Política
Da taxa das blusinhas aos outdoors de Nova York
A arte de taxar se tornou um espetáculo
Da taxa das blusinhas aos outdoors de Nova York
A arte de taxar se tornou um espetáculo
Uma das mais antigas armas contra a política é o humor, e é justamente essa que os políticos mais detestam. Eles não conseguem se entender como alvo das piadas porque se veem como líderes ungidos e iluminados, conduzindo as massas ignorantes. Eles também detestam o humor porque não podem controlá-lo. Muitas vezes, o humor surge de forma espontânea, como no recente caso dos memes associados ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Houve uma explosão de sátiras criadas com aplicativos de celular e ferramentas de Inteligência Artificial, ligando-o a filmes e seriados. Um dos memes foi exibido em um painel na Times Square, em Nova York, retratando-o como "O Taxa Humana", uma paródia do herói "O Tocha Humana". A empresa TSX Broadway, responsável pelo outdoor, oferece o serviço por cerca de R$200. Esses memes têm se proliferado devido à reputação de Haddad aumentar os impostos, como a "taxa das blusinhas" sobre compras internacionais de até US$50. Além de "Taxa Humana", ele ganhou os apelidos de "Taxade" e "Zé do Taxão", aparecendo em capas de filmes parodiados como "A Taxa de Elite", “Taxando na Chuva” e "O Menino de Pijama Taxado".
Rapidamente, o governo, por meio de seus canais oficiais de comunicação —Secom, Globo News, CNN, Estadão, Folha e UOL — começou a afirmar que grupos organizados e profissionais estariam atuando contra ele, criando essas sátiras na internet. Jornalistas da CNN alegaram que “houve uma redução no percentual da carga tributária em relação ao PIB, e que Haddad, embora ache graça, não quer se posicionar no momento. No entanto, o Ministério da Fazenda tem dados para argumentar que, no ano passado, a carga tributária caiu e não aumentou.” Enquanto isso, jornalistas da Globo News chegaram a afirmar que os “memes foram claramente produzidos de forma profissional. É evidente que há investimento nisso. Mas cadê o contra-ataque? Estamos sempre dizendo que a esquerda não consegue reagir.” Outro jornalista contratado acrescentou: “É claro que Haddad não vai se curvar por causa disso, nem ficar deprimido. (…) É necessário tentar identificar a origem para proibir e evitar futuros ataques. Essa é a minha opinião.”
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a "excelente" gestão de Fernando Haddad, alegando que os ataques são mentirosos e provenientes do que ela chama de “rede bolsonarista”. Segundo ela, "os memes são prova de que a economia do Brasil está melhorando". Em um vídeo oficial, ela afirmou que “a oposição está apavorada”, citando o vice-presidente Geraldo Alckmin, que disse que “a carga tributária está caindo e a arrecadação do Brasil tem crescido pelo aquecimento da economia e pela ação do Ministério da Fazenda em atuar contra distorções no cálculo dos impostos”. Gleisi reiterou que “o governo Lula vai continuar surpreendendo essa gente que torce contra o Brasil”. De maneira ainda mais lamentável, o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, defendeu Hadadd. “Quem financia a indústria de memes? Seriam os mais humildes, beneficiados pela reforma tributária? Ou seriam os mais ricos, afetados pela tributação após anos de vantagens? Vale a reflexão”, escreveu Messias em seu perfil no X, anteriormente conhecido como Twitter.
Como mencionei, o humor é um antigo recurso contra as tolices estatistas e os aumentos dos impostos. Na comédia "As Vespas" (422 a.C.), Aristófanes satiriza o sistema judicial ateniense e as pesadas cargas tributárias que sustentam a burocracia. Ele expõe como os cidadãos são explorados pelos impostos para financiar um governo corrupto e ineficaz. O poeta romano Juvenal, em suas Sátiras (100-127 d.C.), criticava frequentemente a corrupção e os excessos do governo, incluindo os pesados impostos que recaíam sobre os cidadãos.
