Toda
a mídia está divulgando com grande regozijo os recentes dados sobre o PIB
americano. Âncoras brasileiros chegaram
inclusive a anunciar 'o fim da recessão americana'.
Mas
será que isso procede? Uma simples
analisada nos números revela um cenário bem mais desanimador.
Primeiramente
convém notar que a taxa de crescimento divulgada, de 3,5%, é um taxa
anualizada, e não a taxa trimestral realmente obtida entre julho e
setembro. Isso significa que a
verdadeira taxa de crescimento ocorrida no período de julho a setembro (taxa
trimestral) foi elevada ao expoente quatro (pois há quatro trimestres em um ano)
para que assim tenhamos a taxa que teoricamente ocorreria no período de um ano.
Confuso? Mas é assim que eles fazem. O fato é que a taxa trimestral de crescimento
entre julho e setembro foi de meros 0,86% - se fosse esse o número divulgado,
os ânimos estariam bem mais contidos.
Mas
como o número oficial é 3,5%, então trabalhemos com ele e vejamos o que é fato
e o que é ficção.
Desses
3,5%, nada menos que 1,6 ponto percentual (quase 46% do total) se deve exclusivamente ao
programa Cash For Clunkers. Tal programa, que em uma tradução livre
significa "Dinheiro por Sucata", funciona da seguinte maneira: o sujeito vai a
uma revendedora e troca seu carro por um modelo mais novo, mais econômico e
menos poluidor. Nessa troca, ele ganha
um desconto que varia de 3.500 a 4.500 dólares, proporcional à diferença de
consumo entre o automóvel antigo e o novo.
Quem banca essa diferença? O
governo - isto é, o próprio contribuinte.
E
o que é feito com o carro que foi entregue pelo comprador? O dono da revendedora é obrigado a
inutilizá-lo. Joga-se uma solução de
silicato de sódio no cárter, o motor é acionado, a solução se cristaliza e
trava o motor.
É
realmente algo muito racional.
Destrói-se um bem inteiramente útil e perfeitamente funcional, e a
consequência disso - a compra subsidiada de outro veículo - acaba sendo
computada como crescimento econômico.
Aparentemente é preciso ter um Ph.D. em economia keynesiana para achar
que destruir um bem em perfeitas condições de uso é igual a criar riqueza. É impossível dizer que tal situação configura
geração de riqueza: um carro foi comprado e outro, em perfeito estado, foi
destruído.
Aliás,
nem com muito otimismo poderíamos dizer que houve um empate, uma vez que foi
utilizado dinheiro público nessa transação - isto é, alguém foi obrigado a
subsidiar a transação sem tomar parte dela.
Portanto, tal arranjo configura indubitavelmente uma destruição de
riqueza. Mas a matemática econômica
consegue reverter a realidade e fazer parecer com que tenha havido geração de
riqueza. E tal raciocínio se passa por
ciência econômica hoje em dia, é ensinado nas universidades e aplicado pelo
governo mais poderoso do mundo.
Portanto,
se o seu carro for destruído na rua, sorria e repita para si próprio: "Que
legal, o PIB vai disparar!"
Outro
componente que "ajudou" no crescimento do PIB foi o número de construções de
imóveis. Por que houve um aumento nas
construções? Porque o governo americano,
além de estar subsidiando as hipotecas, está dando também subsídios de 8 mil
dólares para pessoas que forem comprar imóveis e que não tenham comprado nenhum
nos últimos três anos. Detalhe: não importa que a pessoa já tenha um imóvel; se ela estiver há
três anos sem ter comprado um, ela pode se qualificar para esse
assistencialismo.
Como
resultado desse estímulo, houve uma retomada na construção de imóveis. O problema é que o país já está com um
excesso de imóveis construídos (afinal, o termo bolha imobiliária tem algum
significado, certo?). Por que construir
mais, se um grande número deles está desocupado?
Se
não houvesse esses estímulos e se o governo não estivesse envolvido no setor,
os preços dos imóveis estariam caindo, possibilitando às pessoas menos
abastadas adquirirem esses imóveis. Mas,
ao contrário, as construções continuam e os programas do governo se encarregam
de manter os preços dos imóveis artificialmente elevados, impossibilitando os
mais pobres de finalmente adquirirem um imóvel.
Ambas
as medidas - "dinheiro por sucatas" e subsídios para a compra de imóveis -
representam uma incrível malversação de recursos escassos. Mão-de-obra, bens de capital e outros
recursos que poderiam estar sendo utilizados em atividades mais produtivas,
atividades que realmente criassem riqueza genuína, estão sendo desviados para
atividades que nada mais são do que mero consumo de capital. Não se está produzindo nada que tenha sido
genuinamente demandado pelos consumidores, não se está investindo em nada de longo
prazo; está-se apenas desperdiçando capital em atividades de efeito temporário,
atividades cuja única intenção é maquiar o PIB.
Se
não houvesse esses incentivos, as pessoas provavelmente estariam poupando
dinheiro ou utilizando-o para saldar suas dívidas. Mas ao invés disso, elas foram comprar carro
e casa só porque o governo estava dando dinheiro. Dados do Fed mostram que a taxa de poupança das
famílias despencou nesse último trimestre.
Não tinha como ser diferente.
O
terceiro e último fator que estimulou o PIB foram os gastos do governo
americano. No terceiro trimestre, a
gastança cresceu 7,9% em relação ao segundo trimestre, sendo que no segundo
trimestre ela havia crescido 11,4% em relação ao primeiro trimestre.
Com
isso, o déficit e a dívida do país atingiram níveis pornográficos, do tipo que
fariam as aventuras de Cicciolina parecer histórias de convento. Veja os gráficos:
Déficit:

Dívida:

Por
fim, vale lembrar que, durante a Grande Depressão, o período entre 1934 e 1937
foi de crescimento consecutivo do PIB. A
média de crescimento foi de 8,5% ao ano.
Será que alguém crê que a Depressão acabou em 1934 só porque ali começou
uma época de "crescimento"? O
fato é que após quatro anos de PIB crescendo a 8,5% ao ano, o desemprego estava
em 15%. E disparou para 19% em 1938.
Isso
dá uma boa lição sobre a diferença entre crescimento estatístico e crescimento
real.