Atualização
em 28/01/2017
A economia do Reino Unido pós-Brexit, contrariando
todas as expectativas das elites políticas, continua robusta.
No quarto trimestre de 2016, a economia cresceu mais
rapidamente do que os economistas haviam previsto, continuando a desafiar as
expectativas de que o Brexit traria efeitos negativos.
Em
termos trimestrais, o crescimento foi de 0,6% — acima dos 0,5% previstos
— e representa o 16º trimestre consecutivo de crescimento. Comércio e serviços
continuaram os setores mais robustos. O setor de serviços cresceu 0,8% no
trimestre e o setor industrial, 0,7%.
Já em 2016, a economia britânica se expandiu
2%, o maior crescimento do mundo desenvolvido, superando
Alemanha e Estados Unidos. Nada mau para um país já rico e que, segundos os
"especialistas", entraria em colapso após o Brexit.
O índice FTSE 100 (o Ibovespa britânico), que lista
as 100 maiores empresas com capital aberta na bolsa de valores de Londres, acelerou
ainda mais após o voto pela saída. Já o desemprego
caiu.
A mídia, no entanto, segue alertando
que "haverá uma desaceleração" até o fim de 2017. É plausível. Aliás, é esperado. Mas
isso não altera o fato de que mídia e todas as elites políticas estavam erradas
ao prever uma grande retração econômica em decorrência do Brexit (ver artigo
abaixo). Os eleitores britânicos já perceberam o quão mal fundamentado era todo
aquele alarde contra o Brexit.
O fato é que, por ora, a experiência britânica revelou
ao resto da Europa Ocidental que não há nenhum risco econômico mensurável em se
deixar a União Europeia. Mesmo que haja uma desaceleração econômica no fim do
ano, ou até mesmo uma recessão, o fenômeno provavelmente será mundial, atingindo
a Europa e os EUA, tornando difícil para a turma anti-Brexit criar uma hipótese
plausível de causa e efeito. Se os países que permanecerem na União Europeia também
sofrerem uma recessão, então a saída do Reino Unido não será considerada uma
causa significativa para uma eventual recessão britânica.
Tudo isso pode insuflar novos movimentos de saída da
UE. Isso é uma ótima notícia para a liberdade e uma péssima notícia para os
globalistas.
O artigo abaixo, publicado em setembro de 2016, já antecipava
toda esta tendência.
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Nos meses que antecederam o referendo do Brexit,
que ocorreu no dia 23 de junho, os cidadãos britânicos foram impiedosamente
bombardeados por uma série de alertas, crescentemente aterrorizantes, sobre as
consequências de um voto pela saída da União Europeia.
A campanha alarmista,
orquestrada pelas elites defensoras da União Europeia e cuidadosamente
construída para gerar temor na população britânica, variou do ridículo ao
cômico: disse que o Reino Unido poderia
ser excluído do concurso anual de músicas Eurovisão
e avisou que uma saída da UE poderia desencadear
a Terceira Guerra Mundial.
Muito mais comum, no
entanto, foi a aparentemente infindável procissão de alertas de que um voto
pela saída da União Europeia geraria uma profunda recessão na economia
britânica.
Durante o primeiro
semestre de 2016, raramente houve uma semana em que uma proeminente figura do
establishment — desde o ministro da fazenda (que, no Reino Unido, detém o
pomposo título de 'Chanceler do Exchequer') George
Osborne, passando pelo
FMI, e culminando em George
Soros — não viesse a público fazer tétricas previsões sobre a profunda
recessão que inevitavelmente se abateria sobre a Grã-Bretanha caso o povo
britânico optasse por sair da União Europeia.
Com efeito, o senhor
Osborne chegou até mesmo a publicar o
esboço de um "orçamento de emergência", o qual ele disse que seria
necessário caso o Brexit fosse confirmado.
Segundo ele, o Brexit resultaria na perda de meio milhão de empregos
para os britânicos. Adicionalmente, ele
ameaçou que o governo sofreria uma brutal queda nas receitas da ordem de 30
bilhões de libras, sendo que esse "buraco negro" teria de ser contrabalançado
por meio de corte de gastos com o National
Health Service,
o serviço de saúde estatal britânico, famosamente descrito pelo chanceler de
Margaret Thatcher, Nigel Lawson, como "a coisa mais próxima que os ingleses têm
de uma religião".
A imprensa britânica
prestou particular atenção nos alertas seguidamente emitidos pelo presidente do
Banco Central da Inglaterra, Mark Carney, que repetitivamente
dizia estar prevendo profundos impactos negativos sobre o emprego e a taxa
de crescimento resultantes de um eventual Brexit.
