Querer
que a liberdade seja o princípio organizador de uma sociedade e de todo um modo
de vida é um objetivo simples, porém trabalhoso. Aquele que quer esta liberdade deve
continuamente batalhar pela liberdade de expor suas ideias, de expressar e
discutir suas visões, de se organizar livremente em associações ou grupos não
coercitivos, de arranjar sua vida econômica e social da maneira que mais lhe
aprouver (desde que seja pacífica) e, principalmente, de poder escolher a forma
de governo sob a qual quer viver. Para o
homem, desfrutar a liberdade significa trabalhar com o que gosta e com o que lhe
dá prazer, encontrar emprego ou fornecer emprego como achar mais adequado,
comprar e vender livremente seus bens e serviços, e poder manter suas
remunerações. Ser livre é estar
desimpedido e desobstruído para buscar seus objetivos econômicos.
A
ideologia e o programa político que defende a liberdade individual é o
liberalismo. Pelo menos foi assim que
tal programa foi rotulado durante a maior parte da história, e foi assim que
Ludwig von Mises também o rotulou em suas prodigiosas obras. O liberalismo foi a ideologia dominante entre
a Revolução Gloriosa (1688) e a Lei de Reforma de 1867 (que duplicava o número
do eleitorado), além de ter sido uma vasta tendência política e social por todo
o mundo ocidental. Suas demandas
primordiais eram a tolerância e a liberdade religiosa, e o constitucionalismo e
os direitos individuais — os quais, por sua vez, forneceram grande ímpeto para
a teoria e a prática da liberdade econômica.
Os fisiocratas franceses e os economistas liberais ingleses erigiram o
postulado econômico do laissez-faire ao defenderem a propriedade privada
irrestrita dos meios de produção e os mercados livres e desimpedidos, não
sujeitos a nenhuma intervenção política.
Para
Ludwig von Mises, a ordem social baseada na propriedade privada, comumente
chamada de capitalismo, era a única ordem econômica e social exequível e
duradoura. Foi ela quem deu origem à
civilização moderna e a todas as conveniências econômicas já criadas.
Há apenas a alternativa entre propriedade comunal e
propriedade privada dos meios de produção.
São inúteis todas as formas alternativas de organização social, as quais
na prática se mostram auto-anuladoras.
Se também se conclui que o socialismo é inviável, não se pode então
deixar de reconhecer que o capitalismo é o único sistema possível de
organização social, baseada na divisão do trabalho. Esse resultado, vindo de investigação
teórica, não será surpresa ao historiador ou ao filósofo da história. Se o capitalismo tem obtido êxito em manter
sua existência apesar da inimizade que sempre encontrou quer dos governos quer
das massas, se o capitalismo ainda não foi obrigado a abrir caminho para outras
formas de cooperação social, as quais têm gozado, em grau muito maior, das
simpatias dos teóricos e de homens de negócios de conhecimento apenas prático,
isto deve ser atribuído, tão somente, ao fato de que nenhum outro sistema de
organização social é factível. (Ludwig von Mises. Liberalismo
— Segundo a tradição clássica)
Não
importa o tanto que conheçamos sobre o funcionamento do capitalismo — se muito
ou muito pouco —, o fato é que é impossível não admirar suas qualidades
resilientes e duradouras. Professores e escritores
o fustigam por causar exploração e desigualdades, por gerar monopólios e
oligopólios, por contribuir para o desemprego e para o desperdício por sua
suposta falta de mecanismos que assegurem o pleno emprego. E, ainda assim, não obstante todas essas
acusações falaciosas e paradoxais (quem produz exploração, desigualdade,
monopólios e oligopólios, desemprego e desperdício são justamente os sistemas
intervencionistas e socialistas), o capitalismo consegue resistir e se manter
indiferente a estas críticas.
Moralistas
e intelectuais de araque o reprovam em termos morais e culturais, e ainda assim
o capitalismo sobrevive, não obstante as censuras e condenações. Políticos falam sobre as urgentes
necessidades de se dar mais poder ao setor público, e ainda assim o capitalismo
perdura não obstante toda a extorsão e confisco de sua riqueza em prol do setor
parasitário. As características mais
básicas do capitalismo seguem intactas mesmo nos mais lúgubres e inóspitos
cantos do mundo não obstante todas as leis criadas por políticos autoritários contra
o capitalismo e toda a força bruta que os governos utilizam contra os
cidadãos. Seria porque a propriedade
privada e a ordem social baseada nela são elementos profundamente arraigados na
própria natureza do ser humano?
É
difícil encontrar uma ordem capitalista genuinamente livre e desobstruída em
algum lugar do mundo. Governos, que nada
mais são do que aparatos políticos de coerção e compulsão, interferem em
praticamente todas as manifestações da vida econômica. Governos impõem tributos confiscatórios sobre
a produção e a distribuição, e ainda assim empreendedores e capitalistas
conseguem produzir vários bens e ofertar uma ampla gama de serviços com as
migalhas que os governos lhes permitem manter. Governos regulam e restringem a
produção, e ainda assim a ordem social baseada na propriedade privada, embora
algemada e mutilada, consegue perseverar e produzir bens e serviços.
Governos
estipulam salários e interferem continuamente no sistema de preços, e ainda assim a
ordem de mercado consegue continuar respirando na economia subterrânea e nas
atividades "informais". Governos
inflacionam a moeda, destroem seu poder de compra, expandem o crédito de
maneira populista e impõem leis de curso forçado à sua moeda, e ainda assim a
produção capitalista consegue sobreviver em meio ao caos da destruição
monetária. Governos concedem privilégios
econômicos e imunidades legais para sindicatos e permitem que eles perturbem a
produção e impeçam empreendedores de utilizar livremente seus meios de
produção, e ainda assim, no final, a produção econômica consegue ser retomada,
mesmo que a mão-de-obra e a divisão do trabalho parem de funcionar
eficientemente. Governos praticam
guerras e causam destruição em massa, e ainda assim, quando a carnificina acaba
e nada mais existe para o governo planejar, racionar e distribuir à força,
ainda há resquícios de capitalismo permitindo a sobrevivência dos vivos. E, no final, é o capitalismo quem produzirá
os milagres da reconstrução e as maravilhas da recuperação.
Na
maior parte do mundo, o capitalismo é o sistema de última instância. Em economias na qual a liberdade econômica é
severamente tolhida pelo governo, é ao capitalismo que seus cidadãos recorrem
quando estão na pior e finalmente percebem que sua situação tem de melhorar
urgentemente por uma questão de vida ou morte.
É ao capitalismo que indivíduos recorrem quando simplesmente querem
viver com mais dignidade e mais liberdade.
Quando
a ordem socialista culminar em pobreza e fome, quando absolutamente todas as
medidas de coerção política fracassarem abismalmente, quando a mentalidade dos
políticos se mostrar incapaz de inventar alguma outra medida autoritária, quando
as autoridades policiais finalmente se exaurirem de regular a produção
econômica e os tribunais estiverem completamente paralisados por uma infinidade
de processos por "crimes contra a economia", a era da ordem de mercado baseada
na propriedade privada finalmente terá chegado.
Ela não necessita de nenhum plano político, de nenhuma legislação
econômica e nem de nenhuma autoridade reguladora. Para surgir e prosperar, ela necessita apenas
de liberdade.
Leitura indispensável:
As
diferenças essenciais entre uma genuína economia de livre mercado e uma
economia intervencionista