segunda-feira, 25 abr 2011
O
IMB, de forma talentosa, vem abordando a falácia do produto interno bruto
(PIB). Os artigos já publicados evidenciam isso
[1]. São
argumentos irrefutáveis com dados que mostram que esse índice de propaganda
governamental não passa de um número qualquer gerido ao bel-prazer dos
interesses políticos. No presente
artigo, contribuo com mais um argumento para botar abaixo esse índice
falacioso. Antes, porém, recordemos resumidamente:
1. O PIB é uma medida do
produto final da economia e não uma
medida de produto total. Logo, grande
parte da estrutura de produção (e da renda) permanece fora do cômputo, o torna
o PIB uma medida subestimada e ineficaz;
2. O PIB não
separa atividades que efetivamente geram crescimento das que dilapidam capital;
3. O gasto
do governo, além de ser um dilapidador de capital por excelência, tem efeito de
dupla contagem. Toda vez que o governo gasta, ele contribui de forma dupla com
o crescimento econômico. Incrível!;
4. O PIB
mede bem-estar — uma mentira;
5. O PIB é uma
medida que subestima o verdadeiro produto da economia. Logo, as oscilações da
produção e os ciclos econômicos — fruto do intervencionismo — são muito mais
intensos do que se vê através dele.
Frédéric
Bastiat nos ensinou que a economia contém fenômenos que se veem e que não se veem. O PIB é uma medida que se vê, mas o
que ele subestima é aquilo que não se vê. Considerando-se que muitas análises sobre os
ciclos econômicos se embasam no PIB, e dado que ele é uma medida equivocada,
então qualquer análise que considera o PIB um índice inquestionável irá conter equívocos
graves.
É
comum ouvirmos que utilizar o PIB está certo porque, além de se tratar da única
medida que temos, todos os países são analisados e comparados sob uma única
ótica de produto. Entretanto, essa visão
é limitada, pois, se o PIB é uma medida final, então aqueles países que possuem
uma atividade mais intensa nos setores finais de produção da economia terão uma
medida superestimada em relação àqueles países que possuem uma atividade
relativamente mais vigorosa nas etapas intermediárias. Isso fica notório e coerente quando se compara
as oscilações do PIB dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos:
a)
nas economias subdesenvolvidas, o nível de capital per capta é menor do que nos
países desenvolvidos, e elas possuem uma estrutura de produção mais curta e
próxima do consumo final. Como esses
setores mais próximos do consumo final resistem mais à crise, fica parecendo
que a economia desses países não sofre tanto com uma recessão;
b)
nas economias desenvolvidas, o nível de capital per capita é muito maior em
relação aos países subdesenvolvidos, fazendo com que elas possuam uma estrutura
produtiva mais alargada. Como os setores
mais distantes do consumo final sofrem mais com uma recessão, tal fenômeno é
ainda mais intenso do que realmente se divulga, pois as etapas intermediárias
de produção são bastante desconsideradas no cômputo do PIB[2].
Em
suma, temos um mensurador que exalta um crescimento econômico que na realidade
não é tão vigoroso quanto indicado pelos números e que esconde uma recessão que na verdade é muito mais forte
do que os números indicam. Ou seja, trata-se de um engodo, uma falácia.
Conhecendo-se
esse argumento, pode-se até cometer um erro lógico: se o PIB é uma medida
falha, então por que crer na teoria dos ciclos? Na verdade, todos os economistas sabem que,
quando se faz o levantamento de dados históricos (pois todos os dados
econômicos são dados históricos), e se monta uma série, a primeira coisa que se
averigua é se os dados se ajustam a alguma teoria existente. Por isso, o mais correto a ser feito do ponto
de vista da teoria seria deixar o PIB de lado — já que por si só são dados
equivocados — e construir um novo mensurador. Nesse caso, qual seria uma medida de produto
mais acurada e que se encaixasse mais perfeitamente na teoria austríaca dos
ciclos econômicos? A medida de produto
proposta pelo Prof. Mark Skousen (mencionada na nota de número 2) já nos dá
bons indicativos disso e reforça a teoria austríaca de forma empírica.
Assim,
este pequeno, além de reforçar as falácias em torno do PIB, tem a intenção de
estimular os interessados em no assunto a compor uma alternativa de medição de
produto da economia. Murray Rothbard já
deu os primeiros passos enfocando a metodologia do Produto Privado Remanescente
(PPR). Mark Skousen sugere a agregação
das etapas intermediárias de produção.
Porém,
é preciso mais. E não apenas com o
propósito de uma mera correção do PIB, mas sim com o propósito de elaborar um
índice de uso do próprio setor privado para detectar os avanços do
intervencionismo e combatê-lo de forma efetiva.
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Notas
[1] C+I+G = Bobagem
Por que o PIB é uma
ficção
As falácias sobre o
PIB brasileiro (revisado e atualizado)
Sobre o PIB brasileiro,
o baixo desemprego e outras questões econômicas
[2] Ver Mark
Skousen em "The estructure of production", ou em http://www.ssees.ucl.ac.uk/publications/working_papers/wp113.pdf
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTIAT,
F. Ensaios. Rio de Janeiro:
Instituto Liberal, 1989.
HUERTA DE SOTO, J.
Dinero, crédito bancario y ciclos económicos. 4.ed. Madrid: Unión
Editorial, 2009.
PAUL, R. Por que o PIB é uma ficção. Disponível
em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=203>
.
ROQUE,
L. As
falácias sobre o PIB brasileiro (revisado e atualizado)
Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=297>.
SKOUSEN, M. The Structure of Production. New York
University Press, New York, 1990.
____________. Gross Domestic
Expenditures (GDE): the Need for a New National Aggregate Statistic. Disponible en < http://www.ssees.ucl.ac.uk/publications/working_papers/wp113.pdf>
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