terça-feira, 17 0aio 2022
Em meio a tantas falácias econômicas sendo repetidas
de maneira aparentemente incessante pela mídia e pelos comentaristas, a função
do economista intelectualmente honesto é desfazer essa cortina de fumaça para o
público e reafirmar algumas das mais básicas leis da economia.
Este Instituto já apresentou uma lista extremamente sucinta
das dez leis fundamentais da economia. Vários leitores pediram para que ela
fosse aprofundada. Eis, portanto, as dez leis fundamentais da economia que
sempre devem ser repetidas para jamais serem esquecidas.
1.
Para consumir é necessário antes produzir
A produção necessariamente vem antes do consumo. Para consumir algo, esse algo deve antes existir. É impossível consumir algo
que ainda não foi criado.
Embora essa seja uma constatação lógica e óbvia, ela
é recorrentemente ignorada. A ideia de que o governo deve estimular o consumo da
população para que isso então impulsione a produção e toda a economia é
predominante na mídia e nos meios acadêmicos. Trata-se de uma perfeita inversão
de causa e consequência.
Bens de consumo não simplesmente caem do céu. Bens
de consumo são o resultado final de uma longa cadeia que envolve vários
processos de produção interligados. Essa cadeia é chamada de "estrutura de
produção".
Mesmo a produção de um item aparentemente simples,
como um lápis ou um sanduíche, requer uma
intrincada rede de processos produtivos que levam tempo para ser concluídos e
que envolvem vários países e continentes.
Estimular o consumo, por definição, não pode gerar crescimento
econômico.
2.
O consumo é o objetivo final da produção
As pessoas produzem aquilo que outras pessoas querem
consumir. Não faz sentido econômico produzir algo que ninguém irá consumir.
Por isso, o consumo é o objetivo de toda a atividade
econômica. E a produção é o seu meio.
Defensores de políticas governamentais voltadas a "criar empregos" violam
esta óbvia ideia. Programas voltados para a criação artificial de empregos
transformam a produção no objetivo final, e não o consumo dessa produção. Criar
empregos artificialmente significa estimular a produção de algo que não está
sendo demandado voluntariamente pelos consumidores.
São os consumidores que atribuem valor aos bens de
consumo final. Ao atribuírem valor aos bens de consumo, eles indiretamente
também atribuem valor aos fatores de produção (mão-de-obra e maquinário)
utilizados no processo de produção destes bens de consumo.
São os consumidores, portanto, que determinam o valor da
mão-de-obra, da matéria-prima e de todos os maquinários e equipamentos
utilizados em todos os processos de produção.
Ignorar as reais demandas do consumidor e querer
criar empregos artificiais e processos de produção que não estão em linha com
os desejos do consumidor é uma medida que tenta revogar toda essa realidade.
Tal medida é economicamente destrutiva, pois imobiliza mão-de-obra e recursos
escassos em atividades que não estão sendo demandadas pela população. Isso
significa destruição de capital e de riqueza.
3.
Nada é realmente gratuito; tudo tem custos
Não existe almoço grátis. Receber algo aparentemente
gratuito significa apenas que há outra pessoa pagando por tudo.
Por trás de cada universidade pública,
de serviços de saúde
"gratuitos", de bolsas estudantis e de toda e qualquer forma de
assistencialismo jaz o dinheiro de impostos de pessoas que trabalham e
produzem.
Embora os pagadores de impostos saibam que é o
governo quem confisca parte de sua renda, eles não sabem para quem ou para onde vai esse dinheiro. E embora os recebedores desse dinheiro e dos serviços
custeados por esse dinheiro saibam que é o governo quem está por trás de tudo,
eles não sabem de quem o governo tomou esse dinheiro.
4.
O valor das coisas é subjetivo
A maneira como cada indivíduo atribui valor a um bem
é subjetiva, e varia
de acordo com a situação e com os gostos deste indivíduo. Um mesmo bem físico
possui diferentes valores para diferentes pessoas.
A utilidade de cada bem é subjetiva, individual,
situacional e marginal. Por isso, não pode haver algo como "consumo coletivo".
Mesmo a temperatura de uma sala traz sensações distintas para cada pessoa ali
presente. A mesma partida de futebol possui diferentes valores subjetivos para
espectador, como é facilmente perceptível no momento que um dos times faz um gol.
5.
É a produtividade o que determina os salários
A produção de um indivíduo durante um determinado
período de tempo determina o quanto ele pode ganhar durante esse período de
tempo.
Quanto mais esse indivíduo produzir um bem ou
serviço voluntariamente demandado
pelos consumidores em um determinado intervalo de tempo, maior poderá ser a sua
remuneração.
Em um mercado de trabalho genuinamente livre,
empresas contratarão mão-de-obra adicional sempre que a produtividade marginal
de cada um desses trabalhadores for maior que o seu salário (custo). Em outras
palavras, sempre que um trabalhador adicional for capaz de gerar mais receitas
do que despesas, ele será contratado.
A concorrência entre as empresas irá elevar os
salários até o ponto em que ele se equiparar à produtividade.
