O sentimento da inveja é o mais premente, o mais
difundido e o mais poderoso dentre as forças motivacionais que causam o
declínio de uma civilização.
Todas as grandes religiões condenam a cobiça pela
propriedade alheia como sendo pecaminosa.
Em uma ordem natural — isto é, em um sistema em que impera o direito natural –,
as pessoas também, até certo ponto, se sentem tentadas a expropriar a propriedade
alheia para vantagem própria.
Porém, em uma ordem natural, bem de acordo com as prescrições
religiosas, tais tentações são consideradas imorais e ilegítimas, e espera-se
que todos sejam capazes de suprimir tais desejos — caso contrário, serão punidas
de acordo com os próprios
preceitos do direito natural.
Já quando vivemos sob um estado, algumas — poucas
— pessoas adquirem o privilégio de cederem impunemente a tais impulsos imorais
por um período indeterminado de tempo, podendo utilizar a legislação e a tributação
como um meio de satisfazer sua própria cobiça pela propriedade alheia. No entanto, é somente sob um arranjo
democrático — isto é, quando a entrada no aparato estatal é livre e irrestrita
— que todas as restrições e inibições
morais contra a espoliação da
propriedade alheia são removidas.
Quando a entrada no aparato governamental é livre,
qualquer um pode expressar abertamente seu desejo pela propriedade
alheia. O que antes era considerado imoral e era adequadamente suprimido,
agora passa a ser considerado um sentimento legítimo. Sob a democracia,
todos são livres para entregar-se a tais tentações e, com isso, propor toda e
qualquer medida de legislação e tributação que lhes permitam levar vantagem à
custa das outras pessoas.
Todos agora podem cobiçar abertamente a propriedade
de outros em nome da democracia; e todos podem agir de acordo com esse desejo
pela propriedade alheia, desde que ele já tenha conseguido entrar no
governo. Assim, em uma democracia, qualquer um pode legalmente se tornar
uma ameaça.
Ao passo que, em uma ordem natural, as pessoas
dedicam seu tempo exclusivamente para a produção e o consumo, sob condições democráticas
uma fatia crescente do tempo das pessoas é direcionada para a política, isto é,
para a defesa e promoção de atividades que não são produtivas, mas sim
exploradoras e parasíticas da propriedade alheia.
Com efeito, mesmo os oponentes deste arranjo acabam sendo
obrigados a perder uma fatia cada vez maior do seu tempo com esforços
improdutivos — ou seja, com a política –, nem que seja apenas para tomar medidas
preventivas e se defender a si próprio e à sua propriedade contra tais incursões
agressivas dos parasitas que ocupam o aparato estatal.
Sob condições democráticas, surge uma
nova classe de pessoas — políticos — cuja profissão é propor e promover
decretos-lei e impostos voltados para expropriar a propriedade de alguns para o
benefício de outros (inclusive, e principalmente, deles próprios).
Adicionalmente, devido às constantes e regulares eleições,
a politização da sociedade jamais chega ao fim; ao contrário, ela é
continuamente reforçada. Incertezas jurídicas
e desrespeito às leis não apenas se tornam uma normalidade, como são também levados
ao paroxismo. O horizonte temporal das
pessoas se torna cada vez mais imediatista, voltado exclusivamente para o curto
prazo. Visões de longo prazo deixam de
ser consideradas — tanto pelos políticos quanto pelos cidadãos (mesmo os mais
precavidos, dado que eles simplesmente não têm como saber como se comportarão os
próximos políticos).
Nesse processo de competição política
— isto é, na competição para ver quem adentrará o aparato estatal e se tornará
o tomador supremo de decisões finais –, terão mais sucesso aqueles políticos e
aqueles partidos políticos que tiverem menos escrúpulos morais e as melhores
habilidades demagógicas. Ganharão
aqueles que melhor conseguirem propor e propagar as mais variadas promessas
imorais e ilegais, uma vez que a demanda popular por esse tipo de promessa é
praticamente infinita.
Com isso, aqueles amorais vulgares que possuírem
enorme talento em agregar uma turba de seguidores adeptos de demandas moralmente
desinibidas terão as maiores chances de entrar no aparato governamental e
ascender até o topo da linha de comando.
