quarta-feira, 10 ago 2011
Após
mais de três anos patinando, finalmente chegou-se ao consenso de que a economia
americana está novamente em
recessão. Não há
crescimento econômico. O mirrado
crescimento estatístico apresentado nos últimos anos — ninguém ousou dizer que
tal estatística equivalia a uma plena recuperação — foi provavelmente
ilusório.
Uma
coisa é crescimento real; outra, completamente distinta, é estatística governamental. As estatísticas iludiram e desorientaram
todos os ingênuos, mas agora a verdade já está demasiado óbvia para todo
mundo. E não somente isso: os EUA estão
lidando com uma calamidade impossível de ser resolvida, a dívida; o setor
bancário virou um zumbi; o mercado de trabalho está estagnado; todo o sistema
econômico está inundado de recursos precificados erroneamente, em decorrência
dos vários pacotes de socorro e das seguidas impressões de dinheiro; o mercado
imobiliário ainda está uma bagunça e não tem outro caminho a seguir a não ser o
declínio.
As
seguidas rodadas de impressão maciça de dinheiro — os QE1 e QE2 —, os
inacreditáveis esforços do governo para criar "estímulos" por meio de mais
regulamentações e as taxas de juros em nível zero não trouxeram nada de
positivo para a economia, exceto estragos monumentais. Toda uma geração ficará sem oportunidades
econômicas. A livre iniciativa — e, por
conseguinte, toda a prosperidade — está lutando desesperadoramente por sua
própria sobrevivência.
Toda
essa situação calamitosa se deve àquela única medida que Bush, Obama,
republicanos, democratas e todos os magnatas da mídia concordavam ser a coisa
certa a se fazer: corrigir os rumos do mercado, estabilizar e em seguida
estimular a macroeconomia. Uma palavra
resume tudo: fracasso.
Está
surpreso? Não deveria. Os seguidores da Escola Austríaca de economia
estavam certos desde o início. E isso
não se deve a nenhum truque mágico, a nenhuma bola de cristal. Os austríacos sabiam a priori que todos esses
esforços eram perigosos, destrutivos e que não tinham como dar certo. Afinal, todas essas tolices keynesianas já
haviam sido experimentadas várias vezes, e fracassaram em absolutamente todas
essas tentativas. E há motivos
específicos para isso: gastos governamentais consomem e destroem o capital que
havia sido poupado, impossibilitando investimentos produtivos; estatizações e
pacotes de socorro estimulam e amparam as empresas ineficientes; e a mera
criação de dinheiro distorce a realidade e impede a recuperação.
Não
é necessário ser um cartomante ou um astrólogo para ver claramente que todas
essas asneiras não poderiam atingir seus objetivos especificados. Tudo o que esses estratagemas fazem é fornecer
suporte ao estado e a seus amigos, à custa dos cidadãos comuns e pagadores de impostos. Eu realmente gostaria de ser solidário a
todos aqueles que foram enganados pela propaganda do governo — e acreditar que
aqueles que defendem políticas ignaras estão munidos da melhor das intenções
—, mas é muito difícil.
Talvez
era possível ter sido enganado em 1932; porém, realmente,
qualquer observador mais atento já deveria ter ficado mais esperto em 1936. Agora, no entanto, vivenciar rodadas e
rodadas e mais rodadas de estímulos governamentais que nunca dão certo, e ainda
assim continuar defendendo tal política?
Inacreditável. Como Robert Higgs
já demonstrou,
os EUA só saíram da Grande
Depressão quando o governo finalmente parou
de tentar estimular a economia. [Aqui um artigo mostrando
como a recuperação só se deu após um forte corte nos gastos.]
Agora,
no entanto, temos mais uma oportunidade para repetir. Ouçam e aprendam: os seguidores da Escola
Austríaca de economia foram os únicos que anteciparam não apenas o estouro da bolha
imobiliária e a inevitável recessão, mas também o inevitável fracasso dos
pacotes de estímulo. Irei a seguir
fornecer uma pequena amostra do que foi escrito durante os cinco primeiros
meses da crise de 2008.
Comecemos
com Frank Shostak e seu artigo "Is
Deleveraging Bad for the Economy?" (Uma desalavancagem seria ruim para a economia?), de 20 de agosto de
2008:
É algo completamente inútil exortar os bancos a concederem
mais empréstimos se não há poupança real para sustentar tal medida. Da mesma maneira, não faz muito sentido
sugerir que o Banco Central, ao imprimir dinheiro, pode de alguma forma
substituir essa poupança real que não existe. (É também um exercício de futilidade
elevar os gastos do governo para solucionar o problema. Afinal, se um governo gasta mais, ele consome
mais recursos; e isso significa que outras pessoas terão menos recursos à sua
disposição).
Injetar mais dinheiro na economia irá apenas fazer com que
as atividades que genuinamente geram riqueza fiquem sem recursos — pois o
dinheiro injetado foi utilizado por outras pessoas para consumir esses recursos. Isso, por conseguinte, provoca uma redução na
oferta de poupança real, pois há menos recursos para serem utilizados em
investimentos. Consequentemente,
o crescimento futuro da economia ficará solapado.
Passemos
para Scott Kjar e seu artigo "Henry Hazlitt
on the Bailout" (Henry Hazlitt
sobre os pacotes de socorro), de 15 de outubro de 2008:
O argumento de que o governo americano, ao incorrer em
déficits, está de alguma forma injetando capital no mercado é absurdo. O governo está na realidade retirando
dinheiro dos mercados de capital para, em seguida, injetá-lo de novo nos
mercados de capital. Não há nenhuma
fonte adicional de financiamento; há apenas fundos sendo retirados de
atividades mais produtivas e desviados para atividades menos produtivas, com o
governo atuando como o intermediador.
Portanto, quando o Secretário do Tesouro Henry Paulson
afirma ser necessário injetar dinheiro nos mercados de crédito para impedir que
estes fiquem paralisados, ele não se dá ao trabalho de perceber que o dinheiro
que ele injeta nos mercados de crédito está vindo diretamente destes mesmos
mercados de crédito. Ele está
simplesmente rearranjando as cadeiras no convés do Titanic.
Kevin
Duffy foi certeiro em seu artigo "Looting the
Responsible" (Saqueando os
responsáveis), de 8 de outubro de 2008:
O governo não possui recursos próprios, não há duendes
trabalhando horas extras para produzir algo de valor; há apenas propagandistas
propugnando uma economia de Papai Noel.
O governo pode apenas transferir riqueza de um grupo para outro (retendo
para si uma taxa de transação nesse processo).
O atual pacote de socorro (desculpem, de resgate), de US$700 800
bilhões, nada mais é do que uma pilhagem dos responsáveis e produtivos em benefício
dos imprudentes e perdulários. Podemos
chamar isso de darwinismo invertido: a seleção artificial dos menos aptos...
Transferir mais sangue do hospedeiro produtivo para o
parasita não faz com que ambos fiquem saudáveis no longo prazo. Para que a economia do país possa se curar, é
necessário fazer com que capital, credibilidade e autoridade permaneçam com os
produtivos, e não com que sejam desviados para os esbanjadores. A elite dominante, previsivelmente, está
tentando fazer exatamente o oposto.
Considere
o artigo de Christopher Westley "Bailout Blame
Game" (O pacote de socorro e
as acusações mútuas), de 7 de outubro de 2008:
Como
estudioso da Grande Depressão, sei que o Congresso e o Executivo podem fazer
muitos estragos antes do longo prazo chegar — e, com efeito, podem protelar
sua chegada indefinidamente. Será que os
conservadores que apoiaram esse pacote de socorro irão criticar o provável
presidente Obama daqui a dois ou três anos, quando a economia estiver
estagnada, vivenciando uma repetição da década de 1970, graças em grande parte
justamente à tentativa do governo de impedir a ação das forças de mercado ao
longo dessas duas últimas semanas? Isso
parece bem possível. Nossos atuais
problemas são resultantes de uma grande infusão de crédito no passado. Pensar que uma nova infusão de crédito hoje
não terá os mesmo efeitos no futuro é desafiar coisas incômodas e irritantes,
como as leis econômicas e as leis da natureza.
Comentários
pungentes de Frank Shostak em seu artigo "The
Rescue Package Will Delay Recovery" (O pacote de resgate vai atrasar a recuperação), de 29 de setembro
de 2008:
É verdade que o sistema financeiro deve ser resgatado; ele
deve ser salvo daquelas instituições que estão com dívidas impagáveis em seus
livros contábeis. Como ninguém sabe ao
certo quais são estas instituições, a economia fica estagnada pela
incerteza. Tais instituições estão
atualmente drenando capital da economia enquanto ficam à espera de um
resgate. São elas que estão impedindo
que atividades geradoras de riqueza no setor financeiro e em outras partes da
economia expandam a riqueza real....
Os pacotes de resgate do governo não irão salvar a
economia; irão salvar justamente aquelas atividades ineficientes que a economia
não mais pode bancar e que os consumidores não mais querem que continuem
existindo. Os pacotes irão meramente
sustentar atividades econômicas que desperdiçam capital e promovem a
ineficiência, drenando recursos que poderiam gerar crescimento e eficiência
caso fossem liberados para outras atividades econômicas, aquelas que estão
sendo mais demandadas pelos consumidores.
De
Doug French temos "History Is Clear"
(A história é clara), publicado em 13
de novembro de 2008:
É
realmente de se estranhar que o plano do Secretário do Tesouro Henry Paulson
tenha se transmutado em um programa de aquisição federal de ações de bancos,
empresas hipotecárias e pelo menos uma seguradora? ... Mas a história é clara:
imprimir mais moeda fiduciária de curso forçado não irá resolver a crise;
somente um retorno a um sistema monetário mais sólido irá.
"Consumidores não provocam
recessões", de Robert Murphy, atacou o âmago da teoria keynesiana em 11 de
novembro de 2008:
Quando a recessão é resultado de um boom artificial
induzido pelo banco central (como ocorreu na recente bolha imobiliária), o
declínio econômico é um período de reajustamento, que é quando os recursos que
foram mal alocados são redirecionados novamente para usos mais apropriados,
consistentes com as preferências do consumidor e com a realidade tecnológica.
Quando o governo intervém, tentando impedir esse reajustamento, ele acaba
simplesmente mantendo essa distribuição insustentável de recursos escassos.
E
Murphy novamente em "Markets
Need Time, Not More Poison" (Mercados necessitam de tempo, e não de mais venenos), de 6 de
novembro de 2008:
A atual crise é assustadora, mas o é somente porque ninguém
sabe ao certo qual será o próximo novo esquema maluco que o governo irá criar
— algo que ele vem fazendo diariamente.
Recursos foram investidos inadequada e insustentavelmente durante a
expansão artificial da economia americana na primeira metade da década de 2000,
o que gerou a bolha imobiliária.
Consequentemente, a economia necessita de tempo para se curar desse
desarranjo. Não há como fugir desse
fato.
Thorstein
Polleit foi inflexível durante toda a crise, como mostra o seu artigo "Confidence
Is Leaving the Fiat Money System" (A confiança está abandonando o sistema monetário fiduciário),
publicado em 10 de outubro de 2008:
Ao reduzirem artificialmente as taxas básicas de juros
durante o período da expansão do crédito, os bancos centrais criam os ciclos
econômicos, os quais são induzidos justamente pela inflação monetária. Ciclos econômicos geram níveis insustentáveis
de endividamento. Em todos os países
ocidentais, as dívidas em porcentagem do PIB subiram acentuadamente nas últimas
décadas.
Sempre que os mercados financeiros resolvem colocar um fim
nesse desastroso processo — por exemplo, por meio de um declínio na atividade
econômica —, os governos e seus bancos centrais intervêm para fazer tudo o que
podem para manter o sistema monetário fiduciário funcionando: diminuem as taxas
de juros aumentando a oferta monetária e, consequentemente, a expansão do
crédito.