Quem não embarcou na onda terrorista
Este site, por sua vez,
disse que nada de especial ocorreria caso os britânicos optassem pela saída da
União Europeia. Vale a pena citar o que
foi dito neste artigo:
[...] assim como o comércio entre o Reino Unido e a
União Europeia continuará independentemente do resultado do referendo de
quinta-feira, também os fluxos de investimento continuarão inalterados.
Os EUA não fazem parte da UE, tampouco sua moeda é a libra ou o euro, mas os
fluxos de investimento do Reino Unido para os EUA são maiores do que os de
qualquer outro país. O investimento sempre migra para onde ele é bem
recebido e bem tratado, e isso não mudará caso os eleitores britânicos optem
por deixar a UE.
Tanto o Reino Unido quanto a União Europeia
continuarão sendo destinos atrativos para investimentos, independentemente de
qual seja o resultado de 23 de junho. E, dado que eles continuarão sendo
atrativos, é seguro dizer que os investimentos entre os agora divorciados não
irão acabar.
Falando mais amplamente, Londres continuará sendo um
dos principais centros financeiros do mundo, não importa o que aconteça
amanhã. Consequentemente, os bancos de investimento do Reino Unido
continuarão atendendo aos interesses dos atuais e futuros empreendimentos da
União Europeia. Os principais negócios sediados na União Europeia não
irão abrir mão da expertise financeira oferecida pela City londrina por causa
de uma votação.
Alguns negócios serão negativamente afetados pela
saída? Sem dúvidas. Assim como alguns contadores perderiam seus
empregos caso os governos facilitassem os códigos tributários, certamente há
consultores no Reino Unido que perderão seus empregos caso as empresas
britânicas não mais tenham de cumprir com as intrincadas regulamentações
impostas pela União Europeia. E certamente há lobistas britânicos que
hoje ganham muito dinheiro por causa de sua habilidade em influenciar as
decisões dos burocratas de Bruxelas. Essas pessoas seriam, no curto
prazo, prejudicadas. Mas, obviamente, não é função dos cidadãos
britânicos manter esses empregos artificiais.
Além do mais, uma saída do Reino Unido não significa
que as empresas do Reino Unido que queiram continuar servindo a clientes
europeus estarão isentas de cumprir com as regulamentações da UE.
Consequentemente, vários "facilitadores" manterão seus empregos.
Ainda mais importante, este outro artigo
deixava claro que uma saída da União Europeia poderia melhorar substantivamente
o ambiente de negócios do Reino Unido, pois este agora estaria livre das
onerosas regulamentações econômicas impostas por Bruxelas, as quais determinam
até mesmo a curvatura máxima que pode ter um pepino. Livrar-se de regulamentações e burocracias é
algo sempre salutar para a economia.
O que realmente aconteceu
Quase três meses após o
voto para deixar a União Europeia, os
recentes dados econômicos divulgados estão solapando a credibilidade das
previsões do establishment político e do senhor Carney, o presidente do Banco
Central da Inglaterra.
Sim, imediatamente após a
divulgação dos resultados, a economia britânica vivenciou uma turbulência,
gerada pelas inevitáveis incertezas trazidas por um inesperado resultado (todas
as pesquisas indicavam que o "permanecer" venceria) em um referendo sem
precedentes (nenhum país até então havia pedido para sair da UE). A imediata renúncia do então Primeiro
Ministro David Cameron, após seis anos no cargo, contribuiu para as
incertezas. Pesaram ainda mais as ameaças explícitas
feitas pela elite política da União Europeia.
Hoje, passadas as
turbulências iniciais, a situação é outra: não apenas o Reino Unido não entrou
em recessão, como, ao contrário, vários indicadores chaves mostram um notável
grau de robustez na economia britânica desde a decisão de deixar a União
Europeia.
O FTSE 100 — o principal
índice econômico britânico, que lista as 100 maiores empresas com capital
aberta na bolsa de valores de Londres — não apenas voltou
a níveis pré-Brexit já na segunda-feira após o referendo (que ocorreu numa
quinta-feira), como também está
nas máximas para este ano. Já o FTSE
250 fez o mesmo um mês depois.
O índice dos gerentes de
compra — outro indicador-chave, que mensura o desempenho de empresas de
serviços e manufatura —, que vinha em queda desde o início do ano, apresentou
uma reversão já agosto, subindo fortemente — e a uma taxa recorde — pela
primeira vez no ano. E isso ocorreu
tanto para o setor
industrial quanto para o setor
de comércio e serviços.