De outro lado — o outro lado da mesma moeda –, a
democracia leva a uma crescente corrupção.
Como a entrada no aparato estatal é livre, a resistência contra o
domínio do estado é reduzida e, consequentemente, o tamanho do estado só faz
crescer. Aquele que hoje é espoliado
sabe que, no futuro, ele pode também se tornar membro do aparato estatal,
passando então a ser um beneficiário do butim. Com isso, o número de empregados do estado irá crescer, e dado que seus salários
e padrão de vida dependem da continuação do poder estatal de tributar e criar
leis, eles irão — não necessariamente, mas muito provavelmente — se tornar
leais defensores do estado.
Particularmente, a classe dos intelectuais — isto
é, os produtores de palavras e não os produtores de bens — será a primeira a
ser comprada e corrompida. Dado que a
demanda de mercado por palavras — ao contrário da demanda de mercado por bens e
serviços — é ínfima, intelectuais estão sempre desesperados por qualquer tipo
de ajuda para sobreviverem. E o estado,
que está em permanente necessidade de apoio ideológico para seu implacável ataque
conta a justiça e o direito natural, estará sempre disposto a oferecer tal
ajuda para esses intelectuais, utilizando seus serviços como educadores
públicos e os colocando em sua folha de pagamento em troca da propaganda em
prol do regime.
No entanto, não são apenas os funcionários do estado
os corrompidos. As receitas tributárias
do governo, bem como seu abrangente controle sobre vários outros ativos não-monetários,
irão exceder, em muito, o necessário para empregar e pagar seus
funcionários. Consequentemente, o estado
também irá distribuir renda e assistência para vários membros da sociedade
civil. A lealdade dos pobres e oprimidos
ao estado poderá ser garantida por meio de vários programas assistencialistas; já
os ricos e os poderosos empresários, industriais e banqueiros — e
indiretamente seus empregados — também poderão ser corrompidos por meio de subsídios,
protecionismos, contratos privilegiados para empreiteiras, reservas de mercado,
e títulos do Tesouro que pagam juros altos.
E esta mesma política poderá também ser utilizada
com o propósito de “dividir” os membros da sociedade civil, de modo a controlar
mais facilmente uma população que, cada vez mais, irá se comportar como facções
rivais. Divide et impera!
Um ótimo indicador da degeneração moral e da corrupção
gerada pelo estado democrático pode ser encontrado no alto escalão do aparato estatal:
apenas veja os políticos e os partidos políticos que estão no comando do espetáculo
da democracia.
Se forem mensurados de acordo com os padrões do
direito natural e da justiça, todos os políticos, de todos os partidos e sem
qualquer exceção, são culpados, direta ou indiretamente, de fraude, corrupção
ativa e passiva, roubo, estelionato, usurpação, invasão, expropriação,
homicídio, e receptação e redistribuição de bens roubados em larga escala. E tudo isso de maneira contínua. E cada nova
geração de políticos e partidos políticos parece ser pior que a anterior, empilhando
ainda mais atrocidades e perversões no topo da montanha já existente, de modo
que eles conseguem a façanha de nos fazerem sentirmos um tanto nostálgicos quanto
ao passado.
Sob um arranjo em que imperasse o direito natural,
todos eles seriam enforcados, ou jogados na cadeia onde ficariam até apodrecer,
ou, na mais branda das hipóteses, obrigados a oferecer restituição por meio
do trabalho próprio.
No entanto, em vez disso, todos eles desfilam impunemente
e com grande desenvoltura em público, em plena luz do dia, proclamando-se — de
maneira pomposa, pretensiosa, arrogante e farisaica, genuinamente acreditando
terem enorme honradez — santos bondosos e caritativos, jurando serem bons
samaritanos, abnegados servidores públicos, benfeitores e salvadores da
humanidade e da civilização humana.
