Alguns
autodenominados reacionários brasileiros (não são todos, e definitivamente não
é o caso dos conservadores 'clássicos' na linha de Edmund Burke e Russell Kirk)
costumam ter um discurso com críticas severas a uma das grandes conquistas da
tradição ocidental: o devido processo legal.
Esta
sábia e milenar tradição nos legou certos princípios que sempre deveriam ser observados (lamentavelmente, nem sempre a
legislação penal de um país reflete tais princípios em toda a sua
extensão):
a)
presunção de inocência e ônus da prova recaindo sobre o acusador;
b)
direito de responder às acusações em liberdade (salvo em crime em flagrante) e
habeas corpus;
c)
condenação somente se houver evidências que demonstrem culpa acima de dúvida
razoável;
d)
julgamento por júri;
e)
direito a representação por advogado;
f)
completa avaliação dos fatos e repasse ao acusado de todas as informações
relevantes;
g)
direito de não se auto-incriminar e permanecer calado;
h) julgamento célere e imparcial.
i) direito a recurso à alçada superior
Embora
seja compreensível que em um país com alto nível de impunidade e violência haja
uma reação instintiva e apaixonada contra a criminalidade, a opinião
verbalizada por estes agressivos reacionários ultrapassa o bom senso e é
incompatível com o devido processo legal.
O
Facebook e as redes sociais destes se transformaram em "tribunais" cuja
doutrina central é "bandido bom é bandido morto". Há rechaço contra 'habeas
corpus' cedidos a alegados criminosos, e a presunção de inocência é invertida
para presunção de culpa. Seu comportamento denuncia sua revolta contra a
tradição ocidental.
Enquanto
as bases da boa tradição ocidental estiverem sob este ataque sistemático,
restará pouca esperança de uma sociedade menos violenta e mais justa.