Em 2005, segundo o IBGE, cinco milhões de brasileiros estavam
interessados em concursos públicos. Em 2010, esse número já havia mais que duplicado, passando
para 11 milhões de pessoas. Imagina
quantos são hoje?
No entanto, foi só ao ler um artigo recente, escrito por um holandês, que concluí em
definitivo algo de que apenas suspeitava: o número de jovens que almeja a
carreira pública está crescendo preocupantemente.
O artigo se chama: "Por que o Brasil não consegue crescer
ainda mais?", do autor Kieren Kaal [por ser holandês, ele se refere
aos valores monetários em euros]. Em
dado momento, ele escreveu, com muita precisão, o seguinte:
Uma economista
brasileira muito inteligente contou-me em uma casa de samba sobre os novos
planos para a sua carreira.
'Serei fiscal da Receita.
Cinco mil euros de salário inicial, um horário de trabalho legal e me aposentar
cedo. O que eu quero mais?'
Um sorriso debochado
brilhou no seu rosto. Quando eu a conheci, essa jovem talentosa de 20 e poucos
anos ainda tinha ambições muito diferentes. Ela seria uma escritora brilhante
ou uma empresária — não uma funcionária pública enferrujada. Mas a tentação é
grande. Nada menos que três em cada cinco jovens brasileiros sonham com um
emprego no governo, de preferência como funcionário público federal.
Pois bem, o que tenho visto diariamente na prática docente é
justamente isso: um grupo de jovens cuja maior ambição é se preparar em um
curso técnico/superior para um futuro concurso público estadual, ou
preferencialmente federal, para garantirem suas vidas logo no início delas, com
salários
gordos e cargos vitalícios, e assim poderem ter a certeza de que daqui a
alguns anos irão se aposentar e morrer em paz.
É deprimente entrar em uma turma de Direito e perguntar aos
alunos quantos dali pretendem fazer concurso e em torno de 90% (às vezes mais)
levantarem seus braços. Estamos mediocrizando o país.
Devemos lembrar que o estado não produz nada
Nosso país possui uma economia doentia, na qual existem
cidades que se sustentam única e exclusivamente dos vencimentos dos servidores
públicos, das transferências de renda (bolsa-família etc.), e nas
aposentadorias dos mais velhos. Toda a economia girar em torno de recursos
oriundos dos cofres públicos é absurdo. No
geral, mais
da metade da população brasileira depende de pagamentos do governo.
Enquanto isso, o governo, tal qual um leviatã, no melhor
modelo hobbesiano, parasita as poucas empresas, retirando o máximo possível por
meio da carga tributária, atraindo
alguns dos mais promissores talentos do mercado por meio de salários e planos
de carreira aos quais o setor privado não tem como fazer frente.
Por que se arriscar no setor privado, sofrendo cobranças e
tendo de apresentar eficiência, se você pode simplesmente ganhar muito no setor
público, tendo estabilidade no emprego e sem ter de apresentar resultados?
[N. do E.: E é justamente o setor privado quem tem de
sustentar a farra do setor público. Daí os baixos salários pagos na
iniciativa privada. Toda a carga tributária existente no Brasil, que
impede aumentos salariais na iniciativa privada, existe justamente para
sustentar o setor público e seus funcionários que ganham salários magnânimos e
vivem à custa dos trabalhadores da iniciativa privada, os quais ganham pouco
justamente porque têm de bancar os membros do setor público.]
Não deixa de ser irônico ver os editais de alguns concursos
exigirem o estudo de matemática ou economia. No caso da economia é triste
porque geralmente não é economia, mas sim uma cartilha político-partidária de
acordo com o "P" que esteja no comando do país/estado/município do certame. No mais, é de certa forma absurdo que certos
órgãos peçam que seus futuros funcionários estudem matemática ou economia,
visto que basta realizarem alguns cálculos básicos, matemática elementar, e
irão perceber o buraco em que o país está se metendo.
Enquanto isso, a demagogia oficial se vale do "estado do bem-estar social" para buscar votos, prometer o impossível e, com isso, sacrificar
as gerações futuras emitindo um cheque sem fundo, que a maior parte de seus
técnicos sabe que não poderão ser pagos.
O
Brasil gasta demais com funcionários públicos, e não há quem se comprometa
a pôr um freio nesta farra.
A questão é: como irão fechar as contas sem recorrerem a
mais impostos? Se assim o fizerem, poderá chegar o dia em que irão inviabilizar
as empresas, que são quem mantém toda essa estrutura. Ironicamente, sem o setor produtivo, o número
de funcionários públicos bem pagos cairá a zero.