Políticos, com efeito, são os mestres da inversão de
valores. Para eles, quem trabalha e gera
empregos são opressores e parasitas, e os verdadeiros parasitas que vivem da espoliação
da propriedade alheia são os oprimidos. Produtores
são parasitas, e parasitas são produtores. Expropriação é restituição, e restituição
é expropriação. Impostos são contribuições voluntárias, e preços voluntariamente
acordados no mercado são taxas espoliativas. Dinheiro é papel, e papel é dinheiro. Liberdade é coerção, e coerção é liberdade. Consumo do governo é investimento, tributação
é poupança, e poupança genuína é um “crime contra a economia popular”.
Pior de tudo: a esmagadora maioria da população, em
uma quantidade que supera em muito o número de dependentes do estado, não só
aceita, como acredita nessa insensatez. Políticos,
em vez de serem desprezados e ridicularizados, são tidos em alta estima,
aplaudidos, admirados e até mesmo glorificados pelas massas. Na presença deles, principalmente quando se
trata de políticos “do alto escalão”, a maioria das pessoas se mostra boquiaberta,
submissa e servil, querendo selfies,
beijos e abraços. Com efeito, mesmo
aquelas pessoas que se opõem virulentamente a determinado um político ou partido
político, o fazem quase sempre apenas para glorificar e louvar outro político de
outro partido.
E a intelligentsia,
ao perceber que toda a sua tagarelice é alegremente repetida por esse ou aquele
político ou partido político, virtualmente baba sobre eles.
Enquanto isso, o número de pessoas que ainda se
mantém apegadas aos “princípios antiquados” do direito natural e da justiça, que
têm esses princípios como a base de todo o seu juízo moral, e que veem o mundo
como um hospício controlado por megalomaníacos insanos, continua sendo a minúscula
minoria da população.
Menor ainda é
aquela minoria que reconhece e entende, ainda que de maneira vaga, a causa sistemática
dessa situação. E toda essa minoria está
sob contínua ameaça dos guardiões e zeladores desse “Absurdistão” chamado democracia,
sendo rotulados de neandertais, reacionários, extremistas, otários
pré-iluministas, sociopatas e escumalha.
Eis o nosso mundo atual.




O povo é alienado e acaba acreditando que políticos estão ali pensando nele. E o pior é que as pessoas idolatram esses caras. Idolatria é doença.
Não são apenas bandidos, são psicopatas. Bandidos já teriam se entregado, mas eles ainda conseguem racionalizar a própria vileza.
O político é a profissão própria para psicopata.
Ao passo que, em uma ordem natural, as pessoas dedicam seu tempo exclusivamente para a produção e o consumo, sob condições democráticas uma fatia crescente do tempo das pessoas é direcionada para a política, isto é, para a defesa e promoção de atividades que não são produtivas, mas sim exploradoras e parasíticas da propriedade alheia.
Muito bom esse parágrafo. Eliminando os parasitas que não produzem nada e vivem às nossas custas a situação de todo mundo ficaria muito mais fácil… É FODA!
O erro é comparar nosso sistema atual com uma suposta “ordem natural”, um sistema baseado totalmente no “direito natural”. Sistema esse que nunca ocorreu e dificilmente ocorrerá, já que que ele pressupõe qualquer presença de um arcabouço institucional que manterá tal ordem. Se o ser humano se preocupasse com o outro e com a sociedade como um todo, e tivesse conhecimento o suficiente para saber como provocar esse bem, talvez ele agiria de forma que respeitasse sempre o “direito natural”, mesmo quando, sabendo-se que se o violasse ganharia benefícios particulares com isso.
Tal sistema, até hoje, só existiu na cabeça de alguns indivíduos. Como sabemos que um sistema sem intervenção é o melhor do ponto de vista de eficiência, qualquer sistema sem qualquer intervenção parecerá bem melhor do que o nosso sistema atual. O problema, como eu disse, é a prática. A própria história já mostra que praticamente nenhuma vez civilizações respeitou tal “ordem natural” – nome esse que, se realmente correto, seria regra, e não exceção.
Então, certamente, qualquer sociedade hoje parecerá ridiculamente ruim se comparada a esse sistema. O problema é que esse é um sistema idealizado, e só funcionaria se as pessoas tivessem chips na cabeça que as fariam sempre respeitar tal “direito natural”. E não cometo o erro de achar que tal sistema não pressupõe crimes. Eu sei que seus defensores pensam que ele pressupõe. Mas questiono se ele será um sistema institucionalmente adequado para que crimes sejam punidos de forma correta, e para que violações de tal “direito natural” terão sempre a garantia de ser punidas à altura. Pela observação da realidade à minha volta, e da história da humanidade, eu afirmo que não.
