O
homem é capaz de manejar ferramentas. Com muito treino e dedicação, ele pode ser capaz de manejá-las com total
exímio. Ele pode se tornar produtivo e
atingir limites que parecem impossíveis para terceiros.
Mas
um homem sozinho não pode fazer muita coisa. Sua qualidade de vida será extremamente baixa caso não haja uma divisão do trabalho, isto é, caso outros
indivíduos também dediquem suas habilidades àquilo que sabem fazer melhor.
Segundo
Ludwig von Mises,
Tão logo o trabalho é dividido, a própria divisão passa a exercer
uma influência diferenciadora. O fato de o trabalho ser dividido
possibilita um maior aperfeiçoamento do talento individual, o que por si só já
faz com que a cooperação seja ainda mais produtiva.
Por meio da cooperação, os homens são capazes de alcançar
aquilo que estaria além de suas capacidades enquanto indivíduos; e até mesmo o
trabalho que um indivíduo é capaz de realizar sozinho se torna mais
produtivo.
Porém, tudo isto só pode ser entendido em toda a sua
complexidade quando as condições que governam o aumento da produtividade sob a
cooperação são especificadas com precisão analítica.
A divisão do trabalho é um arranjo em que cada indivíduo se especializa naquilo em que é bom e, desta maneira, ganha seu sustento produzindo — ou ajudando a produzir — um bem ou um serviço.
A divisão do trabalho — cujo desenvolvimento pleno só pode existir sob o sistema capitalista, em que há liberdade de preços e o uso do dinheiro para fazer cálculo de custos e benefícios —, além de beneficiar a todos ao criar mais bens e serviços, também proporciona enormes ganhos ao multiplicar a quantidade de conhecimento que entra no processo produtivo.
Cada ocupação distinta, cada sub-ocupação — desde o neurocirurgião ao entregador de pizza —, possui seu próprio e único corpo de conhecimento (a soma de todo o conhecimento em uma dada especialidade). Em uma sociedade capitalista, baseada na divisão do trabalho, a quantidade de corpos de conhecimento distintos que participam do processo de produção é proporcional à quantidade de ocupações existentes. E a totalidade desse conhecimento opera em benefício de cada indivíduo consumidor, quando este adquire os produtos produzidos por outros.
Desta maneira, a multiplicação da quantidade de conhecimento que entra no processo produtivo gera, como consequência, um aumento contínuo e progressivo da própria quantidade de conhecimento.
A divisão do trabalho, consequentemente, é um sistema em que as necessidades de um indivíduo são supridas pelo trabalho efetuado por outros indivíduos.
E
foi justamente visando a analisar toda essa complexidade permitida pela divisão
do trabalho, que Leonard E. Read, fundador do instituto Foundation for Economic Education — o
primeiro moderno think tank libertário dos EUA —, escreveu em 1958 aquele que
é considerado até hoje o melhor e mais sucinto artigo sobre o funcionamento do
livre mercado e sobre os milagres operados pela divisão do trabalho: Eu, o lápis.
O
artigo mostra por que ninguém é capaz de construir sozinho um objeto tão
aparentemente simples quanto um lápis. Um simples lápis é um instrumento tão complexo, que todo o processo de
coordenação e cooperação necessário para fabricá-lo está muito além da
capacidade de imaginação de um ser humano comum.
Esta
constatação foi capaz de persuadir inúmeras pessoas acerca do poder e da
criatividade do livre mercado.
Desde
que foi escrito, há mais de meio século, este artigo permanece a pedra no sapato
coletivista de keynesianos e marxistas: os primeiros consideram o livre mercado
um arranjo ineficiente em termos de produção, um arranjo no qual o governo tem de
interferir e regular de modo a direcionar a produção para aqueles setores que
os burocratas do governo consideram mais importantes; já os últimos defendem
que a produção só será eficiente se o governo for o proprietário de dos meios
de produção e dos recursos naturais.
O
artigo de Read, ao apresentar tanto a teoria quanto a realidade, mostra quão
parvas são as afirmações destas duas ideologias.
Adam
Smith tornou-se famoso por apresentar o conceito da mão invisível do mercado, a
qual possibilitava a cooperação sem coerção. Já Friedrich Hayek deu ênfase tanto à importância do conhecimento disperso
pela sociedade quanto à função do sistema de preços em emitir informações que
farão com que os indivíduos façam as coisas desejáveis sem que nenhum comitê
central tenha de ditar ordens.
Nenhum
outro artigo consegue, de maneira tão sucinta, tão persuasiva e tão eficaz,
ilustrar o funcionamento prático de todos estes conceitos.
O
livre mercado, ao ampliar a divisão do trabalho, ao estimular a destreza, a
aptidão e a maestria suprema das pessoas, e ao permitir e estimular a
criatividade em larga escala, faz com que todas as civilizações se beneficiem
dos esforços de indivíduos.
Vemos
diariamente os resultados produzidos por estes incentivos. Sentimos diariamente os resultados trazidos
pela divisão do trabalho e pela criatividade. Tudo isto está multiplicado por bilhões de participantes. São poucas as pessoas que realmente entendem
como este sistema funciona.
A
melhor maneira de entender esta mágica é vendo o vídeo abaixo, que é uma
animação do artigo de Read. E, de quebra, você também entenderá por que idéias como lockdowns — que destroem toda a cadeia produtiva — são inerentemente anti-humanas.