No período anterior à revolta judaica (70 d.C.), Jerusalém era governada pelo procurador romano Géssio Floro. Ele é lembrado por saquear cidades inteiras e cobrar “pedágio” dos ladrões para que pudessem exercer sua "profissão" livremente. Os impostos aumentavam continuamente. Em 66 d.C., desejando prestígio e dinheiro, roubou dezessete talentos de ouro (cerca de um pouco mais de meia tonelada) do Templo de Jerusalém. Os judeus caçoaram dele, mendigando nas ruas de Jerusalém com cestos nas mãos e pedindo dinheiro para o “procurador pobre.” Géssio Floro ficou furioso com a chacota.
Durante os árduos anos do comunismo, o povo enfrentava longas filas para adquirir produtos escassos, realidade destacada por Lawrence W. Reed. O humor surgia como um escudo, com piadas sendo compartilhadas o mais discretamente possível para evitar a atenção da Polícia Secreta, que via nessas anedotas uma forma de "Propaganda Anticomunista" e uma ameaça ao regime. Ronald Reagan, então presidente dos EUA, era colecionador de piadas sobre o comunismo, acreditando em seu poder de desafiar as rígidas estruturas de censura. Sempre terminava seus discursos com uma piada, não importava onde ou com quem estivesse, mesmo que estive diante do secretário do Partido Comunista, Mikhail Gorbachev. Aqui está uma das minhas piadas favoritas, que ilustra bem esse ponto:
"Na União Soviética, o processo para adquirir um carro incluía uma espera de dez anos. Você pagava o dinheiro antecipadamente e enfrentava um longo procedimento. Contam a história de um homem que, após fazer seu pagamento, foi informado pelo responsável: 'Ok, volte daqui a dez anos para buscar seu carro.' Ao que ele questionou: 'De manhã ou à tarde?' Surpreso, o atendente respondeu: 'Daqui a dez anos, que diferença faz?' E o homem explicou: 'É que o encanador vem de manhã."
Esta piada, contada por Reagan, ganha uma dimensão ainda mais hilária quando ouvida diretamente dele. Você pode vê-lo contando esta piada e outras aqui (o que é bem mais engraçado).
Acredito que o governo do PT, ou como já foi apelidado nos memes, Partido da Taxação, ficará extremamente irritado. A proliferação de memes é incontrolável. Isso demonstra que a criação dos memes é espontânea, não gerada por um escritório central ou financiada por uma agência estrangeira. Agora, estamos vendo o surgimento dos AutoMemes. As pessoas estão se retratando como se fossem Haddad, associando-se às frases já conhecidas dos títulos de filmes, seriados ou nomes de artistas.
A máquina de propaganda oficial, essa sim verdadeira, tentou promover seus próprios memes de apoio a Fernando Haddad, chamando-o de "Exterminador dos Impostos". Um vídeo, publicado em um perfil de apoio a Dilma por um professor de uma universidade federal, até então com três meses e continha apenas 45 visualizações, ensina como fazer memes para combater a extrema-direita. Tudo isso, é claro, financiado com nossos impostos.
Eu realmente acredito que o PT não conseguiu se adaptar às redes sociais. O início do primeiro governo de Dilma coincidiu com o surgimento do WhatsApp e a popularização dos memes. Quem não se lembra do meme do vestido de Dilma na posse? Eu ainda estava assistindo ao discurso dela quando recebi uma foto comparando seu vestido a um botijão de gás, com a cor e o tecido idênticos. Foi hilário!
Daí surgiu a expressão "as tias do zap". Essa expressão se refere a uma suposta milícia digital, organizada, treinada e financiada pela CIA, com o objetivo de desestabilizar o governo popular e democrático da primeira mulher presidenta do país. Coincidência ou não, eu recebi essa mensagem da minha tia Helena (um beijo, tia).
Como de costume, a esquerda comete um erro fundamental ao abordar questões econômicas. Em vez de implementar medidas eficazes para reduzir o tamanho da máquina pública, como a exoneração de funcionários desnecessários e a desestatização de empresas estatais, ela prefere concentrar seus esforços no aumento da arrecadação de impostos. Essa abordagem revela não apenas uma falta de compreensão das reais necessidades econômicas do país, mas também uma péssima teoria econômica. Os gastos do governo são o grande inimigo do crescimento econômico. Ao optar por aumentar a carga tributária, o governo não apenas sobrecarrega os contribuintes, mas também desincentiva investimentos e inovações que poderiam impulsionar o crescimento econômico. A insistência em manter uma máquina pública inchada e ineficiente drena recursos que poderiam ser mais bem alocados no setor privado, mais eficientes e produtivos que o estado. Além disso, a estatização e o controle excessivo sobre as empresas reduzem a competitividade e a capacidade de resposta às demandas do mercado, resultando em serviços de qualidade inferior e em custos mais elevados.