Os políticos se sentem acima da lei e de todos, e ontem todos nós vimos as baixarias do molusco, sendo que isso é corriqueiro entre eles e ele se julgam os justiceiros do povo.
Nos corredores do congresso a baixaria corre solta entre os parlamentares, pois sabem que ali podem quebrar o pau e no plenário não; conversas tenebrosas são feitas na calada da noite de maneira que não me escandalizo com essas falas e ironias com nossas caras pois somos feitos de trouxas por eles, salvo algumas exceções a cada dia menor.
Enfim estamos fud… e mal pagos enquanto essa besta do estado monopolista controlar nossas propriedades e vidas. Vida longa ao IMB e vamos a luta contra esse leviatã maldito e espoliador e extorsivo que nos oprime a cada dia…Protestos são bem vindos e conscientização mais ainda.
Pior é que agora, pra resolver este problema, o pessoal ainda acredita em políticos “Messias/Salvadores”.
E vai criticar estes políticos para ver o que acontece: Agressão verbal, e até agressões físicas, e nenhum raciocínio lógico de argumentação.
Não importa a orientação política. O comportamento é igual.
A perfeição desse texto como descrição do Brasil (especialmente, mas não exclusivamente) chega a ser assombrosa!
Traduzam mais artigos desse gênio contemporâneo. Por favor.
É a descrição exata do dia de hoje de nosso país. Um bando de delirantes atrás de um semianalfabeto, cachaceiro e embusteiro, em troca de selfies, beijos e abraços. O Brasil está no fundo do poço e a grande maioria do povo não se dá conta disso. Parabéns pelo texto!
Uma Amiga Minha disse que essa crise seria uma acontecimento natural do ciclo economico,estaria ela certa?
Socialistas não acreditam em ordem natural nem em natureza humana, para eles é tudo “construção social”.
Mas experimente dividir a folha de pagamento da USP em partes rigorosamente iguais para ver se Marilena Chauí aceita.
* * *
“Pior de tudo: a esmagadora maioria da população, em uma quantidade que supera em muito o número de dependentes do estado, não só aceita, como acredita nessa insensatez.”.
É como eu sempre digo, a maioria das pessoas é estúpida.
Cheguemos todos a um consenso: Monarquia Parlamentar.
Excelente Texto!
Na realidade o sistema político brasileiro carece de representatividade. Somos culpados pois não os cobramos e ficamos em uma atitude bastante passiva.
Vivemos uma crise de representatividade. No Brasil isto é evidente: 1. Nas últimas manifestações políticos foram hostilizados e não puderam participar delas. 2. Pesquisa Datafolha mostra através de pesquisa que todos os presidenciáveis caíram em termos de prefêrencia. Mesmo Marina Silva ficou estancada, não saiu do lugar. O que aumentou foi o número de pessoas sem candidatos.
3. Nunca o STF participou tanto da vida nacional fazendo aquilo que o parlamento é incapaz para conduzir. Triste do país que precisa de um “juíz herói”.
Nossa crise é muito profunda e não se consegue vislumbrar a saída para tamanha falta de representatividade.
Obrigada
Alexandra Moraes
Culpamos a falta de representatividade. No entanto a nossa postura é de uma passividade atroz. Se nós que tivemos formação e temos tempo para nos informar não lembramos em quem votamos nas últimas eleições, o que dirá do trabalhador com baixa instrução e que tem sua vida diária consumida pelo transito e pelo trabalho.
O problema não está na democracia. Como já disseram, a democracia é o pior sistema que existe. No entanto, não existe outro melhor que a democracia.
Podemos dizer que os países que menos tiram proveito da democracia são aqueles em que grande parte de sua sociedade é composta por membros com baixa escolaridade que vivem em atmosfera permantente de ignorância.
Nestas nações a democracia será bastante capenga.
