segunda-feira, 2 mar 2015
Todo
político adora falar que defenderá "os direitos" dos trabalhadores custe o que
custar, que jamais cederá, e que manterá os "benefícios conquistados".
A
questão é: há realmente algum ganho para o trabalhador? Ou há apenas ônus?
Na
prática, ao impor encargos sociais e trabalhistas — todos eles custeados pelo
próprio trabalhador, como será mostrado mais abaixo —, o governo está dizendo
que sabe administrar melhor o dinheiro do que o próprio trabalhador.
Mais
ainda: se o trabalhador é obrigado a pagar por seus "direitos", então ele não
tem um direito, mas sim um dever.
Os
tais "direitos trabalhistas" nada mais são do que deveres impostos pelo governo
ao trabalhador. E, para arcar com esses
deveres, a maior parte do salário do trabalhador é confiscada já na hora do
pagamento.
Somente
para bancar os benefícios básicos — férias, FGTS, INSS, encargos sobre aviso prévio
— são confiscados R$ 927 mensais de um trabalhador que recebe em suas
mãos salário mensal de R$ 1.200.
Um
funcionário trabalhando em regime
CLT, com um salário contratado de R$ 1.200, custará efetivamente
ao seu empregador 80% a mais do que o seu salário. (Há ocasiões em que chega a custar até 3 vezes mais).
Confira
a tabela abaixo:

Fonte:
http://www.campesi.com.br/custofunc.htm
Ou
seja, por causa dos encargos sociais e trabalhistas impostos pelo governo, o
patrão tem um gasto de R$ 2.127 com o trabalhador, mas o trabalhador recebe apenas
R$ 1.200. Toda a diferença vai para o
governo (exceto o item férias, o qual, por sua vez, será disponibilizado apenas uma vez por ano, e que seria mais bem aproveitado pelo trabalhador caso tal quantia fosse aplicada).
E
há quem acredite que isso configura uma "conquista trabalhista" e um "direito
inalienável do trabalhador".
Mais
ainda: esses não são os únicos custos para o patrão. Em primeiro lugar, os custos podem variar
ainda mais conforme o sindicato de classe, o regime de apuração da empresa e o ramo
de atividade. Há
ocasiões em que os encargos sociais e trabalhistas podem chegar a quase
102% do salário. Adicionalmente, a
empresa também tem de ter uma reserva para gastar em tribunais, pois sempre há funcionários
saindo e acionando a empresa na Justiça do Trabalho. Há também os custos de recrutamento de
funcionários, os quais aumentaram muito em decorrência da política de
seguro-desemprego e bolsa- família. E
quem paga todos esses custos são os trabalhadores.
Eu
mesmo, na condição de empresário, preferiria pagar R$ 2.200 por mês para um
funcionário em um país sem encargos e leis trabalhistas do que R$ 1.200 no
Brasil. Com esse salário mais alto eu
teria, no mínimo, funcionários mais motivados.
Mas, como não sou uma fábrica de dinheiro, não tenho condições de fazer
isso.
Mas
a espoliação do trabalhador é ainda pior do que parece. Veja, por exemplo, o que acontece com o FGTS. Essa quantia, que poderia ser incorporada ao
salário do trabalhador, é desviada para o governo e só pode ser reavida em
casos específicos (ou após a aposentadoria).
Na
prática, o governo "pega emprestado" esse dinheiro do trabalhador e lhe paga
juros anuais de míseros 3%. Dado que a
caderneta de poupança rende 7% ao ano, e a inflação de preços está em 7,2% ao
ano, o trabalhador não apenas deixa de auferir rendimentos maiores, como ainda
perde poder de compra real com a medida.
E
para onde vai o dinheiro do FGTS? Uma parte vai para
subsidiar o BNDES e a outra vai para financiar a aquisição de
imóveis — algo completamente sem sentido, pois a aplicação desse dinheiro
na caderneta de poupança já permitiria ao trabalhar obter o dobro do rendimento
e, com isso, ter mais dinheiro para comprar imóveis.
E
vamos aqui dar de barato e desconsiderar as cada vez mais frequentes notícias
de uso indevido desse dinheiro. (R$
28 bilhões de reais do FGTS foram investidos pelo BNDES em várias empresas, mas
não há nenhuma informação sobre quais empresas receberam o dinheiro, quanto
receberam, e quais as condições de pagamento).
No
caso do INSS, R$ 398,46 são confiscados mensalmente com a promessa de que o
trabalhador irá receber saúde (SUS), seguro de vida e previdência. Não irei aqui comentar sobre a qualidade e a
confiabilidade destes três. Irei apenas
dizer que, caso o trabalhador tivesse a opção de ficar com este dinheiro, ele
poderia recorrer ao mercado privado e voluntariamente contratar um plano de
saúde, um seguro de vida e previdência por R$ 300 e ainda receber um serviço
melhor do que o do SUS.
(E,
se o governo eliminasse os impostos sobre esses
setores, bem como abolisse toda a regulamentação, o
valor poderia baixar para R$ 200, e o trabalhador poderia obter um serviço de maior qualidade.)
Por
fim, o aviso prévio faz com que muitas empresas demitam os funcionários sem
necessidade. Por exemplo, se uma empresa
está passando por uma fase difícil e não tem certeza de que poderá manter o
funcionário por mais de um mês, será mais racional demitir para não correr o
risco de mantê-lo por mais tempo e, consequentemente, não poder honrar suas
obrigações trabalhistas depois.
O
aviso prévio também trava as empresas, que podem se ver obrigadas a demitir um
funcionário produtivo, mas que ainda está no período de experiência, e ao mesmo
tempo manter um funcionário improdutivo, mas que já cumpriu o período de
carência. Tudo isso só para não pagar o
aviso prévio.
Esse
custo da improdutividade será descontado de todos os funcionários.
E
tudo isso para não mencionar os outros impostos que incidem sobre as empresas e
que afetam sobremaneira sua capacidade de investir, de contratar e de aumentar
salários. No Brasil, a alíquota máxima
do IRPJ é de 15%, mas há uma sobretaxa de 10% sobre o lucro que ultrapassa
determinado valor. Adicionalmente, há
também a CSLL
(Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido), cuja alíquota pode chegar a 32%, o
PIS, cuja alíquota chega a 1,65% e a COFINS, cuja alíquota chega a 7,6%.
PIS e COFINS incidem sobre a receita bruta. Há também o ICMS, que varia
de estado para estado, mas cuja média nacional beira os 20%, e o ISS municipal. Não
tente fazer a conta, pois você irá se apavorar.
O
custo de todo esse sistema para o trabalhador é muito maior do que as eventuais
vantagens que ele possa oferecer (se é que há alguma).
Dado
o atual arranjo, seria muito mais proveitoso tanto para o trabalhador quanto
para as empresas dobrar o
salário-mínimo e eliminar os encargos
sociais e trabalhistas. Haveria
mais dinheiro nas mãos de cada trabalhador, haveria uma mão-de-obra mais
motivada, e ainda atrairíamos muito mais empresas para o país, o que
naturalmente forçaria ainda mais o aumento natural dos salários. Isso, por si só, tornaria obsoleta a lei do
salário-mínimo, levando à sua extinção.
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Leandro
Roque contribuiu para este artigo.