, então é claro que aquelas boas pessoas que ocupam cargos burocráticos nos governos farão exatamente com que isso ocorra.

 


[1] Vale ressaltar que a tática de chamar alguém de "negacionista" é uma mera tentativa de intimidação. 'Negacionista' é um termo oriundo diretamente daqueles que negam a veracidade do Holocausto. Ao chamarem dissidentes de "negacionistas", os defensores da tese do aquecimento global antropogênico estão recorrendo ao torpe truque de dizer que quem é cético quanto a políticas públicas está na mesma categoria de quem nega as atrocidades do nazismo.

Este truque retórico, por si só, revela tudo o que você precisa saber sobre o nível de manipulação incorrido pelos adeptos do planejamento climático e mostra até onde os planejadores climáticos estão dispostos a ir para concretizar seus planos, independentemente do ceticismo popular -- e justificado -- sobre a eficácia de suas políticas regulatórias e distributivistas.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Ryan McMaken

Ryan é bacharel em economia e mestre em políticas públicas e relações internacionais pela Universidade do Colorado. É editor sênior do Mises Institute

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