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O Progresso Real vs. o Progressismo

28/05/2025

O Progresso Real vs. o Progressismo

Dependendo do ponto de vista, a tecnologia pode ser vista tanto como uma oportunidade quanto como uma ameaça. Algumas pessoas celebram os avanços técnicos, enquanto outras os encaram com desprezo. Empreendedores, em geral, estão ansiosos para aproveitar as possíveis vantagens das novas tecnologias, mas onde esses empreendedores enxergam espaço para dinamismo, os pessimistas veem a ruína. Nesta narrativa, os empreendedores são comparados a magos que utilizam a “mágica” da tecnologia para melhorar o mundo, enquanto os pessimistas são os profetas do apocalipse.

Em seu perspicaz livro The Wizard and the Prophet: Two Remarkable Scientists and Their Dueling Visions to Shape Tomorrow’s World, Charles Mann ilustra os conflitos entre magos e profetas, que defendem abordagens distintas para resolver problemas. Os magos confiam no poder libertador da tecnologia para melhorar as condições de vida, enquanto os profetas defendem a restrição do comportamento humano. Norman Borlaug e William Vogt são as figuras centrais de sua obra. Ambos se interessavam pelas questões levantadas pelo crescimento populacional, mas suas propostas eram opostas.

Borlaug, reconhecido como o pai da Revolução Verde, acreditava que inovações tecnológicas aumentariam a produção de alimentos e reduziriam os impactos negativos do crescimento populacional. Já Vogt propunha limitar o consumo como forma de salvar a humanidade. Ao contrário dos otimistas, que viam a prosperidade como uma grande conquista, Vogt acreditava que o bem-estar material incentivava o consumo excessivo, e isso levaria à decadência da sociedade. Felizmente para a sociedade, o modelo de Borlaug se tornou o catalisador da Revolução Verde, resultando no surgimento de variedades de plantas de alto rendimento.

Avanços científicos na agricultura aumentaram o suprimento de alimentos e evitaram fomes em países em desenvolvimento. Apesar do crescimento populacional, a produção de cereais triplicou durante a Revolução Verde, e as previsões malthusianas não se concretizaram. Os países em desenvolvimento conseguiram superar déficits crônicos de alimentos, e mais culturas passaram a ser cultivadas utilizando menos área de terra. Os "magos" apresentam um histórico de desempenho superior ao dos "profetas", embora o alarmismo dos profetas ainda exerça influência.

Em 1981, Julian Simon publicou The Ultimate Resource como resposta ao manifesto apocalíptico de Paul Ehrlich, The Population Bomb. Ehrlich pregava que o crescimento populacional levaria à exaustão dos recursos naturais, mas Simon inverteu esse argumento ao defender que o crescimento populacional gera novas ideias — e ideias resultam em abundância de produtos e recursos. Simon previu que os seres humanos inovariam para compensar a escassez e, nesse processo, criariam até alternativas superiores. Ehrlich não ficou impressionado com a visão de Simon e fez uma aposta em 1980, alegando que os recursos se tornariam mais caros.

Ehrlich escolheu uma cesta de recursos composta por cobre, cromo, níquel, estanho e tungstênio. Felizmente para a humanidade, Simon venceu a aposta e, em 1990, esses recursos estavam mais baratos, apesar dos temores relacionados à escassez e ao crescimento populacional. Pesquisas recentes de Marian Tupy e Gale Pooley reforçaram ainda mais a tese de Julian Simon. Os estudos afirmam que o crescimento populacional não está conseguindo frear a multiplicação dos recursos. Apesar do enorme crescimento populacional entre 1980 e 2018, os recursos não apenas se tornaram mais abundantes, como também cresceram em ritmo mais acelerado do que a população.

A tendência positiva fica ainda melhor. Intuitivamente, pensamos que, à medida que a economia cresce, as pessoas passarão a utilizar mais recursos; no entanto, Jesse Ausubel vem observando uma onda de desmaterialização. Embora a economia americana esteja gerando mais produtos, as pessoas estão usando menos recursos. Divulgando o trabalho de Ausubel em seu fascinante livro How Innovation Flourishes in Freedom (Como a Inovação Floresce na Liberdade), Matt Ridley destaca as virtudes da inovação:

“Em 2015, os Estados Unidos estavam utilizando 15% menos aço, 32% menos alumínio e 40% menos cobre do que nos períodos de pico de uso desses metais, mesmo com uma população maior e uma produção de bens e serviços significativamente maior. (...) Isso não se deve ao fato de a economia americana estar gerando menos produtos, ela está produzindo mais. Tampouco é apenas por causa do aumento da reciclagem, embora isso exista. A razão são as economias e eficiências proporcionadas pela inovação”.

As inovações tornam o mundo mais eficiente e mais habitável tanto para a vida humana quanto para a não humana. No entanto, a histeria dos profetas pode frear o progresso ao limitar descobertas, e eles são agentes influentes no campo ambiental. Ambientalistas preocupados com a poluição estão fazendo lobby pela mineração de minerais que, segundo eles, podem reduzir as emissões. A mineração em alto-mar é a mais recente inovação no setor ambiental, mas, se a paixão dos ativistas não for contida, podemos perder oportunidades, como sugere a revista The Economist.

A The Economist observa que as críticas feitas por ativistas são questionáveis e que a mineração na Zona Clarion-Clipperton (ZCC) pode, na verdade, trazer benefícios:

“Quando se trata de níquel, a mineração na CCZ é mais ecológica e limpa do que a mineração em terra firme. Pesquisas mostram que a quantidade de carbono armazenada na CCZ é insignificante, o que significa que a mineração não liberaria o suficiente para contribuir com o aquecimento global. Além disso, segundo estudos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), os sedimentos revolvidos não se espalhariam tanto nem com a densidade alegada. (...) A preocupação mais séria é a ameaça a organismos diversos que ainda são desconhecidos pela ciência. No entanto, a vida na CCZ é escassa, estima-se que cerca de 270 mil toneladas de biomassa seriam destruídas com a mineração, e composta principalmente por micro-organismos. E como a CCZ representa o ponto final da cadeia alimentar oceânica, haveria pouco impacto em outros ecossistemas”.

Infelizmente, porém, profetas do apocalipse como Greta Thunberg e Alexandria Ocasio-Cortez exercem uma influência desproporcional sobre as políticas públicas. Assim, a maior ameaça à sobrevivência da nossa espécie não serão os desafios sociais e políticos que podem ser resolvidos com inteligência, mas sim a influência improdutiva de personalidades negativas que influenciam líderes de pensamento com uma retórica perigosa.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.

 

Recomendações de leitura

As raízes anti-humanas do movimento ambientalista

O manifesto ambiental libertário

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Lipton Matthews

Pesquisador, analista de negócios e colaborador do Mises Institute, do The Federalist e do Jamaica Gleaner

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