Comentário de
Helio
Beltrão:
Ontem, após o processo de votação da aceitação do
pedido de impeachment na Câmara dos Deputados, o que mais se comentava nas
redes sociais era o baixo
nível educacional/intelectual dos políticos. Essa, a meu ver, é a prova de que as pessoas
acreditam que a democracia (no sentido de votar em 'representantes' a cada 4
anos) tem poderes mágicos.
Ora, sinceramente, o nível dos deputados não é muito
diferente do dos brasileiros. Não é exatamente isto — representantes que são a
cara do povo — que deveria ser esperado de um sistema de representação? Como querer que os representantes do povo
sejam diferentes — cultural e intelectualmente — do povo que os elegeu?
No entanto, de fato uma mágica ocorreu ontem: os
deputados foram fieis à vontade dos brasileiros. Isso, sim, foi inesperado.
Afinal, com um sistema de apertar botões a cada 4
anos, não há um 'canal de transmissão' adequado entre a vontade do eleitor e a
de seu representante. Este canal é, na melhor das hipóteses, como um daqueles
telefones de lata que eu usava na minha infância: só que, em vez de um barbante
de 3 metros, temos um péssimo telefone conectado com um barbante de 1.000 km de
extensão até Brasília. O 'representante' pode, em grande medida, desconsiderar
a vontade de seu eleitor (que ele de fato nem sabe quem é), pelo menos até a
próxima campanha eleitoral (quando, é claro, ele se torna super antenado).
O canal de transmissão só funcionou ontem porque foi
retransmitido e amplificado até Brasília, de cidade em cidade, pelo povo nas
ruas e pelas redes sociais. O Brasil inteiro estava de olho.
No entanto, no dia-a-dia, não é assim.
A política é um jogo de poder sobre os demais. Não é
difícil de entender por que as pessoas de bem tendem a ser rechaçadas ou
expulsas deste jogo. E é fácil observar que a política tem atração especial
justamente sobre aqueles que têm sede de poder,
aqueles que são amorais
e imorais, e aqueles que são sociopatas.
Quando Milton Friedman mencionou que a solução não é
"eleger as pessoas certas", mas sim "tornar politicamente
lucrativo que as pessoas erradas façam a coisa certa", creio que ele pensou
nos mecanismos de transmissão. Uma das formas poderia ser a já discutida PEC
do Recall, que pode tirar o mandato do sujeito antes de seu fim (análoga ao
impeachment)
Porém, julgo que soluções como a de Friedman não
atacam as causas principais, mas apenas as imediatas.
A causa principal é o tamanho gigantesco do poder
delegado aos políticos. Quanto menor o poder delegado aos políticos (por
Constituição, por exemplo) e quanto mais poder retivermos para nós mesmos,
menores serão os problemas. Em uma analogia muito menos que perfeita, é como
dois condomínios de casas: no primeiro, o síndico não tem poder para determinar
nada que afete negativamente a propriedade de cada um: seu poder é virtualmente
zero. No segundo condomínio, o síndico pode determinar o que quiser, inclusive
sobre como você usa sua casa dentro do seu terreno, quantos convidados pode
ter, regular seu acesso até sua casa, impor taxas arbitrárias etc.
É de se esperar que no segundo condomínio muito se
discuta sobre eleger um bom síndico, sobre como "precisamos de um bom
síndico" e tal. Mas nada muda nos
incentivos fundamentais do esquema e do síndico.
Há solução, sim: o truque é deixar de delegar tantos
poderes, sobre todos os assuntos, a um sujeito que tome decisões a seu bel-prazer.
Os libertários são vanguarda porque, entre outros
motivos, abominam autoritarismo, tortura e ditadura tanto quanto odeiam um
governo intrusivo, com impostos altos, e regulamentações e burocracia
asfixiantes.
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Comentário de Fábio
Barbieri:
Os deputados são um bando de ignorantes e alguns semi-analfabetos?
Ainda bem! Imaginem só o tipo de legislação centralizadora e autoritária que arrogantes
iluminados, como o péssimo prefeito de São Paulo, apoiariam? Que estes sonhem
com seu autoritarismo só na academia.
Os deputados não costumam trabalhar como ontem?
Ainda bem! Imagine quanta bobagem aprovariam se "trabalhassem" sempre?
Que gastem suas verbas passeando em ilhas da Polinésia.
Os deputados só apelam a Deus? Ainda bem! Quem diria
que a única resistência ao projeto totalitário de poder do petismo seria a
bancada evangélica? Na próxima eleição, eu, ateu convicto, votarei em algum
pastor protestante.
A população ontem ficou com vergonha dos deputados?
Ainda bem! Que nutram cada vez mais desprezo pelo estado parasitário e aprendam
que, se quiserem liberdade, sem ignaros e semi-analfabetos regulando a economia
e controlando suas vidas, a solução é apoiar ao máximo a desnutrição do estado.
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Comentário de Ubiratan
Jorge Iorio:
Quem acredita que o impeachment por si só vai tirar
o país da crise está totalmente errado. O impeachment vai eliminar o problema
maior, que é o PT e seu projeto bolivarianista de poder. Mas há muitos outros,
cujas causas principais são a deterioração moral e a crença de que políticos
são as pessoas indicadas para guiarem nossas vidas.
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Comentário de Bruno
Garschagen:
O impeachment não salvará o Brasil de sua classe
política, não salvará a sociedade brasileira de si mesma e nem a absolverá de
suas escolhas erradas. A república presidencialista brasileira é uma sucessão
de erros, de golpes, de intervenções e do desenvolvimento de uma peculiar
tradição política autoritária.
O impeachment, porém, vai tirar do poder um partido
fundamentado numa ideologia que tenta controlar não só o governo e o estado,
mas que também esforça-se para nos comandar e violar as nossas liberdades de
uma forma tão malandra que alguns até apoiam e agradecem o fato de serem
controlados em nome de uma causa.
O impeachment deve ser visto apenas como um primeiro
passo para o saneamento da nossa cultura política.
No mais, furtando uma frase do Nelson Rodrigues em
relação ao teatro, creio que a política "exerce um estranho poder de
cretinização, mesmo sobre as melhores inteligências".
E assino embaixo quando o nosso maior dramaturgo
afirma: "nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É
a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem".