Em
seu livro A Era
da Turbulência, uma coletânea de memórias lançada em 2007 por Alan
Greenspan, o ex-presidente do Fed relata duas visitas que fez à União Soviética
em intervalos de tempos bastante espaçados.
Durante sua segunda visita, a qual ocorreu algumas décadas após a
primeira, Greenspan ficou espantado ao testemunhar que os trabalhadores
soviéticos ainda estavam utilizando exatamente o mesmo tipo de trator que
utilizavam décadas antes.
Para
qualquer indivíduo entusiasta do processo de "criação destrutiva" imortalizado
por Joseph Schumpeter, segundo o qual novas de formas de maquinário e de
trabalho estão constantemente substituindo as antigas, e com isso gerando um
substancial crescimento econômico, a cena testemunhada na União Soviética é
típica de uma economia estacionária, sem criação e sem inovação, e que ocultava
como era realmente desesperadora a situação na URSS.
Uma
sociedade destituída de empreendedores, de inovadores e do capital necessário
para financiar suas ideias originais será inevitavelmente uma sociedade
economicamente estagnada, e como tal, em declínio. Não há empregos sem
investimentos. Logo, quem cria empregos
são investidores, e investidores fogem de situações econômicas caracterizadas
por uma falta de mudanças.
Só que, por
mais que isso seja difícil de ser aceito, ao menos em princípio, a genialidade
dos inovadores está em sua capacidade de destruir
empregos. A melhor maneira de se
criar empregos é tornando supérfluo aquele tipo de trabalho que não mais é
necessário.
Quando empregos bons são criados, empregos ruins são destruídos
Dado que são os investidores
que criam empregos, e dado que investidores são atraídos por lucros, quando
inovações tecnológicas permitem que se produza mais bens com menos mão-de-obra,
os lucros aumentam. E esse aumento dos
lucros gerará os investimentos que criam empregos.
O
automóvel, o computador, a luz elétrica, a internet e a mecanização da agricultura
tornaram várias formas de emprego totalmente obsoletas. Não obstante,
isso não apenas não empurrou a humanidade para a pobreza endêmica, como ainda
gerou a criação de maneiras totalmente novas de se ganhar a vida.
A
criação do automóvel e do caminhão, por exemplo, não apenas destruiu vários
empregos no setor de carroças, como ainda tornou obsoleto todo o setor de
transporte manual, em que cargas eram carregadas nas costas por vários
trabalhadores. Esses empregos exaustivos
e deletérios para a saúde foram substituídos por novas e melhores formas de
emprego.
Por exemplo, as indústrias
puderam expandir o escopo de seus mercados porque os caminhões as tornaram
capazes de transportar seus bens para locais mais distantes. Com a massificação desse novo meio de
transporte, as indústrias puderam se expandir vastamente, e com isso criaram
milhões de novos empregos.
Pense
no computador. Esta máquina
provavelmente destruiu mais empregos do que qualquer outra inovação tecnológica
na história da humanidade, com a possível exceção do automóvel. Porém, assim como os automóveis não levaram a
humanidade para a miséria (todos os empregos destruídos pela criação do
automóvel foram substituídos pela criação de novos e melhores empregos),
tampouco o computador conseguiu esse feito.
Ao
contrário: ao passo que o computador tornou supérfluas várias formas antigas de
trabalho corporal e mental, os lucros gerados por essa mecanização criada pela
computação permitiram novos investimentos em milhares de outras áreas da economia,
gerando a criação de milhões de novos empregos.
Só a internet criou empregos que, duas décadas atrás, ninguém imaginava
poderem existir.
E
a eletricidade? Sua invenção destruiu um
sem-número de empregos na indústria de velas e na indústria de carvão. No entanto, os lucros gerados por essa
invenção permitiram novos investimentos em praticamente todos os outros setores
da economia, o que possivelmente gerou a criação de bilhões de novos empregos, sem nenhum exagero.
Quem
entre nós gostaria de viver em um mundo sem carros, computadores, internet e
eletricidade, considerando-se todos os empregos que tais invenções destruíram? Quem quer voltar a viver em um mundo em que
praticamente todos os seres humanos tinham de trabalhar exaustivamente no campo
— querendo ou não — apenas para sobreviver?
Para a nossa sorte, a tecnologia acabou com a necessidade de utilizar
seres humanos para fazer trabalhos agrícolas pesados, e os liberou para ir
buscar outras vocações fora do campo. Foi então que começou nosso processo de enriquecimento e de melhora no
padrão de vida.
Um
dos pioneiros na criação do computador foi o físico John Mauchly. E sua criação ocorreu justamente porque ele
queria se livrar do fardo de ter de fazer, diariamente, vários cálculos longos
e tediosos. Foi para se livrar deste
trabalho penoso que Mauchly passou a se concentrar na invenção de uma máquina que
fizesse esses cálculos para ele. E então surgiu o computador.
O
progresso e a inovação são belos justamente porque eles tornam obsoletos vários
tipos de trabalhos exaustivos. E, ao tornarem
obsoletos esses empregos arcaicos, mão-de-obra e recursos escassos são
liberados para ser investidos em novas áreas, criando novos tipos de emprego mais
compatíveis com nossas reais habilidades individuais.
A quimera do "vamos criar empregos!"
Qualquer
político ou economista que porventura alegue ter algum plano mirabolante para
"criar empregos" deve ser prontamente ridicularizado. Eles não entendem esse básico: empresas
bem-sucedidas, que empregam vários trabalhadores, só conseguiram chegar a essa
condição após terem regularmente destruído
outros empregos.