O poder dos sindicatos pode alterar a distribuição
dos salários entre os diferentes grupos de trabalhadores, mas não pode elevar o valor total dos salários de todos
esses trabalhadores. Estes dependem inteiramente da produtividade.
E o que aumenta a produtividade da mão-de-obra?
Poupança, investimentos e acumulação de capital. Sem poupança não há
investimento. E sem investimento não há acumulação de capital. Sem acumulação de capital não
há maior produtividade. E sem mais produtividade não
há aumento da renda.
6.
Gastos representam, ao mesmo tempo, renda para uns e custo para outros
Keynesianos dizem que todo gasto gera renda. Eles
apenas se esquecem de que todo gasto é também um custo. O gasto é um custo para
o comprador e uma renda para o vendedor. A renda é igual ao custo.
O mecanismo do multiplicador de renda
keynesiano diz que, quanto mais se gasta, mais se enriquece. Quanto mais
todos gastam, mais ricos todos ficam. Tal lógica obviamente ignora os custos. O
multiplicador fiscal, por definição, implica que os custos aumentam junto com a
renda. Se a renda se multiplica, os custos também se multiplicam. O modelo do
multiplicador keynesiano ignora esse efeito do custo.
Graves erros de
política econômica ocorrem quando as políticas governamentais contabilizam os
gastos públicos apenas pela ótica da renda, ignorando completamente o efeito
dos custos.
Gastos, portanto, são custos. O multiplicador da renda implica
a multiplicação dos custos.
7.
Dinheiro não é riqueza
O valor do dinheiro consiste em seu poder de compra.
O dinheiro serve como um instrumento para se efetuar trocas. Quanto maior o
poder de compra do dinheiro, maior sua capacidade de efetuar trocas.
Mas o dinheiro, por si só, não é riqueza. É apenas
um meio de troca. Riqueza é abundância de bens e
serviços e bem-estar. A riqueza de um indivíduo está, portanto, em sua
capacidade de ter acesso aos bens e serviços que ele deseja
O governo criar mais dinheiro não significa criar
mais riqueza. Uma nação não pode aumentar sua riqueza ao aumentar a quantidade
de dinheiro existente.
Robinson Crusoé não estaria um centavo mais rico
caso encontrasse uma mina de ouro ou uma valise repleta de dinheiro em sua ilha
isolada.
8.
O trabalho, por si só, não cria valor
O trabalho, quando combinado com outros fatores de
produção (matéria-prima, ferramentas e infraestrutura), cria produtos. Mas o
valor desses produtos depende do quanto ele é útil para o consumidor.
A utilidade desse produto depende da valoração
subjetiva feita por cada indivíduo (ver item 4). Por isso, criar empregos
apenas para que haja mais empregos é algo economicamente insensato (ver item
2).
O que realmente importa é a criação de valor, e não
o quão duro um indivíduo trabalha. Para ser útil, um produto ou serviço tem de
gerar benefícios ao consumidor. O valor de um bem ou serviço não está
diretamente ligado ao esforço necessário para produzi-lo.
Um homem pode gastar centenas de horas fazendo
sorvetes de lama ou cavando buracos, mas se ninguém atribuir qualquer serventia
a estes sorvetes de lama ou a estes buracos — e, portanto, não os valorizar o
suficiente para pagar alguma coisa por eles —, tais produtos não terão nenhum
valor, não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.
9.
O lucro é o bônus do empreendedor bem-sucedido
No capitalismo de livre concorrência, o lucro
econômico é o bônus extra que uma empresa ganha por ter sabido alocar corretamente
recursos escassos e ter sabido satisfazer as demandas dos consumidores.
Em uma economia estacionária, na qual não ocorre
nenhuma mudança, não
haveria nem lucros nem prejuízos, e todas as empresas teriam a mesma taxa
de retorno. Já em uma economia dinâmica e crescente, ocorrem mudanças
diariamente nos desejos dos consumidores. E aqueles mais capazes de antecipar
essas mudanças nos desejos dos consumidores e que souberem como direcionar
recursos escassos — mão-de-obra, matéria-prima e bens de capital — para satisfazer
esses consumidores irão colher os lucros econômicos.
Empreendedores capazes de antecipar as demandas
futuras dos consumidores irão auferir as maiores taxas de lucro e irão crescer.
Empreendedores que não tiverem essa capacidade de antecipar os desejos dos
consumidores irão encolher até finalmente serem expulsos do mercado.
10.
Todas as verdadeiras leis econômicas são puramente lógicas
As leis econômicas são aprioristas, o que
significa que elas não precisam ser
previamente verificadas e
nem podem ser empiricamente
falsificadas.
Ninguém pode falsificar tais leis empiricamente
porque elas são verdadeiras em si mesmas. Como tal, as leis fundamentais da
economia não requerem verificação empírica. Referências a fatos empíricos
servem meramente como exemplos ilustrativos; elas não representam uma declaração
de princípios. (Veja
exemplos práticos aqui.)
É possível ignorar e violar as leis fundamentais da
economia, mas não é possível alterá-las.
Sociedades que entenderem e respeitarem essas 10 leis econômicas — sem
tentar revogá-las — irão prosperar.