O
The Wall Street
Journal publicou uma matéria sobre a economia brasileira, citando extensamente o Instituto Mises Brasil. Trata-se da
primeira grande matéria estrangeira que não atribui aos preços das commodities
as causas da recessão brasileira.
Eis aqui a reportagem
na íntegra e, abaixo, sua tradução.
É fácil culpar a queda dos preços do petróleo pela crise
econômica no Brasil. Mas é também errado. As feridas do Brasil foram
auto-infligidas por uma combinação de políticas, adotadas desde 2008, contrárias
ao crescimento econômico. Os resultados eram previsíveis.
A economia brasileira contraiu impressionantes 4,5% no
terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O Fundo Monetário
Internacional prevê que em 2015 o produto interno bruto do Brasil irá diminuir
3% e mais 1% em 2016. [N. do E.: tais estimativas já estão defasadas: as
últimas são de 3,62% e 2,67%, respectivamente]. Isso depois de um
crescimento zero em 2014.
Em setembro, a Standard & Poors retirou o grau de
investimento do país. Na quarta feira, a Moody's também colocou em perspectiva
de rebaixamento a dívida brasileira. A taxa de inflação acumulada em 12 meses
em novembro foi de 10,5% e a CIBC Capital
Markets prevê um déficit fiscal de 10,5% do PIB em 2015.
Os meios de comunicação internacionais atribuem a recessão à
forte queda dos preços do petróleo gerada por um dólar forte e a uma queda na
demanda global [N. do E.: por commodities como minério de ferro]. Mas o Brasil
é uma das economias
mais fechadas do G-20, e, de acordo com a CIBC Capital Markets, suas exportações de bens como percentual do
PIB em 2014 foram de apenas 10,5%. As do
México foram de 18,24%. Todos os exportadores de commodities latino-americanos
estão sentindo a crise do petróleo e das commodities, mas nenhum sofreu
consequências tão ruins como o Brasil. Chile e Peru, grandes exportadores de
commodities, ainda estão crescendo. Além disso, os preços mais baixos das
commodities também contrabalançam o alto custo de se fazer negócios no Brasil.
Em 2014, 40% das importações brasileiras estavam ligadas às commodities,
inclusive fertilizantes, gasolina, alumínio para fabricação de aço, e petróleo.
Uma década atrás, havia motivos para acreditar que uma maior
prosperidade brasileira era iminente. Tal otimismo dependia das reformas econômicas,
fiscais e monetárias instituídas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso
1995-2002.
O presidente [Luiz Inácio] Lula da Silva, do Partido dos
Trabalhadores (PT), assumiu o cargo em 2003. Sua história pessoal como líder
sindical militante e discípulo de Fidel Castro causou pânico nos mercados. Para
estancar a debandada dos investimentos ele se comprometeu a não mexer com a
autonomia do Banco Central ou com a estabilidade do Real, e a não alterar
radicalmente a política econômica.
Geanluca Lorenzon, diretor de operações do Instituto Mises
Brasil, em São Paulo, me disse em uma entrevista por telefone na semana passada
que o senhor da Silva chegou até mesmo a aprofundar o comprometimento
do governo federal com uma austeridade orçamentária por algum tempo. Porém,
já em 2008, em seu segundo mandato, a crise financeira global atingiu o Brasil.
E ele se rendeu.
Lorenzon disse que Lula recorreu a uma política de aumento
de gastos ao mesmo tempo em que o Banco Central, supostamente autônomo, começou
a permitir uma inflação mais elevada como forma de estimular o crescimento.
Para uma cultura política predisposta a sofrer abusos do
governo, a quebra das regras estabelecidas durante o governo FHC — que foram
projetadas para restringir esse mesmo poder — desencadeou um retorno ao mau
comportamento do governo.
Desde 1960, o Brasil tem perseguido uma política de
industrialização por meio de altos níveis de protecionismo e subsídios aos
produtores nacionais. O fracasso dessa estratégia é evidente. Porém, permitir
que empresas pouco competitivas quebrassem seria uma prática que traria custos
políticos com os quais o senhor da Silva e sua sucessora, a presidente Dilma
Rousseff, não estavam dispostos a arcar.
Em vez disso, eles aumentaram o protecionismo e os subsídios,
e expandiram aceleradamente o crédito estatal por meio do Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDES) e de outros bancos públicos.
Eles também incorreram em grandes
déficits orçamentários. Os déficits foram exacerbadas pela triplicação
do número de servidores públicos durante os governos do PT e de aumentos
injustificados do salário mínimo e de benefícios de aposentadoria e bem-estar
social.
O Instituto Mises Brasil observou em um post de novembro de
2010 que, de maio de 2009 a setembro de 2010, houve uma expansão de 25% do
crédito. Não por coincidência, em 2010, a econômica do Brasil cresceu 7,5%, mas
isso não se deveu, como bem se sabe agora, a ganhos de produtividade. Olhando em
retrospecto e levando em conta toda a má alocação de capital gerada por essa expansão
do crédito, o instituto escreveu
em fevereiro deste ano que "o que realmente aconteceu é que a economia
brasileira foi mantida animada por novas e crescentes doses de crédito estatal"
O crédito do BNDES era barato para as empresas politicamente bem
relacionadas, as quais o governo queria impulsionar. Mas isso teve custos para o país. Parte desse crédito subsidiado também foi direcionada para
as famílias. Segundo o Instituto Mises Brasil, atualmente, o endividamento
das famílias é de mais de 45% da sua renda acumulada em doze meses [gráfico 8]. Atualmente
o maior programa de financiamento imobiliário do governo [Minha Casa, Minha Vida]
tem uma
taxa de inadimplência de quase 22%.
Para salvar os empréstimos subsidiados concedidos às grandes
empresas nacionais, o governo elevou
as tarifas de importação e impôs o uso de
insumos "made in Brasil". Isso afetou a inovação e o desenvolvimento.
Grandes reservas de petróleo não serão exploradas enquanto os investidores
estiverem paralisados por regras que exigem que o seu equipamento seja
fabricado nacionalmente.
O Brasil está colhendo os frutos de uma política industrial que
simplesmente não tem como produzir crescimento e prosperidade. A bolha do
crédito estourou. Os consumidores, as empresas e o governo não voltarão ao
equilíbrio sem passar por um ajuste doloroso. Não vale culpar os preços do
petróleo e do minério.
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Leitura complementar
e muito mais abrangente:
O que realmente permitiu o
grande crescimento econômico brasileiro da última década