Por que programas de bem-estar e democracia não podem coexistir
15/08/2016 – Ryan McMaken
Escrevendo seu tratado Socialismo, de 1922, Ludwig von Mises expressou seu apoio à democracia, mas tinha uma visão muito restrita. Especificamente, ele sugeriu que o único propósito da democracia é “fazer a paz para revoluções violentas". Ou seja, a democracia é meramente um meio para um fim e seu valor reside em fornecer uma maneira de remover agentes do Estado sem a necessidade de recorrer a instrumentos militares: “A essência da democracia é … que legisladores e governantes … podem ser pacificamente alterados se o conflito ocorre".
Mises foi ele próprio um democrata dom "d" minúsculo – como muitos outros liberais de seu tempo – viu valor no uso de instituições democráticas para fornecer um meio para tratar conflitos políticos que poderiam prejudicar a vida econômica de uma comunidade. Para Mises, a prevenção de situações como guerras, revoltas, revoluções e outras rebeliões violentas foram essenciais para a manutenção de um mercado em funcionamento:
"Liberalismo, reconhecendo que a realização dos objetivos econômicos do homem pressupõe a paz e buscando, portanto, eliminar todas as causas de conflitos na política doméstica ou externa, deseja democracia".
Mises, entretanto, não foi um democrata ingênuo. Em nenhum ponto dos seus escritos ele chegou a assumir que a democracia é uma condição suficiente para a paz ou que a democracia pode superar os problemas introduzidos em um sistema político pela ideologia imperdeita.
Com efeito, Mises esteva sempre ciente do papel central da ideologia na forma do quão laissez-faire (ou não) um estado pode ser. Mises entendia que se uma parcela considerável da população quer um estado totalitário, nenhuma quantidade de democracia – ou ausência dela – irá impedir.
Afinal, escreveu Mises, "democracia tenta … garantir […] acordo entre a vontade do Estado – expressa através dos órgãos do Estado – e a vontade da maioria".
Mas e se a vontade da maioria se inclina para o czarismo? “Bem”, Mises responderia: “isso é provavelmente o que você terá”:
"O conservador russo está indubitavelmente certo quando observa que o czarismo russo e a polícia do czar foram aprovados pela grande massa do povo russo, de modo que até mesmo uma forma de Estado democrático não poderia ter dado à Rússia um sistema de governo diferente."
Mises entendia que se fosse para manter um sistema político laissez-faire – seja democrático ou autocrático – uma parcela considerável da população deveria realmente querer um sistema laissez-faire, ou pelo menos algo semelhante a ele.
Um jeito fácil de convencer eleitores a abandoner o laissez-faire
Mas, mesmo se uma população tende para crenças laissez-faire, há maneiras de os estados enfraquecer essas crenças e aproveitar vícios humanos como a ganância, a preguiça e o medo para aumentar o tamanho e poder estatal.
Mises, no livro Burocracia, de 1944, descreveu que o problema que surge quando uma parte considerável da população recebe a seu sustento do Estado:
"O burocrata não é apenas um funcionário do governo. Ele é, sob uma constituição democrática, ao mesmo tempo, um eleitor e, como tal, uma parte do soberano, seu empregador. Ele está em uma posição peculiar: é simultaneamente empregador e empregado. E seu interesse financeiro como empregador se sobrepõe ao seu interesse como empregador, pois ele fica com muito mais dos recursos públicos do que contribui para eles.
Essa dupla relação se torna mais importante à medida que cresce o número de na folha de pagamento governamental. O burocrata, como eleitor, é mais ansioso para conseguir um aumento do que para manter o orçamento equilibrado. Sua principal preocupação é inchar a folha de pagamento".
E esse problema não se restringe aos funcionários públicos. Mises escreveu:
“Não havia [nota do tradutor: Mises se referia a Alemanha e a França nos últimos anos que precederam a queda das suas constituições democráticas] apenas os exércitos de funcionários públicos, e aqueles empregados nos ramos nacionalizados de negócios (por exemplo: estrada de ferro, correio, telégrafo e telefone), havia os recebedores de seguro desemprego e de benefícios do seguro social, bem como os agricultores e outros grupos que são subsidiados direta ou indiretamente pelo governo.
