Primeiro passo: mantenha
no Ministério da Fazenda um indivíduo que não sabe a diferença entre câmbio
fixo e câmbio flutuante, que acha que a "carestia" se combate manipulando
alíquotas de imposto, e que passou toda a sua vida pública defendendo
explicitamente a ideia de que "mais inflação gera mais crescimento".
Segundo passo: dê
a este cidadão o controle total da economia, transformando-o em um genuíno czar.
Terceiro passo:
coloque na presidência do Banco Central um sujeito completamente submisso, inócuo
e apagado, sem nenhum histórico fora da burocracia estatal, sem voz própria e
sem nenhuma presença impositiva. Para garantir
que este cidadão não passará aos mercados a "perigosa impressão" de ser um
sujeito vigoroso e durão no trato dos juros, escolha um indivíduo de aparência
cômica, de rosto rotundo, fala mansa e com uma vultosa protuberância ventral (não, isso não
é um ad hominem; pode parecer
besteira, mas em um ramo que denota extrema autoridade, como o de estar no controle
da moeda do país, a aparência e a postura são fundamentais para se transmitir
confiança. Compare o grandalhão e
charuteiro Paul Volcker, de voz firme e gestos decididos, ao delicado e
vacilante Ben Bernanke, de voz macia e gestos hesitantes, e veja a diferença
entre o respeito que cada um deles impõe.
Ou compare Henrique Meirelles e Gustavo Franco a Alexandre Tombini).
Quarto passo: ordene
a este desmoralizado cidadão que ele seja totalmente submisso às ordens
expedidas pelo bufão que ocupa o Ministério da Fazenda, desta forma
transformando aquele ministro no real presidente do Banco Central, e o
presidente do Banco Central em uma mera marionete que está ali apenas para
passar a impressão de que o Banco Central possui alguma independência.
Quinto passo: com
grande frequência, coloque esta dupla para dizer aos jornais que o governo não
medirá esforços para derrubar os juros bancários, estimular o crédito (leia-se:
o endividamento e o consumismo) e desvalorizar o real em relação ao dólar.
Sexto passo:
feche os portos aumentando as alíquotas de importação de praticamente todos os
produtos estrangeiros: de automóveis a produtos têxteis; de calçados e
brinquedos a artefatos de madeira, de palha e de cortiça; de lâmpadas e sapatos
chineses a pneus, batata, tijolos, vidros e vários tipos de máquinas; de
reatores para lâmpadas a vagões de carga; de triciclos, patinetes, bonecos,
trens elétricos e quebra-cabeças a produtos lácteos (leite integral, leite
parcialmente desnatado e queijo muçarela) e pêssegos. (Sério,
está tudo aqui
e aqui).
Sétimo passo:
diga a todas as grandes empresas do país que elas são obrigadas a produzir
utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil.
Oitavo passo:
peça encarecidamente aos privilegiados fabricantes destes insumos que não se
aproveitem deste monopólio para aumentar seus preços (eles obviamente não
atendem ao seu pedido).
Nono passo: para
ajudar as grandes empresas a adquirir estes agora mais caros insumos, e
simultaneamente para ajudá-las em seus projetos de investimento, libere o BNDES
para lhes emprestar dinheiro público a rodo, tudo a juros subsidiados. E como o BNDES não tem todo esse dinheiro,
peça ao Tesouro para arrecadar mais dinheiro emitindo títulos da dívida,
fazendo com que a dívida bruta do país chegue a R$ 2,823 trilhões em dezembro
de 2012.
Décimo passo: para
comprar estes títulos emitidos pelo Tesouro, o sistema bancário cria dinheiro
do nada, pois opera com reservas fracionárias. Essa inflação monetária, somada a toda a
expansão do crédito já feita para estimular o consumismo (expansão essa que
também é feita por meio da criação de dinheiro pelos bancos), aumenta
enormemente a quantidade de dinheiro na economia, aditivando o aumento
generalizado dos preços.
Décimo primeiro passo:
para conter toda a escalada de preços gerada por estas medidas intervencionistas, pela expansão monetária e pela desvalorização cambial, comece a mexer nas alíquotas
de impostos que incidem sobre vários produtos na esperança de mascarar seu
encarecimento. Peça para as empresas de
energia elétrica reduzirem suas tarifas e ordene à estatal petrolífera que não
suba seus preços (embora ela também seja obrigada a utilizar insumos nacionais
mais caros em suas plataformas).
Décimo segundo passo:
consiga a façanha de fazer com que essa petrolífera estatal, que detém as
melhores jazidas de petróleo do país, produza
menos petróleo do que no ano anterior.
E que ela perca 40%
do seu valor em três anos.
Décimo terceiro passo:
faça cara de paisagem (mas com muito laquê) para o fato de que, em apenas 2
anos de governo, o índice de preços oficial — cuja metodologia é pra lá de
branda — já acumulou um aumento de 14%.
(A título de comparação, a economia suíça precisa de 14 anos para
acumular este mesmo aumento inflacionário).
Após tudo isso, diga que tudo de ruim é culpa da crise europeia
(ou, quando possível, daquele cidadão que saiu da presidência no final de 2002),
e que tudo de bom que continua funcionando é mérito exclusivamente seu. Desfrute de mais de 80% de aprovação de um
povo incapaz de estabelecer uma relação de causa e efeito.