Também em agosto, o número
de carros novos registrados aumentou
3,3% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Uma pesquisa da Markit
mostrou que o setor de serviços, que é, de longe, o maior setor da economia
britânica, passou
a vivenciar a maior taxa de expansão dos últimos 20 anos desde o voto pela
saída da União Europeia. Já exportações,
moradias e construção — setores que os catastrofistas diziam que iriam desabar
— se mostram muito
mais robustos que o previsto.
O Lloyd's, um dos maiores
bancos comerciais e de varejo da Grã-Bretanha, indicou
em seu relatório de julho que, em termos da capacidade de compra, "estava
mais confiante em suas finanças do que jamais esteve desde o início da coleta
desta estatística".
Bancos recuam de suas previsões
catastróficas
Dois meses e meio após o
resultado do referendo, a lista de indivíduos e instituições que estão tendo de
fazer um mea-culpa e desdizer seus alertas alarmistas feitos antes do Brexit
cresce diariamente. Credit
Suisse, Morgan Stanley, Goldman Sachs e JP Morgan tiveram todos de renegar seus alertas anteriores de que o Brexit iria
causar uma profunda recessão. Igual
atitude teve de ser feita por outras figuras influentes, como o editor
de economia do Financial Times.
O então Chanceler do
Exchequer, George Osborne, ao menos teve a decência de renunciar após a votação
do Brexit, e o novo chanceler, Philip Hammond, tem sido explícito em suas
afirmações de que aquele "orçamento de emergência" elaborado por Osborne não
será necessário.
Até mesmo o esquerdista The Guardian, o mais estrepitoso
porta-voz da esquerda-chique pró-União Europeia, foi
obrigado a admitir que "economistas estão tendo de revisar suas previsões
pessimistas para o resto do ano e também para 2017 após uma sequência de
números positivos mostrando um contínuo crescimento da atividade econômica".
Este surto de boas
notícias econômicas deveria ao menos incutir um pouco de humildade naqueles
catastrofistas a serviço das elites políticas.
Lamentavelmente, no entanto, o "Projeto Medo" criado antes do referendo,
e que foi rapidamente transformado em "Projeto Nós Avisamos" durante a
turbulência inicial do pós-Brexit, parece agora ter se transformado no "Projeto
Graças a Mim", com o presidente do Banco Central da Inglaterra, Mark Carney,
desavergonhadamente se auto-promovendo como o salvador da economia.
Ganhando crédito pelas boas notícias
Para salvar a honra e
proteger o orgulho próprio, vários dos comentaristas que previram consequências
catastróficas para o Brexit estão agora dizendo que nada daquilo aconteceu
simplesmente porque o Banco Central da Inglaterra salvou a economia do colapso
ao reduzir a taxa básica de juros de
0,50% para 0,25%. Essa política
monetária, que teve efeito
quase nulo sobre a base monetária, tem sido repetida ad nauseam pela imprensa britânica pró-governo como sendo a medida que ajudou a incutir uma vaga
sensação de confiança nos mercados, estimulando os preços dos imóveis e
mantendo as exportações.
Embora seja verdade que as
exportações
aumentaram após o Brexit, está longe de ser um fato concreto que a
desvalorização da libra tenha sido um efeito positivo para a economia,
particularmente quando se sabe que as importações das quais a economia da
Grã-Bretanha é dependente encareceram
em consequência dessa desvalorização.
Dizer que um encarecimento de bens importados foi o que impulsionou a
economia britânica é algo economicamente sem sentido.
Nenhuma menção é feita
pelas elites políticas e midiáticas às consequências positivas
de se livrar de toda a burocracia imposta pela União Europeia e à maior liberdade
econômica e empreendedorial que isso irá permitir aos britânicos. Mercados trabalham com a antecipação de previsões. Os efeitos benéficos do Brexit já estão sendo
precificados hoje, e já estão sendo refletidos nos melhores índices econômicos
e na melhora das expectativas futuras. Isso
não é algo que possa ser ignorado.
No entanto, o senhor
Carney, antes um resoluto defensor da tese catastrofista, segue impávido,
dizendo estar seguro de que foram suas medidas que "transformaram o Brexit em um
sucesso".
Quais as chances de
membros da elite política terem a humildade de admitir erros?
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Veja também:
2017 - A independência da Grã-Bretanha
As causas do Brexit, a história da União Europeia e suas duas ideologias conflitantes