Um
estudo realizado pela BM&F Bovespa, a bolsa de valores que concentra quase
a totalidade dos negócios com ações de companhias abertas no Brasil, destaca o
custo que uma empresa incorre para se manter como Companhia Aberta, com suas
ações listadas em Bolsa.
O
estudo indica, entre outros, o custo que as empresas têm com publicações -- publicações
de seus balanços, convocações e deliberações das assembléias gerais e
extraordinárias. As empresas são
obrigadas por lei a fazer essas publicações, sendo que essa obrigação exige a
publicação no Diário Oficial da União ou do Estado (ou DF) e em mais algum
jornal de grande circulação na localidade em que está situada a companhia.
A
bolsa calculou que uma empresa de pequeno porte (faturamento de até R$ 50
milhões) gasta com publicações R$ 95.000, uma empresa de médio porte
(faturamento de R$ 50 até R$ 300 milhões) gasta R$ 312.394 e uma empresa de
grande porte (acima de R$ 300 milhões de faturamento) gasta R$ 1.008.143.
O
número de empresas listadas na bolsa aqui no Brasil, onde os custos ainda são
proibitivos para empresas de pequeno porte -- só existindo uma empresa listada
--, totaliza quase 450 empresas, que estão entre médias e grandes. Uma estimativa modesta nos faz concluir que,
anualmente, as empresas gastam R$ 350 milhões com publicações em jornais.
O
número total de pessoas físicas que investem na bolsa mal chega a 500 mil, e se
contabilizarmos outros atores, como administradores de fundos de investimento,
analistas de balanços e demais interessados, podemos chegar a algo como 750 mil
atuantes no mercado de ações.
Como
investidor em ações há mais de 20 anos, adoto a técnica fundamentalista, que
compreende, entre outras atividades, ler os balanços e atas das empresas nas
quais invisto ou estou interessado em investir. Dito isso, posso assegurar
que, depois que as empresas passaram a publicar seu balanço em seus sites na
internet, jamais voltei a ler balanço em jornal. Ninguém que eu conheça lê
balanços em jornais. Outra estimativa, ainda mais
modesta que a primeira, é que, dos 750 mil atuantes do mercado, não chega a 10%
-- isto é, 75 mil -- aqueles que de fato leem os balanços das companhias.
Os
balanços e atas disponibilizados na internet ficam arquivados nos sites das
empresas para sempre, como um banco de dados, de facílimo acesso, além de
estarem disponíveis também no site da própria Bolsa, no formato padrão que as
normas contábeis determinam. São
colocados nos sites (das próprias empresas e da Bolsa) a um custo baixíssimo,
exigindo apenas que os mesmos sejam constantemente atualizados.
Já
os balanços impressos são perecíveis, os jornais duram pouco, exigem espaço
para serem armazenados, acessíveis apenas aos que leem determinado jornal. Ademais, o preço é salgado, como vimos acima.
São,
no mínimo, R$ 350 milhões que deixam de ir para o setor produtivo, que saem do
cofre das empresas para atender a uma exigência estatal ridícula, que não
atende interesse de nenhum investidor ou interessado nas informações de tais
empresas, servindo aos interesses dos jornais.
No
dia 28/07/11, a presidente Dilma vetou uma alteração que desobrigaria empresas
com faturamento inferior a R$ 500 milhões a publicarem seus balanços e atos
societários nos diários oficiais (mas mantinha a obrigação em jornais de grande
circulação). Esse veto foi celebrado por
uma tragicômica Abio (Associação Brasileira das Imprensas Oficiais).
Evidente
que nenhum órgão de imprensa se manifestou a respeito. A imprensa aqui só quer liberdade para falar
bem do governo. Essa exigência legal os
beneficia diretamente. Trata-se de um
lobby que propicia vantagens a uma atividade improdutiva e lesa o setor
produtivo. As empresas têm um custo que
não gera retorno nenhum, e os investidores não sentem a mínima necessidade de
ler um balanço em um jornal.
É
mais um caso de como as regulamentações nada mais são do que tributos -- nesse
caso de fácil mensuração --, e de como elas criam lobbies que lutam para
perpetuar privilégios conquistados à custa de quem produz.