Falando
mais diretamente, planos econômicos inventados para "criar empregos" irão
necessariamente fracassar, no longo prazo, porque empregos são um custo. Sendo um
custo, o fato é que, por mais paradoxal que isso pareça, o caminho mais rápido
para a verdadeira criação de empregos é permitir a redução desse custo
trabalhista por meio da redução dos empregos.
Para
entender por que é assim, vale repetir o que já foi dito lá no início: todos os
empregos decorrem de investimentos. E
investimentos são, acima de tudo, atraídos pela perspectiva de lucros. Consequentemente, quando políticos e
economistas pontificam eloquentemente sobre seus planos para criar empregos,
eles estão ignorando esse ponto essencial: investidores estão sempre à procura
de situações comerciais em que as empresas conseguem produzir o máximo possível
com o mínimo de custos trabalhistas.
Peguemos
como exemplo a Amazon. Ainda na década de 1990, a Amazon conseguiu
atrair um maciço volume de investimentos não porque Jeff Bezos, seu criador,
estava prometendo contratar várias pessoas com essa sua nova criação. Ao contrário: a maior varejista online do
mundo conseguiu atrair capital exatamente porque prometia custos baixíssimos em termos de mão-de-obra para vender uma
quantidade enorme de bens.
Agora,
veja a situação da empresa hoje: essa capacidade da Amazon de fazer mais com
menos foi justamente o que atraiu vários investidores ávidos para financiar
essa abordagem varejista revolucionária, e isso impulsionou a empresa a uma
expansão contínua.
Consequentemente, a
Amazon emprega hoje um número substantivamente maior de pessoas que empregava
quando foi criada. E essa crescente
quantidade de mão-de-obra empregada pôde ocorrer justamente porque a empresa
foi cautelosa em suas contratações, empregando sempre um número ótimo de
empregados em relação à quantidade de produtos com que ela tem de lidar.
Peguemos
a Google. Ainda em 2003, Rich Karlgaard,
editor de tecnologia da Forbes, previu que a Google
seria um tremendo sucesso na década seguinte para investidores porque, segundo
ele, seu motor de busca era alimentado essencialmente por "12
mil servidores baratos". A
genialidade da Google está em seu modelo de negócios de baixo custo, formado
por equipamentos relativamente baratos e até mesmo prosaicos.
Compare isso a um exército de empregados
caros que podem faltar ao trabalho, fazer greve, exigir aumentos salariais ou
simplesmente se demitir. Servidores de
internet não param de trabalhar; e quando dão defeito, podem ser prontamente
substituídos.
Obviamente,
a Google hoje emprega um grande número de trabalhadores exatamente porque seu
crescimento, lucratividade e retorno sobre os investimentos atraíram novos
investidores intrigados por um plano de negócios que alcança grandes resultados
com pouca mão-de-obra humana.
Em
suma, a Google criou vários empregos e possui hoje vários empregados justamente
porque sua abordagem inovadora na busca pelo lucro revelou um profundo
entendimento sobre como destruir ou mecanizar um trabalho até então feito
exclusivamente por humanos.
Agora,
compare esses reais fenômenos de mercado a políticos e governos que juram ser
capazes de "criar empregos", "salvar empregos" e "reduzir o desemprego" por
meio de políticas intervencionistas. Eles agem exatamente como se pudessem manusear alavancas em seus gabinetes
e, com isso, fossem capazes de criar empregos nas áreas em que eles,
burocratas, julgam ser necessário.
Ao
agirem assim, o efeito é justamente o oposto do intencionado.
Quando
políticos utilizam o dinheiro dos cidadãos para "salvar empregos" ou "criar
empregos", o único resultado é fazer com que capital e recursos escassos
permaneçam imobilizados sustentando ideias econômicas ultrapassadas — ou, no
mínimo, que podem ser mais bem efetuadas por trabalhadores de outros
países.
Colocando
bem francamente, essa abordagem laissez-faire faria com que, inicialmente, a
taxa de desemprego subisse, pois, ao menos temporariamente, haveria uma
mão-de-obra desalojada à procura de novas oportunidades. A duração desse desemprego será inversamente
proporcional à liberdade de empreendimento e investimento concedida pelo
governo.
À medida que o capital liberado por uma indústria falida for realocado
para novas áreas e novas demandas ditadas pelo livre mercado, essa mão-de-obra
desocupada encontrará novas demandas.
Com
o tempo, essa liberdade empreendedorial — como demonstrado empiricamente no
caso da eletricidade, dos automóveis, do computador e da internet — criará
novos e melhores empregos.
Só
que essa perda inicial de empregos não seria nada popular para os políticos, e
eles certamente farão de tudo para impedir esse processo. Paradoxalmente, essa desorientada teimosia
dos políticos faz com que o desemprego se mantenha, ao longo do tempo, em
níveis muito maiores do que poderiam ser caso as inovações tivessem plena
liberdade de ser implantadas.
Para concluir
Como
bem observou Adam Smith há séculos, investimentos e os empregos que eles criam
ocorrem de acordo com a direção de uma economia: se ela está livre para
progredir ou se ela está sendo proibida disso. Os investimentos sempre migram para as economias que olham para o
futuro.
Economias
amarradas pelo governo são tautologicamente um repelente para o capital
produtivo. Enquanto
esses conceitos básicos não forem compreendidos, o próprio crescimento da
oferta de bons empregos será um fenômeno distante.