quarta-feira, 11 dez 2019
No fim do mês de setembro, a celebridade-mirim e "ativista
climática" Greta Thunberg discursou
na Cúpula da Ação Climática, da ONU, em Nova York. Dentre outras coisas, a
sueca de 16 anos de idade exigiu uma drástica redução de mais de 50% nas
emissões de carbono ao longo dos próximos dez anos.
Greta, para quem ainda não sabe, foi alçada à fama,
em agosto de 2018,
por ter liderado uma "greve" em sua escola contra "as mudanças climáticas". O
dia da greve coincidiu com o lançamento de um livro sobre mudanças climáticas escrito
por sua mãe, uma famosa cantora de ópera.
Sobre o discurso na ONU, ainda não está claro para
quem exatamente ela estava dirigindo suas palavras, muito embora ela tenha entrado com uma queixa na ONU exigindo que cinco países (Argentina, Brasil,
França, Alemanha e Turquia) sejam mais rápidos em adotar profundos cortes em
suas emissões de carbono.
A queixa se baseia em um acordo de 1989, a Convenção
Sobre os Direitos da Criança, por meio do qual Thunberg alega que os
direitos humanos das crianças estão sendo violados pelas emissões de carbono.
No entanto, Thunberg parece ignorar completamente
que, em países pobres e ainda em desenvolvimento, emissões de carbono são muito
mais uma garantia de vida para as crianças do que uma ameaça.
Países
ricos e pobres
Uma coisa é criticar a França e a Alemanha por suas
emissões de carbono. Ambos são países relativamente ricos, nos quais apenas
poucas famílias serão reduzidas a uma pobreza opressiva, de estilo terceiro
mundo, caso seus respectivos governos encareçam a produção de energia — e,
consequentemente, a maioria dos serviços e bens de consumo — ao imporem
regulações que obriguem a redução de carbono.
Mas, mesmo no mundo rico, um corte drástico como
esse exigido por Thunberg iria relegar várias famílias pobres a uma vida de
privações e sacrifícios ainda maiores.
Este é um preço que Thunberg já deixou claro estar
disposta a obrigar os pobres do primeiro mundo a pagarem.
Mas sua inclusão de países como Brasil e Turquia
nesta lista é bizarra, e beira o sadismo — supondo que ela tenha alguma idéia
de como é a vida nestes locais.
Embora Brasil e Turquia contenham localidades cujas
condições se aproximam das do primeiro mundo, ambos os países ainda apresentam uma ampla fatia da população vivendo em um nível de pobreza que
adolescentes européias ricas nem sequer têm a capacidade de imaginar, muito
menos de entender.
Vencendo
a guerra contra a pobreza com os combustíveis fósseis
Mas graças à industrialização e à globalização
econômica, países podem e conseguem sair da pobreza.
Nas últimas décadas, países como Turquia, Malásia,
Brasil, Tailândia e México — outrora países de terceiro mundo com a maioria de
sua população vivendo na pobreza opressiva — se tornaram países de renda
média. Adicionalmente, nestes países, a maioria da população provavelmente irá,
nas próximas décadas, finalmente alcançar aquilo que, no século XX, seria
considerado um padrão de vida de primeiro mundo.
Ao menos isso é o que ocorrerá caso pessoas como
Greta Thunberg não se intrometam.
O desafio aqui surge do fato de que, para um país
pobre ou de renda média, o uso de energia barata — amplamente possibilitada
por combustíveis fósseis — é normalmente o que ajuda o crescimento econômico.
Afinal, se a população de um país quer enriquecer,
ela tem de criar coisas de valor para as populações de outros países. Em se
tratando de países de renda baixa e média, isso normalmente significa fabricar
coisas como veículos, computadores, ou outros tipos de maquinário. Este
certamente tem sido os casos de México, Malásia e Turquia.
Mas para países como estes, a única maneira
econômica de produzir essas coisas é utilizando combustíveis fósseis.
Por isso, não é nenhuma coincidência que um aumento
nas emissões de carbono ande em linha com o crescimento econômico. Vemos esta
relação no Brasil, por exemplo:

Gráfico
1- Brasil: barras azuis, eixo da esquerda, PIB per capita em dólares (corrigido
pela inflação); linha laranja, eixo da direta, emissões de co2 per capita
E na Malásia:

Gráfico
2- Malásia: barras azuis, eixo da esquerda, PIB per capita em dólares
(corrigido pela inflação); linha laranja, eixo da direta, emissões de CO2 per
capita.
E também na Turquia:

Gráfico
3- Turquia: barras azuis, eixo da esquerda, PIB per capita em dólares
(corrigido pela inflação); linha laranja, eixo da direta, emissões de co2 per
capita.
Fonte:
Banco de dados do
Banco Mundial
Não mais vemos essa relação direta entre esses dois
fatores em países ricos. Isso se deve ao fato de que vários países de primeiro
mundo (e pós-soviéticos) fazem um amplo uso de energia nuclear, e também porque
países de alta renda estão maciçamente
abandonando o carvão em prol de combustíveis menos
intensivos em carbono, como o gás natural.
Foi graças a essa industrialização impulsionada
pelos combustíveis fósseis ao longo dos últimos trinta anos que a pobreza
extrema e outros sintomas de subdesenvolvimento econômico foram reduzidos.
Por exemplo, de acordo com o Banco Mundial, a pobreza extrema ao redor
do mundo foi reduzida de 35% para 11% de 1990 a 2013. Os dados também informam
que o acesso
à água limpa aumentou, o analfabetismo caiu e a expectativa
de vida cresceu — e tudo em ritmo mais intenso naquelas áreas de baixa
renda que mais rapidamente se industrializaram nas últimas décadas.
Assim como as emissões de carbono estão correlacionadas
com o crescimento econômico em países de renda média, a mortalidade infantil
tende a cair à medida que as emissões de carbono aumentam.
Vemos isso em todo o mundo desenvolvido, inclusive
na Índia.

Gráfico 4 – Índia: barras cinza, eixo da esquerda,
CO2 per capita em toneladas; linha preta, eixo da direta, taxa de mortalidade
de crianças abaixo de 5 anos, por 1.000
E na China:

Gráfico 5 – China: barras cinza, eixo da esquerda,
CO2 per capita em toneladas; linha preta, eixo da direta, taxa de mortalidade
de crianças abaixo de 5 anos, por 1.000
Fonte: Dados de CO2 per capita são do Banco Mundial.
Dados da mortalidade infantil são
da Unesco
Obviamente, a industrialização
não é o único fator por trás da redução da mortalidade infantil. Mas é
certamente um grande fator. A industrialização sustenta os modernos serviços
de saúde, como hospitais climatizados e bem aparelhados, e aumenta o acesso a água
limpa e a sistemas de saneamento.
Greta Thunberg ignora
tudo isso, e zomba da idéia de crescimento econômico como sendo um "conto
de fadas". Mas para pessoas de países em desenvolvimento, dinheiro e
crescimento econômico — duas coisas que Greta Thunberg pensa serem
desprezíveis — se traduzem em vidas melhores e mais longevas.
Em outras palavras, o
desenvolvimento econômico significa felicidade, dado que, como Ludwig Von Mises
já havia apontado, "As mães se tornam mais felizes quando seus filhos
sobrevivem, e as pessoas são mais felizes quando se livram da tuberculose".
Infelizmente, o jubiloso
desprezo de Thunberg pelos benefícios do crescimento econômico já está se
tornando corriqueiro entre pessoas de países ricos que já usufruem todos os benefícios
e mimos possibilitados pela industrialização criada pelos combustíveis fósseis
no passado. Para elas, mais crescimento econômico significa apenas mais acesso
a artigos de moda e carros luxuosos. Mas para os bilhões de seres humanos que
vivem fora destes lugares, a industrialização permitida por combustíveis fósseis
pode representar a diferença entre vida e morte.
E, ainda assim, Greta
Thunberg considerou humanista atacar países como Brasil e Turquia por não estarem
muito entusiasmados em praticamente abolir este que é o meio mais garantido de
permitir um estilo de vida mais higiênico e mais bem alimentado para o cidadão comum.
Os chineses conhecem os benefícios
do crescimento econômico ainda melhor. Com uma população que estava literalmente morrendo de
fome na década de 1970, a China rapidamente se industrializou após trocar o
comunismo de Mao por um sistema econômico que, embora longe de ser um
capitalismo genuíno, ainda assim é muito mais pró-empreendedorismo
do que o anterior. Mesmo este tímido arranjo capitalista — e sustentado
por combustíveis fósseis — rápida e substantivamente retirou um bilhão de
pessoas da miséria absoluta, as quais até então tinham uma tênue existência ameaçada
regularmente pela fome e por todos os tipos de privação econômica.
Hoje, a China é o maior
emissor mundial de carbono – de longe —, e suas emissões são o dobro das emissões
dos EUA. E enquanto EUA e União Europeia estão reduzindo suas emissões, a China
nem sequer deu qualquer sinalização de que pretende atacar suas emissões antes
de 2030. (E uma sinalização também não significa que algo será feito). Já a
Índia mais do que duplicou suas emissões entre 2000 e 2014, e seu
primeiro-ministro se recusa
a se comprometer a reduzir sua matriz energética a base de carvão.