Na atual situação, entretanto, a capacidade dos bancos de
expandir a oferta monetária e o crédito foi sensivelmente diminuída: prejuízos
contábeis e — por causa da declinante confiança no sistema — prejuízos
possivelmente oriundos da não quitação de dívidas irão corroer ainda mais o
capital dos bancos nos meses vindouros.
"Parem os resgates!", de
Lew Rockwell, em 10 setembro de 2008:
Deixem o sistema de preços prevalecer livremente! O governo deve sair completamente do caminho e
deixar o mercado reavaliar o valor dos recursos. Sim, isso significa falências. Sim, isso significa que vários bancos irão quebrar.
Mas tudo isso faz parte do sistema
capitalista. É assim que aconteceria em
uma economia de livre mercado. O que é
lastimável não é o processo de reajustamento; o que é lastimável é que esse
processo tenha se tornado necessário em decorrência das intervenções
anteriores....
É preciso deixar que o mercado seja livre para administrar
todo esse processo de reajuste, aconteça o que acontecer. Garanto que essa solução é melhor do que
imprimir mais de um trilhão de dólares para salvar essas empresas insolventes.
"Should
the Crisis Shake Our Faith in the Market?" (Deveria a crise abalar nossa fé no mercado?),
de Art Carden, em 29 de dezembro de 2008:
O aclamado pastor Adrian Rogers certa vez
disse que você não pode multiplicar a riqueza dividindo-a. Tentar difundir a riqueza por meio de
esquemas de tributação e redistribuição não trará a prosperidade. Irá apenas compartilhar miséria (embora
talvez de maneira mais equânime). A
solução é buscar reformas de mercado que removam a obstrução sobre
empreendedores. Como a teoria e a
evidência sugerem, reformas de mercado não são iniciativas baseadas na fé ou na
ideologia. São a nossa única esperança
para o longo prazo.
Há
centenas, talvez milhares, de artigos e declarações desse tipo publicados desde
2008 até o presente. Eles aparecem
diariamente, e a mensagem é a mesma: o que o governo está fazendo não vai
funcionar. Notícias sobre uma
recuperação econômica iminente não passam de ilusões. Não há estímulos para nada. A única solução é deixar o mercado liquidar o
que está insolvente. O governo tem de
parar de saquear a economia privada. O
Fed tem de parar de imprimir dinheiro.
Sem mais pacotes de socorro para derrotados. Deixem que as taxas de juros subam
livremente. Deixem que os bancos ruins
quebrem. E acima de tudo: parem de
querer lutar contra o mercado! Somente
quando tudo isso for feito é que haverá uma sólida recuperação da economia
americana.
E
assim, aqui estamos nós, após todos esses anos, mais pobres do que éramos, e
sem nenhuma esperança à vista para a economia do mundo real (o mundo digital
parece estar se mantendo bem).
Por
que pessoas como Krugman e asseclas continuam sendo levadas a sério? Mais ainda: como alguém pode levar a sério
aquelas pessoas que alertaram que, caso não tentássemos planos keynesianos, o
mundo acabaria e perderíamos a oportunidade de uma gloriosa recuperação? Não é apenas o The New York Times; toda a mídia financeira internacional continua
encantada com a teoria keynesiana e escravizada por suas tolices.
Vamos
ainda mais além: os austríacos também estavam corretos ao preverem, antes de
2008, que a expansão econômica americana era insustentável. (Ver aqui e aqui). Não há nenhum motivo para júbilo ao provar-se
certo em determinados assuntos. Na
verdade, é patético imaginar ser possível que qualquer observador bem informado
não consiga entender, à luz da experiência e do bom senso, que o governo — uma
entidade inerentemente coerciva e que nada produz — não pode criar
prosperidade, não importa o quão versados em teatro Kabuki sejam os seus funcionários.
No
time vencedor estão aqueles que realmente entendem de economia. No time perdedor estão aqueles que continuam
crendo que veneno pode curar o paciente.
Portanto, vale repetir: a estagnação e a depressão irão continuar até que
permitam que o sistema possa se corrigir sozinho.