Beneficiários das reservas de mercado mostram todo o seu apreço pela livre concorrência
Um
dos efeitos mais interessantes da chegada da Uber no Brasil tem sido a súbita e
surpreendente defesa do livre mercado empreendida pelos seus usuários diante
das recentes tentativas de proibição do aplicativo.
O "luberalismo" dos usuários surpreende pela qualidade dos
argumentos. Nas redes sociais,
condena-se a reserva de mercado dos táxis e o caráter coercitivo da organização
do transporte público e seu sistema de licenças estatais. Muitos invocam seu
direito de escolha: por que devem ser limitados apenas a um serviço, quando
seria possível escolher entre vários?
Outros questionam a qualidade do serviço prestado pelos táxis,
acostumados ao monopólio, e a compara à dos novos entrantes, apontando que a
concorrência leva a uma melhoria geral da qualidade do serviço e do bem estar
dos consumidores.
Outros ainda apontam que, a depender do legislador, estaríamos
ainda usando máquinas de escrever, e que a Uber já é suficientemente
regulamentada pelos seus próprios usuários. Todos argumentos clássicos, há
séculos defendidos pelos liberais e libertários, feitos espontaneamente por
pessoas que, por ignorância ou opção, provavelmente torcem o nariz quando ouvem
falar em "liberalismo".
Há um motivo pelo qual o senso comum, no caso da Uber, se adequou
à defesa da liberdade.
O economista Donald Boudreaux
diz que estamos tão bem acostumados com a fluidez dos mercados no nosso dia a
dia que nunca nos perguntamos como as trocas entre bilhões de pessoas
desconhecidas podem funcionar tão bem a ponto de sempre podermos encontrar um
prato de comida em um restaurante. Em geral, quando questionado a pensar nos mercados, o consumidor
se sente alheio a esse grande e complexo sistema (apesar de ser, como definiu Ludwig von
Mises, seu soberano) e tende a querer controlá-lo e a planejá-lo por meio
de legislações e regulamentos governamentais.
A Uber, ao contrário, torna
o funcionamento do mecanismo de trocas e a soberania do consumidor claros e
evidentes — por meio de um simples aplicativo, o usuário decide, escolhe e
avalia o serviço que adquire.
Ele sabe que não é da benevolência do motorista que
vêm a água, as balinhas e a gentileza, mas do seu empenho em promover seu
auto-interesse — no caso, as 5 estrelinhas que garantem sua continuidade na
rede. A própria lei da oferta e da demanda é evidenciada pela tarifa dinâmica —
o usuário vê os preços subirem nos momentos de maior tráfego e decide se vale
ou não a pena solicitar a viagem.
Assim, o aplicativo Uber permite ao usuário exercer e experimentar
diretamente o poder autorregulador dos mercados.
Porquanto o Luberalismo da ocasião deva ser
celebrado em um país de tradição autoritária e antimercadista, é o momento de
mostrar que ele não deve se restringir à Uber. Os argumentos a favor da
abertura e da competição, evidentes no caso do aplicativo, valem para toda a
economia.
No transporte coletivo, as vans, concorrendo com as
concessionárias, fazem trajetos mais eficientes e baratos, garantindo um
serviço melhor à população mais pobre. Na fotografia, um mercado ainda
relativamente livre (não
se depender do Senado Federal), qualquer pessoa pode ter seus momentos
documentados, por preços baixíssimo ou altos, por novatos ou profissionais de
renome.
Na telefonia, viu-se como a abertura à competição (ainda que limitadíssima, no caso do
Brasil), possibilitou a universalização dos celulares. Na Índia e na Guatemala, onde a liberalidade quanto às concessões
de telefonia é grande, as
tarifas estão entre as menores do mundo.
Na nova economia compartilhada, plataformas como Airbnb, Udemy, Indiegogo, que possibilitam trocas entre seus usuários, estão
provocando uma verdadeira revolução de preços, qualidade e oferta.
Assim, quando nos deparamos com mercados aparentemente complexos e
não conseguirmos imaginar como poderia se dar seu funcionamento sem uma
regulamentação centralmente planejada, tentemos "uberizá-lo". Imagine um Uber
para diaristas, contadores, advogados, médicos ou professores. Imagine um Uber
para a compra de carros, eletrodomésticos ou comida.
Imagine que exista um aplicativo que conecte tomadores e
prestadores daquele serviço, ou consumidores e produtores daquele bem. Imagine
essa plataforma descentralizada, que dá aos usuários um poder real de avaliar e
direcionar os preços, quantidades e qualidade desses bens e serviços.
Essa plataforma é o livre mercado.
______________________________________
Leia também:
As
aplicações P2P quebrarão os monopólios e as reservas de mercado, e tornarão
todos capitalistas
Uber, livros e os duzentos
anos de conspiração contra o público consumidor
A batalha pela liberdade
econômica – todos os louvores às empresas Uber e Lyft
Uma solução de mercado para
a briga entre taxistas e Uber