Gráfico 6- emissões totais de CO2, em
toneladas métricas, de China, Estados Unidos, União Europeia e Índia. Fonte: dados
do Banco Mundial, utilizando população total e emissões de CO2 per capita em
toneladas métricas
E, realmente, quem pode culpá-los? Adolescentes de
primeiro mundo podem acreditar que é correto dar sermão nos trabalhadores das
fábricas chineses sobre a necessidade de reduzir o padrão de vida deles, mas
tais comentários certamente serão ignorados se uma "política climática"
significa destruir o assim chamado "conto de fadas" do crescimento econômico.
(Com efeito, o assunto "mudanças climáticas" nem
sequer é abordado pela mídia chinesa).
Como bem
disse um cidadão chinês na Weibo, que é a principal rede social da China: "Se
a economia não crescer, o que é que nós que vivemos em países em
desenvolvimento iremos comer?"
Mensurando os custos líquidos do aquecimento global
Os defensores de cortes drásticos nas emissões talvez reagirão: "Mesmo que nossas políticas empobreçam as pessoas, elas ficarão muito piores com o aquecimento global!"
Será mesmo?
Na ONU, Greta disparou: "Pessoas estão sofrendo. Pessoas estão morrendo [por causa das mudanças climáticas]".
Ignoremos a total falta de evidência da afirmação, e passemos direto ao ponto: essa afirmação isolada não nos diz nada do que precisamos saber quando vierem as políticas de mudança climática. A pergunta que realmente interessa é esta: se o mundo implantar as drásticas políticas climáticas thunbergianas, essas políticas farão mais mal do que bem?
A resposta pode muito bem não estar a favor dos ativistas climáticos. Afinal, os custos das mudanças climáticas devem ser mensurados em relação aos custos de se impor políticas de prevenção às mudanças climáticas. Se o crescimento econômico for afetado pelas políticas climáticas — de modo que centenas de milhões de pessoas ficarão sem água tratada e sem moradias seguras —, trata-se então de um custo bastante considerável.
Afinal, os benefícios da energia barata — majoritariamente fornecida por combustíveis fósseis – já são aparentes. A expectativa de vida continua aumentando (e é no mundo em desenvolvimento que ela continuará apresentando os maiores ganhos). A mortalidade infantil continua caindo. Pela primeira vez na história, o camponês médio na China não está sendo obrigado a batalhar para levar uma vida de mera subsistência em um campo de arroz. Graças à eletricidade barata, as mulheres em países de renda média não mais têm passar seus dias lavando roupas à mão, sem máquinas de lavar. As crianças não mais bebem água infectada com cólera.
É muito fácil sentar-se perante uma platéia de políticos ricos e perguntar em tom raivoso "como ousam" não implementar as políticas climáticas desejadas por alguém. Mas pode ser um pouco mais difícil dizer a uma trabalhadora de uma fábrica de camisas em Bangladesh que a situação dela já está boa demais, e que está na hora de darmos um basta no crescimento econômico. E pelo próprio bem dela, é claro.
E este, aliás, é exatamente o grande problema destas políticas de mudança climática. Embora o ônus da prova esteja sobre eles, por quererem coagir bilhões de pessoas em seu esquema de planejamento econômico global, os ativistas climáticos jamais apresentaram um argumento minimamente convincente de que o lado ruim do aquecimento global é pior do que o lado ruim de se acabar com as economias ainda em processo de industrialização.
É por isso que os ativistas frequentemente recorrem a alegações totalmente exageradas sobre uma fantasiosa "destruição global". Mediante tal terrorismo, ninguém irá perder muito tempo pensando em opções quando as únicas alternativas apresentadas são "fazer o que queremos" ou "lidar com a total extinção global".
Mas mesmo os ativistas climáticos não conseguem chegar a um acordo sobre se esse armaggedon é acurado. Ano passado, por exemplo, a revista Scientific American publicou um artigo intitulado "Deveríamos "ficar mais frios" em relação ao aquecimento global?", em que o autor John Horgan explora a ideia de que "os contínuos progressos na ciência e em outras áreas irão nos ajudar a superar os problemas ambientais".
Especificamente, Horgan recorre a dois escritores que falam bastante sobre o assunto: Steve Pinker e Will Boisvert. Nenhum dos dois possui quaisquer credenciais libertárias, e nenhum dos dois afirma não existir mudança climática. Ambos pressupõem que a mudança climática é real e que irá gerar dificuldades. Mas ambos, no entanto, também concluem que os desafios impostos pela mudança climática não requerem a imposição de uma ditadura climática global. Segundo eles, as sociedades humanas já são motivadas a fazer os tipos de coisas que serão essenciais para superar eventuais desafios climáticos que porventura surjam.
Ou seja: buscar padrões de vida mais altos por meio de inovações tecnológicas é o segredo para lidar com uma eventual mudança climática.
Mas tais inovações não são estimuladas quando crianças mimadas, com o dedo em riste, dizem a trabalhadores brasileiros que eles devem esquecer qualquer sonho de melhorar seu padrão de vida, ter um bom carro de família, uma moradia repleta de eletrodomésticos modernos e fazer viagens de turismo em seu tempo livre.
Tal postura não tem a mais mínima chance de ser uma estratégia vitoriosa — exceto no mundo povoado exclusivamente por pessoas de alta classe que adoram odiar seu conforto e maldizer seus próprios "privilégios".
Tudo indica que vários brasileiros, chineses e indianos estão dispostos a arriscar o aquecimento global em troca de uma chance de usufruir pelo menos um pequeno pedaço de uma riqueza que estes milionários ativistas climáticos do primeiro mundo já usufruíram por toda a sua vida.