Banco Central estabelecer o preço do crédito para empréstimos do curto prazo em nada se diferencia de o Ministério da Economia estipular o preço do pão diariamente.
Quem acredita que BC deve estimular taxa de juros de curto prazo também, por definição, acredita que o Ministério da Economia deve estipular o preço do pão diariamente.
Em 2020, os economistas do Banco Central seguiram seus modelos e jogaram a Selic para 2%. Tal medida não só foi severamente criticada aqui, como também previmos que isto descambaria em alta inflação de preços. À época, houve quem nos ridicularizasse, inclusive recorrendo ao apelo à autoridade. Debochavam: "Haha, acham que sabem mais que os economistas do Banco Central". Sim, sabemos. Seguimos a teoria sólida; eles seguem modelos econométricos.
O arranjo que um BC deveria seguir pragmaticamente é o de
sound money: aquele que não tem grandes e abruptas flutuações na oferta monetária.
Neste arranjo, a base monetária deveria ser a mais estável possível, com o Banco Central proibido de comprar e vender títulos públicos, e servindo exclusivamente de emprestador de última instância, emprestando dinheiro para bancos insolventes via janela de redesconto a juros punitivos. Os juros de mercado, inclusive Selic, flutuariam livremente.
Os agregados monetários variariam livremente de acordo com a oferta de poupança e a demanda por crédito. No entanto, como não há expansão da base monetária, os Ms obviamente não teria como crescer para sempre. E, sempre que um banco expandisse muito o crédito e necessitasse de reservas, ele teria de recorrer à janela de redesconto, com juros punitivos.
Neste arranjo, obviamente, não teria como haver metas de inflação — que são uma forma branda de controle de preços —, mas seria o arranjo mais próximo possível de um sound money (excluindo-se padrão-ouro), com intervenção mínima do estado na moeda.
E seria também o arranjo mais condizente ao de preços genuinamente livres: não há imposição de juros e não há intervenção do Banco Central para "levar o nível de preços ao valor desejado".
O atual arranjo — metas de inflação e controle da taxa básica de juros — nada mais é do que uma forma branda de controle de preços.
P.S.: felizmente, o BC entendeu que estava errado e mudou radicalmente de postura, algo que foi
compreendido e elogiado aqui.