A democracia representativa não pode subsistir se uma grande parte dos eleitores estão na folha de pagamento do governo, se os membros do parlamento não se consideram mandatários dos pagadores de impostos, mas representantes daqueles que recebem salários, subsídios, doações e outros benefícios do tesouro, então a democracia acaba.
Esse é um dos paradoxos inerentes às questões constitucionais contemporâneas. Faz muitas pessoas perder as esperanças em relação ao futuro da democracia. Como elas se convenceram de que a tendência é em direção a mais interferência do governo nos negócios, mais repartições e funcionários públicos e mais doações e subsídios é inevitável, elas não poderiam confiar que o governo é feito para o povo e pelo povo.”
Obviamente, em tal situação, nenhum político eleito que deseja ser reeleito irá se opor a uma continuação, ou mesmo um aumento, na assistência social estatal, programas de saúde, subsídios e outros tipos de gastos.
Dentro de tal sistema político, qualquer que seja o apoio latente que possa haver para o laissez-faire será gradualmente varrido pela percepção de que a votação para mais benefícios governamentais é – aparentemente – muito mais lucrativa do que votar pelo laissez-faire.
O sufrágio limitado de John Stuart Mill
Mises não foi o primeiro democrata a reconhecer o problema da expansão do voto para aqueles que recebem mais do Estado do que pagam para ele.
John Stuart Mill, considerado por muito tempo um democrata radical por seu apoio ao sufrágio quase universal (incluindo mulheres), não obstante, se opôs sufrágio para aqueles que recebem seguro desemprego. Em seu livro de 1861, Considerações sobre o governo representativo, Mill escreveu:
“Eu considero fundamental que o recebimento da assistência aos pobres [nota do tradutor: Mill se referia ao sistema de auxílio aos pobres da Inglaterra. As Poor Laws foram precursoras do Estado de bem-estar social] deve implicar em uma desqualificação peremptória para o direito ao voto. Aquele que não pode se sustentar por seu próprio trabalho, não deve ter o privilégio de ajudar a si mesmo com o dinheiro dos outros. Ao tornar-se dependente dos demais membros da comunidade para sua subsistência, ele abdica da sua pretensão de igualdade de direitos com os demais em outros aspectos. Aqueles a quem ele deve a continuidade de sua própria existência, podem legitimamente reivindicar a gestão exclusiva dessas preocupações comuns, para as quais ele nada contribui ou contribui com menos do que leva …
Como condição para o direito ao voto, um prazo deve ser fixado, digamos, cinco anos anteriores ao registo, durante o qual o nome do requerente não tenha constado nas listas de beneficiários de assistência.”
Mill tenta resolver esse problema pela garantia de que todos os eleitores sejam pagadores líquidos de impostos, ou seja, todos os eleitores devem pagar mais impostos do que recebem em subsídios:
"É também importante, que o legislativo que vota os tributos, nacionais ou locais, seja eleito exclusivamente por aqueles que pagam algum tributo. Aqueles que não pagam impostos, dispondo, através dos seus votos, do dinheiro das outras pessoas, têm todos os motivos para serem generosos e não para economizar. Qualquer poder de voto possuído por aqueles que não pagam impostos é uma violação do princípio fundamental do governo livre; uma separação do poder de controle, a partir do interesse no seu exercício vantajoso. Isso equivale a permitir que eles coloquem suas mãos nos bolsos das outras pessoas para qualquer fim que eles acharem adequado chamar de público…
A representação na mesma extensão da a tributação está de acordo com a teoria das instituições britânicas".
Ademais, Mill não queria nenhuma restrição permanente de direito a voto e desejava que qualquer um excluído do sufrágio devido a dificuldades econômicas atuais pudesse votar futuramente. Ou seja, quaisquer limitações sobre o sufrágio devem “deixar o sufrágio acessível a todos os que estão na condição normal de um ser humano”.
Visões perigosas da democracia
O fator-chave por trás disso é a ideologia. Uma população que vê o crescimento generalizado de empregos públicos e programas de bem-estar como ilegítimo não vai tolerar tal situação. A esse respeito, se o propósito da democracia é – como Mises afirmou – criar harmonia entre a vontade do Estado e da vontade da população, então as sociais-democracias ocidentais estão trabalhando exatamente como projetado e como esperado.
