Quando as pessoas descrevem indivíduos ou regimes
particularmente maléficos, por que elas utilizam os termos "nazista" ou "fascista",
mas quase nunca "comunista"? Considerando o inigualável volume de sofrimento
humano causado pelos comunistas, por que o termo "comunista" causa muito menos
repulsa que "nazista"?
Os comunistas mataram 70 milhões de pessoas na China[1],
mais de 20 milhões
de pessoas na União Soviética (e isso sem incluir os aproximadamente 5 milhões de ucranianos[2]),
e exterminaram um terço (33%)
da população do Camboja. No total, os regimes comunistas assassinaram
aproximadamente 110
milhões de pessoas de 1917 a 1987. Adicionalmente, os comunistas
escravizaram a população de nações inteiras, como Rússia, Vietnã, China, Leste
Europeu, Coréia do Norte, Cuba e boa parte da Ásia Central. Eles arruinaram as
vidas de mais de um bilhão de pessoas.
Sendo assim, de novo, por que o comunismo não tem a
mesma reputação horrenda do nazismo?
Motivo
número 1
Falando bem diretamente, há uma ignorância avassaladora
sobre o histórico do comunismo.
Ao passo que tanto a direita quanto a esquerda
desprezam o nazismo e estão sempre ensinando lições de seu odioso legado, a
esquerda jamais odiou o comunismo. E dado que a esquerda domina o ambiente acadêmico,
praticamente ninguém leciona sobre a história maléfica do comunismo.
Motivo
número 2
Os nazistas fizeram o Holocausto. E nada se compara
ao Holocausto em termos maldade pura.
A perseguição e a captura de praticamente todo e
qualquer indivíduo judeu — homens, mulheres, crianças e bebês — no continente
europeu e o subsequente envio de todos eles para campos de concentração e
trabalho forçado, onde em seguida eram assassinados, foi algo sem precedentes e
sem paralelos em termos de perversidade.
Os comunistas mataram muito mais pessoas que os
nazistas, mas jamais se igualaram ao Holocausto em termos de sistematização do
genocídio. A singularidade do Holocausto e a enorme atenção corretamente dada
ao fenômeno ajudaram a garantir ao nazismo uma reputação bem pior que a do
comunismo.
Motivo
número 3
O comunismo se baseia em teorias igualitárias que soam
bonitas e humanistas para os mais ingênuos. O nazismo, não. O nazismo se baseia
explicitamente em teorias atrozes.
Intelectuais — inclusive, é claro, os intelectuais
que escrevem a história — são, no geral, seduzidos por palavras. Eles tendem a
considerar que ações são menos importantes do que palavras e intenções. Por esse
motivo, eles raramente dão às horrendas ações do comunismo a mesma atenção que dão
às horrendas ações do nazismo. Eles raramente atribuem aos comunistas a mesma
responsabilidade que atribuem aos nazistas. Nas raras vezes em que reconhecem
as atrocidades dos comunistas, eles as ignoram dizendo que foram perversões do "verdadeiro
comunismo", o qual teria sido "deturpado".
No entanto, eles (corretamente) consideram que as
atrocidades cometidas pelos nazistas foram as consequências lógicas e inevitáveis
do arcabouço teórico do nazismo, o qual não foi deturpado nem pervertido.
Motivo
número 4
Os alemães assumiram a responsabilidade pelo
nazismo, expuseram completamente suas atrocidades, e tentaram reparar seus erros.
Já os russos nunca fizeram nada similar em relação aos horrores perpetrados por
Lênin e Stálin.
Muito pelo contrário, aliás. Lênin, o pai do
comunismo soviético, ainda é amplamente venerado na Rússia. Quanto a
Stálin, como disse
o especialista em história da Rússia Donald Rayfield, historiador da
Universidade de Londres, "as pessoas ainda negam, assertivamente ou implicitamente,
o holocausto de Stalin".
A China fez ainda menos. O país jamais se expiou
pelo maior homicida e escravizador dentre todos os comunistas, Mao Tsé-Tung. O governo do país sequer reconhece oficialmente os crimes de Mao, que continua
reverenciado na China. Todas as cédulas da moeda chinesa carregam o seu retrato.
Enquanto Rússia e China — e Vietnã, Cuba e Córeia
do Norte — não reconhecerem e admitirem as atrocidades que cometeram sob o
comunismo, os horrores do comunismo continuarão menos conhecidos do que os horrores
cometidos pelo governo alemão sob Hitler.
Motivo
número 5
Os comunistas assassinaram majoritariamente seu próprio
povo. Já os nazistas mataram relativamente poucos alemães.
A "opinião mundial" — esse termo amoral e
praticamente sem significado — considera que assassinatos de membros pertencentes
a um mesmo grupo são bem menos dignos de atenção do que o assassinato de quem
está de fora. É por isso que, por exemplo, negros chacinando milhões de compatriotas
negros na África não obtém praticamente nenhuma atenção da "opinião mundial."
Motivo
número 6
Na visão da esquerda, a última "guerra justa" foi a
Segunda Guerra Mundial, a guerra contra o nazismo alemão e o fascismo japonês.
A esquerda não considera que guerras contra regimes
comunistas sejam "guerras justas". Por exemplo, a guerra americana contra o
comunismo vietnamita é considerada imoral. Já a guerra contra o comunismo
coreano — e seus apoiadores comunistas chineses — é simplesmente ignorada.
Enquanto a esquerda e todas as instituições influenciadas
pela esquerda continuarem se recusando a reconhecer quão atroz, maléfico e
desumano foi o comunismo, continuaremos a viver em um mundo moralmente confuso,
no qual idéias abertamente comunistas são saudadas por intelectuais influentes
e políticos declaradamente simpáticos a este regime são eleitos e respeitados.
Em respeito às vítimas do comunismo, devemos
estudar, aprender e divulgar tudo o que elas sofreram sob este regime. Afinal,
ainda pior do que ser assassinado ou escravizado é um mundo que nem sequer
reconhece que você o foi.
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Leia também:
Socialistas, comunistas e nazistas - por que a diferença de tratamento?
[1] Há
historiadores que dizem que o número total pode ser de 100 milhões ou mais. Somente durante o Grande Salto para Frente, de 1959 a 1961, o
número de mortos varia entre 20 milhões e 75 milhões. No período anterior foi
de 20 milhões. No período posterior, dezenas de milhões a mais.
[2] Normalmente
é dito que o número de ucranianos mortos na fome de 1932-33 foi de cinco
milhões. De acordo
com o historiador Robert Conquest, se acrescentarmos outras catástrofes
ocorridas com camponeses entre 1930 e 1937, incluindo-se aí um enorme número de
deportações de supostos "kulaks", o grande total é elevado para
entorpecentes 14,5 milhões de mortes.
Artigo adaptado de uma apresentação da Prager University