Um fato relevante para quem promove as ideias de livre mercado é que o estopim imediato da fábrica de memes foi a chamada “taxa das blusinhas”. Essa taxa, que adiciona 20% de imposto sobre compras internacionais de até US$50, além do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de 17% — que vai para os estados — resulta em uma tributação bem maior na prática. Mesmo sem entender completamente, as pessoas aproveitaram essa brecha de liberdade em meio ao vasto mar protecionista que domina o Brasil.
O recente aumento de impostos foi impulsionado por varejistas brasileiros que alegavam enfrentar concorrência desleal, especialmente de sites de comércio eletrônico chineses como Shopee, Shein e AliExpress. Como observa Murray Rothbard: “Quando um grande empresário abraça entusiasticamente a parceria entre governo e empresas, é bom ficar de olho nas suas carteiras, pois você está prestes a ser espoliado.”
Os comerciantes brasileiros preferem adotar a abordagem protecionista clássica, apelando para políticos com uma visão keynesiana para implementar leis que isolem o mercado nacional do mercado global. Eles propõem tarifas que aumentam o custo interno das mercadorias acima dos preços internacionais, facilitando a formação de cartéis pelos produtores locais. Mises explica em "As Seis Lições" (p. 57) que o próprio estado, ao criar condições para o surgimento desses cartéis através de seu intervencionismo, acaba por combatê-los mais tarde com leis anticartel. Isso leva à criação de um emaranhado de leis, agências reguladoras e contratação de mais funcionários públicos para “proteger” a indústria nacional.
Uma vez que as intervenções do estado na economia começam, parecem nunca terminar e frequentemente produzem o efeito oposto do pretendido. Os intervencionistas se consideram infalíveis, mesmo diante de erros evidentes. As medidas inicialmente tomadas não são revogadas; pelo contrário, as distorções causadas pelas intervenções justificam novas intervenções, criando um ciclo contínuo de expansão do estado.
O professor Fabio Barbieri acrescenta um ponto interessante: à medida que a sociedade se afunda no intervencionismo, sua capacidade de imaginar soluções fora do estado diminui. Problemas que poderiam ser oportunidades para o setor privado acabam sendo tratados como questões políticas. Quando políticos assumem papéis tradicionalmente ocupados por empresários, as manifestações de insatisfação aumentam — e, por isso, temos os memes.
Em uma economia de livre mercado verdadeira, empresas se desenvolvem ou falham com base na sua eficiência e capacidade de competir, inclusive com concorrentes estrangeiros. Em vez de bloquear produtos mais baratos, como os da China, deveríamos reduzir os impostos sobre produtos nacionais para torná-los competitivos tanto local quanto globalmente. Henry Hazlitt (p.105-106) argumenta que para que novas indústrias floresçam rapidamente, é essencial permitir que algumas das antigas encolham ou desapareçam. Isso libera capital e mão de obra para novos empreendimentos. Se tivéssemos insistido em preservar a indústria de carruagens puxadas por cavalos, teríamos impedido o crescimento da indústria automobilística. Portanto, embora possa parecer paradoxal, é vital para uma economia dinâmica permitir o desaparecimento de indústrias ultrapassadas para fomentar o surgimento de novas.
Portanto, a solução definitiva para os dilemas econômicos do Brasil está na criação de um ambiente mais propício aos negócios, que envolve a diminuição da elevada carga tributária, a redução dos gastos públicos, menor intervenção estatal e o fim do protecionismo com a consequente abertura de mercado.
E é claro, precisamos de mais memes. Como bem disse Hans-Hermann Hope, uma das maiores ameaças ao estado é o humor e a risada. O governo quer que o respeitemos, que o levemos a sério. Mas a verdade é que eles sabem o quão perigoso é quando as pessoas começam a rir do governo. Portanto, lembre-se sempre: ria e zombe do governo o máximo que puder.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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