Ao contrário do que alguns libertários parecem pensar, a maioria das pessoas das democracias ocidentais não são libertárias "que ainda não se deram conta disso". Na verdade, a grande maioria das populações nas democracias ocidentais são ideologicamente muito tranquilas com grandes estados intervencionistas que empregam um grande número de pessoas e gastam imensas quantidades de dinheiro dos pagadores de impostos com benefícios sociais e subsídios para as empresas privadas. Seus padrões de voto e preferências declaradas deixam isso claro. Como esperado, os estados democráticos refletem as ideologias de seus cidadãos.
Sem uma mudança nessa realidade ideológica, nenhuma mudança significativa deve ser esperada.
Ora, estender o direito ao voto para aqueles que recebem mais subsídios do que pagam em impostos vai acelerar o processo de empobrecimento e instabilidade econômica.
O primeiro passo para reverter esse problema ideológico está em adotar o laissez-faire como ideologia política dominante. A segunda etapa está vai ao encontro da visão de Mises, ou seja, da democracia meramente como um mecanismo utilizado para certos fins. A democracia não é, de acordo com Mises, uma extensão dos direitos naturais, ou soberania pessoal, ou a manifestação de alguma vontade pública mística.
Além disso, Mises argumentou, essas idéias levam a crenças perigosas: que a democracia pode imbuir o estado com poder ilimitado ou que não há diferença entre a vontade do Estado e da vontade do povo.
Uma vez que essas noções preocupantes da democracia são aceitas, estamos de fato em apuros. Mises conclui:
"Grave prejuízo tem sido feito ao conceito de democracia por aqueles que, exagerando a noção soberania da lei natural, concebeu-a como uma regra ilimitada da vontade geral. Não há realmente nenhuma diferença essencial entre o poder ilimitado do Estado democrático e do poder ilimitado da autocrata. A ideia defendida pelos nossos demagogos e os seus apoiadores: segundo a qual o Estado pode fazer tudo o que desejar e que nada deve resistir à vontade do povo soberano, tem feito mais mal, talvez, do que a sede de poder de principelhos degenerados".
https://mises.org/blog/why-social-welfare-programs-and-democracy-cannot-co-exist
A solução é levar informação de conhecimento sobre o jus naturalismo e liberdades para as pessoas que nem tem acesso! O IMB é um veículo de comunicação importante e cabe a cada um de nós propagarmos as verdades sobre essa nefasta “democracia estatal” e nomear um vizinho ou amigo para expor sobre o que é o Libertarianismo.
Vi que praticamente todos os comentários foram sobre os políticos, mas acho que este fantástico texto não é só sobre políticos, mas também sobre todos os demais parasitas que se apoderam da propriedade alheia através da atuação governamental: alguns intelectuais, alguns, artistas, alguns funcionários públicos, alguns, empresários, alguns pobres, conforme foi muito bem dito no texto.
E o que mais me parece insidioso nestas pessoas é que elas passam desapercebidas na sociedade, pois todo mundo só enxerga os políticos como parasitas. Os políticos são até mais corajosos que essas pessoas que se finjem de normais. Por isso o estado tem que ser mínimo, para acabar com o alimento destes parasitas que andam por aí anonimos, não podem ser pegos porque não se lhes pode imputar culpas, só se pode acabar com eles não lhes deixando outra alternativa para sobreviver a não ser trabalhar.
a única coisa que se aprende com a história é que não aprendemos nada com a história… e a culpa não é da história, mas nossa…
Esqueçam senhores, através de política, ou mesmo através da força não muda nada, Brasil é Brasil, e sempre vai ser assim, o povo brasileiro de modo geral e indisciplinado, sem ambição, preguiçoso, invejoso, patético, basta os políticos jogarem uma migalha de pão e passar futebol na tv que estão satisfeitos, o melhor que cada um de nós pode fazer, é usar todo o conhecimento que adquirir e se dar bem na vida, essa coisa de tentar convencer os outros é uma tremenda perca de tempo e energia que se focassemos em nós, estaríamos bem melhor, o Brasil já era, foquem em vocês, que ganham muito mais!!!
