Gosto de muito do que o Leandro Karnal fala, mas
nesta ácida crítica ao empreendedorismo ele errou feio.
Ele critica o empreendedorismo por ser uma
'religião'; diz que a busca pelo êxito junto ao mercado (isto é, o êxito em bem
servir, atender e saciar as necessidades e desejos de terceiros, de modo a
assim também alcançarmos nossos objetivos pessoais) é uma frustrante busca de
felicidade.
Karnal critica metas, critica a livre associação de
pessoas em torno de um objetivo comum, e critica a busca por resultados.
Voltando um pouco aos fundamentos: empresa e
empreender vêm do latim impresa e imprendere, que significam 'ver',
'perceber', 'descobrir'. O empreendedor empreende para alcançar objetivos. Na
vida, temos de agregar valor a outras pessoas de tal forma que consigamos, por
meio de trocas voluntárias com essas pessoas, obter bens essenciais para nossa
sobrevivência e prosperidade.
Um empreendedor percebe algo e utiliza seus
talentos, trabalho e recursos — em condições de risco e incerteza — para
oferecer um bem ou serviço e, em contrapartida, obter dinheiro. Esse dinheiro
será então convertido nos bens importantes que deseja obter para si.
Sem empreendedor não há economia de mercado, não há
empresas, não há empregos, não há renda; o empreendedor é a força vital do
mercado.
Cada troca efetuada entre o empreendedor e seu
cliente melhora a situação de ambos. Ambos estarão em melhor situação após a
troca — caso contrário, não a fariam. Quanto mais trocas, quanto mais
empreendedorismo, maior a felicidade. Ao contrário do que Karnal defende.
Não resta dúvida que nem todos têm vocação e
propensão a serem bons empreendedores. Para tal, é preciso uma certa
personalidade; é preciso vigilância e estado de alerta ao que se passa ao
redor, aos desejos dos demais. Adicionalmente, é preciso ter propensão ao
risco, e também haver nutrido, provavelmente desde a infância, hábitos que
auxiliem a tornar-se um empreendedor.
O curioso é que Karnal contradiz em seus atos aquilo
que ele próprio defende. Em sua carreira, e notadamente neste vídeo, Karnal é
um empreendedor, ainda que de uma pessoa só. Por definição, ao se preparar,
Karnal observou o prazo final (data) para a palestra (uma meta), e se preparou
para falar por determinado tempo a pedido dos seus clientes (outra meta);
adicionalmente, ganhou bastante dinheiro ao oferecer ao público presente algo
que eles gostariam de ouvir, ou seja, sua palestra (o serviço prestado).
Karnal é um exímio empreendedor. Rivaliza no
competitivo mercado de palestras com vários outros palestrantes, e tem êxito em
seu empreendimento, exatamente o que ele critica.
Será que Karnal não está feliz em realizar seu
potencial ao empreender e obter dinheiro? Será que ele não se regozija ao
perceber oportunidades, e entregar de forma exemplar resultados que a maioria
dos demais não consegue? Duvido.
O fato é que aparentemente Karnal não percebeu que
ele próprio é um grande empreendedor (seu sucesso confirma isso). Talvez ele
prefira se considerar apenas um "intelectual iluminado".