Sobre o futuro das instituições ditas democráticas do Brasil, dá para ter um pouco de otimismo sim, veja:
Tem um monte de conservadores iludidos nas portas dos quartéis solicitando a invocação do artigo 142, que trata de uma intervenção militar. Já estão lá há meses, debaixo de sol, chuva e até raios…
Mas eu duvido que os milicos brasileiros hoje farão qualquer coisa nesse sentido e como consequência, a imagem das forças armadas perante a população conservadora ficará abalada. (o que é muito positivo, pois o povo terá que engolir a verdade, a de que tais instituições existem para proteger o estado e não o povo.)
Até onde sei, a intervenção de 1964 se deu por pressão dos EUA e Otan, que não queriam mais um país satélite da União Soviética na América Latina, já bastava Cuba.
O Brasil sofreria um ataque da Otan caso não fizesse nada, por isso esses putos se mexeram, para não perderem o osso…
Hoje a situação é muito diferente, EUA e Otan são a favor do Lula, não acredito que eles lançariam uma ofensiva militar contra o Brasil em caso de um golpe contra o Lula, mas alguma coisa no campo político fariam…
Essa cambada de conservadores iludidos com o suposto patriotismo das “força zarmada” terá que engolir um remédio amargo.
Seria lindo o Xandão cabeça de piroca sendo preso, Lula voltando para a cadeia, etc… mas a realidade é que não vai acontecer, o povo terá que entender que as forças armadas defendem o aparato estatal e não o povo.
Senão, o que as forças armadas da Venezuela estão esperando para salvar o seu povo ?, e as da Coréia do Norte ?, e as de Cuba ?.
Sim, as forças armadas Brasileiras não são diferentes de nenhuma destas citadas, o objetivo de todas é o mesmo, a defesa do aparato estatal.
Tem um monte de conservadores iludidos nas portas dos quartéis solicitando a invocação do artigo 142, que trata de uma intervenção militar. Já estão lá há meses, debaixo de sol, chuva e até raios…
Mas eu duvido que os milicos brasileiros hoje farão qualquer coisa nesse sentido e como consequência, a imagem das forças armadas perante a população conservadora ficará abalada. (o que é muito positivo, pois o povo terá que engolir a verdade, a de que tais instituições existem para proteger o estado e não o povo.)
=====Tanto conservadores como esquerdistas perceberão que os militares do século XXi não são esse “bicho de sete cabeças” e olha que já tive que ouvir canhoto me perguntando se eu também acamparia na frente do quartel local.
Hoje a situação é muito diferente, EUA e Otan são a favor do Lula, não acredito que eles lançariam uma ofensiva militar contra o Brasil em caso de um golpe contra o Lula, mas alguma coisa no campo político fariam…
=====Sanções econômicas/comerciais, certamente tentariam. De qualquer maneira, independente da simpatia ou não pela figura do autocrata de Moscou, a Rússia ainda é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, em especial, diria, da região Sul, que costuma exportar ao país eslavo miríades de carne suína e branca.
Real brasileiro deu uma boa valorizada hoje.
Indicou o Geraldo Alckmin para um futuro ministério e ainda falou isso (quem vai ser o vice?):
“Todo mundo vai ter que começar apertando o cinto, porque a quantidade de funcionários em cada ministério será no máximo comparada ao que era em 2010”
No mínimo, estranho. Será que o Andrés Manuel López Obrador telefonou para ele?
O presidente da FIESP já recusou convite para ministério. A FIESP é uma das corporações mais poderosas do estado de São Paulo e, desde 2015, está brigada com o PT.
Mais um artigo excelente. Apenas gostaria de compartilhar um dúvida, que tenho há algum tempo. Existe a democracia participativa (ou direta) e a representativa (ou indireta). A primeira era do tempo das cidade-estado da Antiguidade (tipo Atenas), com populações pequenas; a segunda é dos dias atuais quando os paises têm populações na casa dos milhões. Quando o cidadão tem que escolher entre os nomes de uma lista, quando os nomes estão vinculados a um partido político, fica muito difícil sermos bem representados. A democracia participativa seria possível no século 21? Ou estamos condenados à representativa (que, certamente, NÃO me representa)?